CAPÍTULO 40

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Gabriel estava sentado em sua mesa quando ela chegou. Ela estava preocupada, ele se sentiu bem com isso, mas não demonstrou nada. Ela se julgava uma espécie de deusa, era bom pra ela ver que era só uma filha da puta sádica de vez em quando.
"Eu cometi um erro. Eu preciso que você realize alguns exames. Agora. Eu acho que acabei refém da idiota." Ela disse, entrando pela cabana e indo para o laboratório.
"Que tipo de exames?" Ele perguntou já separando um kit de coleta.
"Reprodutivos, imbecil. Acho que as drogas tiveram um papel que eu não calculei. Livie já deveria estar grávida." Ela disse. Vê-la nervosa não tinha preço.
"Ela está usando contraceptivos e Pride usa camisinha, ou não?" Pride não era tão imbecil a ponto de não usar.
Ela bufou.
"Pride faz o que eu quiser, sempre foi assim. Mas ela não está grávida. E eu estou farta dessa vida. Ela inclusive tomou o controle da maior parte do dia." Gabriel segurou um sorriso.
"A mente é dela. Se até Rebbeca conseguia o controle na maior parte do tempo, imagina Livie?" Gabriel disse ela rosnou.
"Cale a boca." Ela se sentou.
"Eu estou muito curioso, então, me diga como tiraria o filhote daqui? Pois demoraria o quê? Dezesseis anos para ele ou ela ser considerado independente e poder fazer o que quisesse. Eu sei que o tempo é relativo pra você, mas dezesseis anos é um bom tempo." Gabriel disse.
"Quando os trigêmeos começaram a se meter nos assuntos dos outros?" Ela perguntou e sorriu.
"Mas eles são gênios. Um bebê de Livie não seria, e você mesmo disse que quanto mais novo mais difícil de implantar a sua vontade. Você apenas ficaria encubada até o desenvolvimento mental ideal. Eu não vejo mérito nenhum nesse plano."
Ela sorriu. Gabriel sabia lidar com ela, era só usar observações inteligentes, contradizê-la que ela falava tudo. Não resistia a se mostrar mais esperta.
"Não vê, por que é um idiota. Dezesseis anos não é nada para mim, nem para eles. E eu conto que poderia agir bem antes disso." Gabriel acenou.
Ela queria mudar o modo dos Novas espécies de pensar, de agir. Ela queria implantar ambição e desejo de poder neles, ela queria subverter toda a filosofia dos Novas Espécies e os transformar de respeitosos, sinceros, empáticos e altruístas para esgoístas, cruéis e tirânicos. Até que quisessem dominar o mundo e escravizar os humanos. Parecia um plano megalomaníaco, mas a história já tinha mostrado que não era muito difícil transformar a sociedade. E os Novas Espécies eram poucos, o plano dela era diferente dos outros por que ela o implantaria de dentro. Gabriel achava uma pena deturpar a essência deles, mas ele já tinha passado do ponto de se importar com qualquer coisa que fosse.
Ele colheu um pouco de sangue e começou a testar. Ela começou a andar de um lado a outro, era uma coisa bonita de se ver.
Ela não tinha muito tempo e estava nervosa.
"Achei uma coisinha interessante." Ele disse e mostrou a ela o líquido no tubo de ensaio.
"Que porra é essa?" Ela pegou o tubo e o balançou. Quanto mais balançava, mais verde o líquido ficava. Gabriel esperou.
"Faça de novo." Ela estendeu o braço. Ela não estava em seu normal e Gabriel se perguntou o por quê disso. Livie estaria ganhando terreno? Não do tempo, mas Samantha estava desestabilizada.
Ele repetiu todo o processo, ela começou a piscar. O sono já vinha.
O líquido ficou verde, ele a encarou.
"Como?" Ela puxou os cabelos. Lindos cabelos lisos e negros, brilhantes e compridos. Gabriel adorava isso em Livie.
"Eu teria de olhar a combinação que Florest criou para ela. Mas se não a impedir de lhe ministrarem o composto, ela nunca vai engravidar."
"Florest!" Ela disse a voz pingando desdém.
"É, mamãe, Florest. Ele é bom, muito bom. E talvez Honest pode ter ajudado. Honest e Florest estão a anos luz dos cientistas que você conviveu."
Ela torceu o rosto.
"Faça algo para anular isso." Ela disse e saiu. Gabriel suspirou. Quem diria que ele ainda teria pequenas alegrias?
Brass saiu do quarto e se sentou.
"Então, Florest está a impedindo de engravidar?" Ele disse com orgulho na voz.
"É, ele é bom." Brass acenou.
"Eu estou surpreso, não esperava que você ajudasse." Brass disse.
"Eu não ligo mais para nada, Brass. Não tenho partido, por mim Samantha pode morrer ou Livie, tanto faz. Mas se ela desconfiar e perguntar, vou contar. E ela pode fazer muita coisa." Brass franziu suas sobrancelhas.
"Acha que pode alcançar Sophia, ou os meus filhotes?" Ele perguntou.
Gabriel pensou um pouco antes de responder.
"Não sei. Livie tem um poder praticamente ilimitado, mas ela não faz nada sem conexão. É por isso que não pode atingir você ou o desgraçado do Simple, suas mentes são meio que blindadas. Assim como a minha, que não pode ser afetada. Seus filhotes devem ter herdado esse traço, mas Sophia? Eu a deixaria bem longe se fosse você."
"Bom, não adianta nada ficar de fora agora, seria apenas uma questão de tempo se ela tivesse êxito." Ele disse, Gabriel acenou.
Exatamente. Mudar o pensamento dos Novas Espécies acarretaria morte. A morte trás revolta, a morte muitas vezes mata também os que ficam. Ela já tinha matado Ann, poderiam haver muitas mais.
"Então, o que podemos usar para fazer seu irmão aceitar?" Brass cruzou os braços.
Gabriel sentiu pena deles. Michael era uma cobra. E ele ficou preso todos esses anos, ele estava além de ser alcançado. Ele odiava os Novas Espécies mais do que qualquer coisa.
"Não há nada, Brass. Não fale com ele, nem mesmo passe perto dele. Michael ama estar acima e não se importa de chupar as bolas de quem quer que seja para isso. Samantha teve um caso com nosso pai, nossa mãe morreu de forma totalmente 'estranha', se você me entende e ele lamberia o chão que ela pisa se isso o fizesse estar por cima, estar entre os que tomam as decisões, poder fazer suas experiências, deixar um ou outro Nova Espécie louco, essas coisas. Não há limite para o que ele pode fazer se puder utilizar suas substâncias. Ele causaria dor, muita dor, muita loucura. E faria isso tomando uma cerveja bem gelada, olhando o pôr do sol. Não se aproxime dele."
"Mas precisamos dele." Brass começou a andar de um lado para outro.
"Sim, mas ele perdeu tudo. O que oferecer a alguém que não se importa com nada?" Gabriel perguntou, Brass parou de andar.
Gabriel sempre se impressionava com os Novas Espécies, e Brass era um dos mais formidáveis. Ele gerou John, que na opinião de Gabriel, era o melhor que os Novas Espécies podiam oferecer ao mundo. John era incomum, incrível e quase ninguém percebia. Ele era humilde e sábio. Gabriel esperava o dia em que John e Simple batessem de frente, isso sim implodiria aquele lugar, seria a batalha das mentes mais poderosas dali. E ele sentia que isso ia acontecer.
Enquanto sua 'mãe' queria nascer de novo, num corpo perfeito e herdar um dom psíquico quase invencível, John e Simple não precisaram de nada disso, eles apenas tiveram um empurrãozinho de Gabriel. Ele sorriu.
Brass olhava pelo vidro da janela.
"Por que essa janela dá para a minha casa." Ele perguntou.
"Por que eu amo John. Sempre amei, você sabe disso." Ele disse.
"E como pode amá-lo e ter ajudado a tentarem destruir esse lugar mais de uma vez? Que tipo de amor é esse?"
"John nunca esteve em perigo." Gabriel disse, ele acenou.
"Já desejou que eu morresse?" Brass perguntou. Gabriel negou.
"Não sou capaz de fazê-lo sofrer. Nem seria capaz de mentir para ele. Ele me odiaria se eu fosse responsável por sua morte. Se você morrer não seria por minhas mãos, nem você, nem Sophia ou os pestinhas." Brass acenou.
Gabriel se calou. Brass era assim. Ele sabia manipular, ele sabia como tirar de alguém o que quisesse.
"Eu seria capaz de fazê-lo sofrer se isso fosse para protegê-lo." Brass disse.
Gabriel se levantou. Livie escolheu bem, escolheu muito bem.
"Michael tem uma filha. A mãe dela se casou de novo, ela nem imagina que Michael esteja vivo. Eu tenho o nome delas, do marido. Não tenho o endereço, mas isso não deve ser difícil para você." Gabriel desceu o último degrau em direção a desonra. Não sobrara nada. Ele traiu seu irmão e agora não importava o que fizesse, nada mais poderia redimí-lo.
"Eu agradeço." Brass disse.
"O amor não deixa espaço para mais nada, Brass." Ele acenou concordando e saiu.
Gabriel olhou o sol. Ele nunca foi muito fã do sol, ele gostava de conforto. Mas agora daria tudo para sair e tomar os raios do sol no rosto.

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