11 Estarei aqui para te segurar

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Voltei!!!
 
Bom saber que vocês continuam interessados na história, logo começam as revelações.
 
Divirtam-se!!
 
 
 

Lena começou a despertar sentindo alguma coisa mexer em seus cabelos. Era um toque leve, lento e que a fazia sentir algo bom dentro de si. A sua volta, tudo estava silencioso e estranhamente calmo. Sentia uma calma que há muito tempo não tinha, era bom finalmente sentir isso de novo.
 
Com as pálpebras pesadas, vagarosamente começou abrir os olhos. Sua vista demorou alguns segundos para focar em alguma coisa e assim que focou, viu uma loira sentada perto de si na cama e totalmente distraída. Gostava muito do que via e se sentia bem por acordar e ser Kara ali do seu lado.
 
Ainda calada, deixou seus olhos admirarem o que estava a sua frente, ou melhor, quem estava a sua frente. Muito provavelmente, estava olhando para Kara do mesmo jeito que Kara a olhou no dia em que se conheceram e queria continuar a fitando assim.
 
— Eu morri e fui para o céu? — sua voz saiu rouca e um tanto baixa, mas foi o suficiente para um par de olhos azuis a encarar.
 
— Você acordou! — sorriu abertamente com um misto de alegria e alívio. — Você não morreu. Você não se atreveria fazer isso e me deixar, não é? — entrou na brincadeira. — Logo agora que te conheci, não posso te perder.
 
O sorriso de Kara atingiu Lena em cheio. Só havia uma outra pessoa que demonstrava aquela felicidade quando a via, Kara estava se tornando a segunda.
 
— Se não morri, porque estou vendo um anjo na minha frente?
 
— Seu humor é péssimo, sabia? — se inclinou um pouco para deixar um singelo beijo na testa da morena, mas não se afastou muito depois, o que fez seus rosto ficarem próximos. — Como se sente?
 
— Sinto a cabeça pesada, só isso — levou uma mão até o rosto da loira começando acariciá-lo. — E você como está?
 
— Aliviada por você está bem. Acho que meu coração voltou a bater normalmente agora — ficou alguns segundos apenas observando o rosto de Lena antes de dizer algo. — Se lembra do que aconteceu?
 
— Lembro de você gritar meu nome, ouvir um disparo, você me jogar no chão — pensou um pouco. Sua mente estava um pouco embaralhada, mas tinha certeza que sabia o que havia acontecido —, depois você me ajudou a levantar e tudo ficou escuro.
 
— Você desmaiou bem nos meus braços — se lembrou da sensação de desespero que sentiu na hora que aquilo aconteceu. — Eu quase surtei achando que você tinha sido atingida, mas ainda bem cheguei até você a tempo. Quando chegamos aqui no hospital, o médico disse que você teve uma síncope. Seus últimos dias tem sido tensos e o estresse te levou a isso.
 
Estando tão perto de Lena, Kara sentia um frio na espinha e seu coração disparar de um jeito incomum. Havia alguma coisa em Lena que fazia todo seu ser se remexer de uma forma boa e assustadora. Cada vez que colocava seus olhos sobre ela, sentia que um pedacinho seu se juntava a outro que estava quebrado. Nem conseguia compreender como isso podia acontecer em tão pouco tempo.
 
O único problema é que isso só complicava a sua situação. Estava infiltrada numa operação secreta e corria sérios riscos. Sem contar que, de certa forma, estava mentindo para Lena. Porém, como podia controlar o tanto que queria manter Lena segura e perto de si? Como controlaria a vontade que crescia desde o primeiro momento que a viu de cuidá-la?
 
Certas coisas não davam para serem controladas.
 
— Você foi atingida? — perguntou preocupada. — Está machucada?
 
— Não — sacudiu a cabeça negando. — Só os pontos no meu braço que estouraram, mas isso já foi resolvido. Não precisa se preocupar.
 
— Quem tentou me matar dessa vez? — a pergunta foi mais para si mesma do que para Kara.
 
— Ainda não sabemos. Lexie até tentou ir atrás do atirador, mas ele fugiu. A polícia disse que vai investigar — quando viu a expressão de Lena se endurecer por causa do assunto, deixou um beijo em seu olho esquerdo e logo viu sua expressão suavizar. — Sei que é difícil, mas não pense nisso agora, tá bom? Eu ainda vou achar quem está tentando fazer isso com você e a pessoa vai pagar muito caro por estar fazendo você sofrer.
 
Kara só se deu conta do que falou quando Lena a olhou sem entender.
 
— Como vai fazer isso?
 
— Não costumo dizer, mas, quando não estou com você, eu estou me fantasiando e saindo para bater em bandidos durante a noite — usou seu melhor tom brincalhão e torceu para Lena cair naquele papo furado.
 
E ela caiu.
 
— Então você é uma heroína? — arqueou as sobrancelhas.
 
— Eu tenho uma vida dupla — sussurrou. — Mas não vou te contar minha identidade secreta. Não agora. Tenho que te manter segura, e se os caras malvados souberem disso, podem querer fazer mal a você. Eu não me perdoaria se algo de ruim te acontecesse.
 
Embora tenha falado em um de brincadeira, Kara percebeu que havia acabado de contar a verdade para Lena, apenas usou uma analogia para isso.
 
— Boba — sorriu tirando a mão do rosto da guarda-costas. — Quanto tempo eu apaguei?
 
— Duas horas no máximo, mas foi por causa de remédios.
 
— E quando posso ir embora?
 
— O médico havia dito que quando você acordasse e se tivesse se sentindo bem, mas me fez prometer que eu faria você repousar o resto do dia. Sem contar que a senhorita já não deveria estar forçando esse pé — sorriu ao ver Lena revirar os olhos. — Eu vou falar com ele e assim te levo para casa.
 
— Fica mais um pouco antes de ir falar com o médico — pediu sem graça. — É bom ter alguém ao meu lado em momentos assim e quero aproveitar um pouco mais disso, pois eu... eu nunca tive. Depois vou passar o resto do dia sem você para fazer eu me sentir bem.
 
— Eu posso tentar pular a janela do seu quarto e ficar com você — sugeriu arrancando um gargalhada de Lena —, mas acho que seria estranho uma mulher adulta fazer isso.
 
— Seria mesmo.
 
Voltando a fechar os olhos, Lena aproveitava o cafuné que Kara continuava fazendo em seus cabelos. Se encontrasse uma lâmpada mágica e o gênio a concedesse três desejos, um deles seria ter Kara todos dias ao seu lado a tratando daquele jeito.
 
— Fica comigo — Kara pediu falando baixinho próximo ao ouvido de Lena. — Vou adorar ter sua companhia só pra mim de novo.
 
— Vai? — voltou abrir os olhos gostando do que ouviu.
 
— Vou. Você também faz eu me sentir bem — revelou surpreendo a si mesma. — E eu gostaria de ficar o resto do dia ao seu lado, assim eu garanto que você vai repousar, vai se alimentar e que ninguém vai te machucar. O que acha?
 
— Acho maravilhoso ter você por perto.
 
— Então vou falar com o médico, e vamos embora — sorriu animada por Lena ter aceitado mais uma vez o seu convite.
 
Naqueles minutos de conversa, as duas ficaram tão concentradas uma na outra que nem notaram que havia alguém a espreita.
 
Com a mão na maçaneta e com a porta minimamente aberta, Alex havia escutado boa parte da conversa. Além disso, de onde estava, pode ter o vislumbre de como sua irmã estava próxima de Lena — tinha até achado que iriam se beijar a qualquer momento — e como a tratava com carinho. Uns anos atrás, tinha visto Kara agir de maneira parecida com outra pessoa. Uma pessoa que significou muito em sua vida, por sinal. Mas com Lena, ela agia de forma muito mais intensa e muito mais passional.
 
Quando a confusão em frente a Luthor-Corp aconteceu e o atirador sumiu de suas vistas, Alex foi correndo até a irmã para saber se estava tudo bem e acabou presenciando Lena desmaiar. O pânico que viu no rosto de Kara quando segurou a morena desfalecida em seus braços, só havia visto uma outra vez três anos atrás. Presenciar aquela cena a fez entender tudo.
 
Aquela situação era delicada demais. Era tão delicada que já nem sabia mais como deveria agir. Sua mente a dizia para agir como o protocolo mandava, mas seu coração falava para não fazer isso com sua irmãzinha, pois iria magoá-la.
 
Não era para as coisas seguirem o rumo que estavam tomando. A operação era objetiva e podia ser certeira se fizessem tudo conforme o combinado. Agora, esse caminho estava criando ramificações, e Kara seguia por um que podia por tudo em perder.
 
Pensando nisso, só a fazia perceber mais que tinha que tomar uma decisão. Qualquer uma que tomasse seria complicada, só esperava tomar a decisão menos complicada — se é que isso era possível dadas as circunstâncias.
 
— Com licença — Alex abriu a porta sem muita cerimônia. — Kara, podemos conversar rapidinho?
 
— Claro — respondeu sem tirar os olhos de Lena. — Já volto — se afastando, saiu do quarto fechando a porta atrás de si. — O que foi? — franziu o cenho quando viu Alex desligar a sua escuta.
 
— Essa conversa é só entre nós duas, e eu sei que você continua desligando a sua quando está sozinha com ela — disse diminuindo o tom de voz. — O que você vê nela? — perguntou sem rodeios.
 
— Como assim? — se fingiu de desentendida.
 
— Só me responde: O que ela tem de tão especial que faz você agir do jeito que vem agindo? — deu uma olhada em volta para garantir que não havia ninguém próximo a elas no corredor.
 
Kara não respondeu imediatamente, estava receosa com o que podia ouvir, mas despois de um fraco suspiro, olhou a irmã nos e disse:
 
— Ela faz eu me sentir viva de novo.
 
Para Alex, aquela resposta era muito... reveladora, pode se dizer assim.
 
— Você não acha que está se iludindo? Que está idealizando uma Lena que não existe? Ela pode ser como os outros — sussurrou a última frase.
 
— Se fosse, não fariam o que estão tentando fazer — bufou. — Eu não quero ouvir sermão. Vou procurar  o médico e levá-la embora.
 
— Espera! — impediu a irmã de se afastar. — Eu deveria contar sobre a sua conduta. Isso está muito errado. Se em menos de uma semana você está assim, tenho até medo de imaginar como não estará em quinze, vinte dias.
 
— Já acabou? — perguntou irritada.
 
— Eu não quero ver você sofrer, Kara, e nem quero que você corra perigo. Se pra você é importante mantê-la bem, eu vou te ajudar. Sei que não vou conseguir te afastar dela. Com o que acabei de ver e o que você me respondeu, só deixa claro que você não vai se afastar nem se for obrigada — fez uma pausa. Esperava que essa fosse a decisão menos pior. — Como sua parceira, eu deveria falar sobre o que está acontecendo. Seu comportamento é inadmissível. Está agindo emocionalmente e se envolvendo demais com quem não devia. Mas como sua irmã, eu vou confiar no seu julgamento em relação a ela.
 
— Porque isso agora?
 
— Todo mundo é inocente até que se prove o contrário, não é? — o seu lema ao contrário, mas iria abrir uma excesso para a Luthor. — Só me promete que vai ser cuidadosa. Se já era perigoso antes, vai ser pior cada vez que você se deixar levar mais.
 
— Eu sou cuidadosa. Eu sempre fui.
 
— Não, você é a pessoa mais imprudente que eu conheço — respirou fundo. — Para de olhá-la tanto no carro e de segurar a mão dela. O carro tem câmeras por dentro, não precisamos de alguém de lá te odiando por causa da aproximação de vocês. Se alguém souber, vai dar merda e não queremos isso — notou pela expressão da irmã que ela nem se lembrava do detalhe das câmeras. — Não me faça eu me arrepender de acobertar isso. Vai falar com o médico, eu fico vigiando.
 
O que Alex disse foi estranho para Kara, só que não dava para rejeitar ajuda. Qualquer reforço para manter Lena viva — não por estarem fingindo serem seguranças dela, mas por ver que ela era uma vítima dos Luthors — era mais do que bem-vindo.
 
Um tempo depois de Kara falar com o médico, Lena foi liberada a base de muitas recomendações. Kara quase jurou de pés juntos que seguiria todas, mas sabia que quando Lena voltasse para mansão a história seria outra. Era por isso que enquanto estivesse perto dela, daria o seu melhor para mantê-la calma e sem pensar nos problemas.
 
Durante o percurso feito até o seu apartamento, se segurou para não ficar encarando demais Lena ou segurar a sua mão. Até parecia que estava adquirindo uma necessidade de sempre tocar em Lena para passá-la conforto.
 
Ao chegar em casa, assim que fechou a porta e ativou os alarmes, os olhos azuis pousaram diretamente em Lena que olhava tudo em volta como se fosse a primeira vez que estivesse ali. Se aproximando devagar, puxou Lena para um abraço apertado.
 
Precisava sentir ela perto.
 
— Eu não estava brincando quando disse que quase surtei achando que você tinha sido atingida — fechou os olhos aproveitando para sentir mais o cheiro do perfume que gostava mais a cada dia. — Eu tive medo de não te salvar.
 
De te perder, era o que realmente queria dizer.
 
— Você disse que me protegeria e protegeu — se aconchegou nos braços de Kara que a rodeava. — Eu queria que tudo isso parasse — sentiu um nó na garganta e uma enorme vontade de chorar. — Eu só quero que os próximos oito meses passem rápido pra eu viver minha vida em paz. Só... só quero me afastar da minha família e esquecer da existência deles. Esquecer toda essa merda que vem me acontecendo e que eu nem sequer entendo motivo.
 
Aquela pequena revelação pegou Kara de supetão. Porque só em oito meses Lena poderia viver sua vida em paz? Se perguntou. O que tanto a impedia de cortar laços com os pais e o irmão?
 
— E porque não se afasta agora? — perguntou cuidadosamente sentindo o coração doer ao perceber que Lena choraria a qualquer momento. — Você é dona da sua vida, Lena, você pode fazer o que quiser.
 
— Eu ainda não posso. Não posso. Toda vez que um atendado acontecesse, eu fico com medo de não conseguir chegar no fim desse prazo — sentiu uma lágrima rolar por sua bochecha. — Mas eu tenho que chegar. Eu preciso. Eu tenho que aguentar — fungou.
 
Estava nítido para Kara o medo que estava na voz de Lena, só não sabia dizer se esse medo era de morrer ou por causa da família. Era capaz de ser uma junção dos dois.
 
— Não chora, Lena — a levou até o sofá onde a sentou. — E-eu prometo fazer o posso para te manter viva e bem — sentou ao seu lado segurando o seu rosto com as duas mãos. — Eu vou te ajudar a passar por isso. Eu vou te proteger de todas as maneiras possíveis e vou ficar ao seu lado.
 
— Desculpa desabar assim — sentiu Kara secar suas lágrimas com as costas das mãos. — Aposto que você não entendeu nada.
 
— E nem precisa me explicar nada agora. Pode desabar o quanto quiser, eu estarei aqui para te segurar.
 
Obviamente Kara queria entender aquela história melhor, mas não dava para encher Lena de perguntas sendo que ela estava tão frágil.
 
— É tão injusto você se por em risco por minha causa. Eu deveria saber fazer isso sozinha para passar por essa bagunça da minha vida e alcançar meu objetivo.
 
— Eu posso te ensinar a lutar, se quiser — seu comentário fez Lena sorrir minimamente. — Você não precisa carregar sozinha o peso do mundo nas costas. Eu estou bem aqui. Sou vou embora da sua vida se você me mandar embora. Mas fique sabendo que eu não quero ir.
 
As palavras capturaram Lena. Se Kara tivesse 100% focada na operação, teria percebido isso, já que ela mesma havia dito que Lena era o elo mais fraco. Entretanto, suas emoções que estavam se aflorando rapidamente a impediam de ver todos os detalhes que deveria estar vendo. Sem contar que nada do que disse era mentira.
 
— Me abraça de novo?
 
— Sempre.
 
Se ajeitando no sofá, Kara puxou Lena para cima de si a abraçando apertado. Um silêncio confortável se instaurou por todo o apartamento. Lena se sentia acolhida, protegida e que, finalmente, podia confiar seus medos a alguém. Já Kara estava se lembrando como era deixar alguém entrar em seu coração.
 
— Kara?
 
— Oi.
 
— Você é minha heroína.
 
 
 
:)

The BodyguardOnde histórias criam vida. Descubra agora