19 Conflito de interesse

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Voltei!

 
Divirtam-se!!!
 
 
 

— Me fala o que você sabe agora! —
Alex disse mais uma vez demonstrando a sua irritação.
 
— Primeiro, dá pra você me soltar? Segundo, eu não sei de nada.
 
A voz de Kara soou com cinismo o suficiente para Alex apertá-la mais uma vez contra a parede antes de soltá-la e se afastar.
 
— Alguma coisa você sabe, e eu não vou sair daqui até descobrir — passou as mãos pelos cabelos tentando recuperar um pouco a calma. — Vou perguntar de novo: porque Winslow Schott falou o nome de Lucy Lane? Porque ele justamente falou da sua falecida esposa? O que ela estava investigando que a fez ir até a penitenciária de Metrópolis conversar com ele sobre a morte de Maxwell Lord? — se virou para olhar a irmã.
 
— Ela estava investigando a morte de Maxwell?
 
— Não se faça de sonsa.
 
— Alex, eu juro, eu não sabia disso. Eu nunca soube que ela esteve na penitenciária de Metrópolis vendo esse cara — a surpresa por aquela informação e a decepção estavam em sua voz. — Antes daquela merda toda acontecer, ela me dizia que estava vindo para Metrópolis para ver a família. Eu cheguei a perguntar para o Snaperr se ele tinha dado alguma matéria pra ela fazer e ele me disse que não. Eu não sabia.
 
Os olhos de Kara estavam ficando marejados, Alex teve vontade de correr e abraçá-la, pois sabia como era difícil falar sobre Lucy Lane e, ao que parecia, Lucy tinha escondido algumas coisas dela. Só não fez o que tinha vontade porque Kara podia estar se metendo numa grande encrenca se tivesse escondendo informações que ajudariam na operação. E para conseguir descobrir o que queria, teria que ser dura com a irmã.
 
— E porque você foi perguntar para o Snapper se ela estava fazendo alguma matéria? A polícia e o FBI consideraram o caso um assalto seguido de morte.
 
— Mas eu não — andou até o sofá e se sentou. — Eu nunca achei isso — suspirou sentindo o peito doer.
 
— Te dou dois minutos pra começar a falar tudo — cruzou os braços. — Ou eu vou dar um jeito de descobrir sozinha. O que você descobriu que a fez achar o contrário do que foi dito na época?
 
Kara ficou num impasse sobre falar o que Alex queria ouvir ou não. Havia mesmo informações que tinha guardado para si, pois queria resolver sozinha aquele caso. O caso mais difícil da sua carreira e o único não solucionado. O problema é que as coisas tinham se complicado e nunca esperou que o nome de Lucy aparecesse durante aquela operação.
 
— Sempre me pareceu estranho as câmeras do prédio não terem gravado nada justo naquela noite — começou dizendo depois que dois minutos que a irmã a havia dado terem acabado. — Morávamos no décimo segundo andar, não foi um arrastão que aconteceu no prédio. Não roubaram outros apartamentos. Foram especificamente no nosso, pegaram o notebook, o celular, o HD externo e todos os pen drives que ela usava para trabalhar e a mataram.
 
— É, não faz sentido — concordou pensativa e se sentindo burra por nunca ter se atentado àquelas informações. — Depois de pensar isso, o que fez?
 
— Eu não pensei nisso imediatamente. Eu estava tão... tão anestesiada pela dor, que não prestei atenção em nada disso — olhou para suas próprias mãos. — Só fui dar um pouco mais de atenção quando liberaram o nosso apartamento para eu pegar as minhas coisas. Eu acabei achando o caderninho de anotações dela.
 
— O que você vive com ele? — viu Kara concordar. — Tinha algo de interessante nele?
 
— Uma folha arrancada — voltou a olhar para Alex e viu sua cara de confusa. — Eu havia dado aquela caderneta para Lucy quando ela conseguiu emprego no The New York Times. Eu a conhecia o suficiente para saber que ela odiava arrancar folhas de caderno, de agendas e coisas assim. Até pra mim pareceu inútil achar estranho aquilo, mas algo me dizia que aquilo estava errado.
 
— E estava?
 
— De baixo da folha arrancada estava a marca da escrita dela, eu queria saber o que tinha ali e passei um lápis por cima. Haviam três sobrenomes: Graves, Schott e Luthor. Eu nunca entendi a conexão desses sobrenomes. Até agora
 
A boca de Alex abria e fechava. Ela tentava falar alguma coisa, mas ficou espantada demais para fazer isso com rapidez. Aquela situação era muito pior do que ela imaginava.
 
— Foi daí que você desconfiou que ela estava fazendo alguma matéria perigosa? — perguntou quando seu cérebro assimilou o que tinha ouvido.
 
— Foi. Eu comecei uma investigação particular, mas não me levou a lugar nenhum. Tirando Luthor, não achei nada sobre os outros sobrenomes ou conexão com ela. Eu não tinha os nomes deles, não tinha o celular dela para averiguar, não tinha câmeras de segurança... só a agenda — sentiu a garganta fechar.
 
Deixando o ar escapar dos pulmões, fez uma pequena pausa. Alex não a atrapalhou, sabia que ela continuaria falando.
 
— Snaperr era o que eu achava ser o começo de tudo, mas, como, eu disse, ele falou que não havia dado a ela nenhuma matéria — continuou com a voz trêmula. — Com as conversas que rondavam no departamento sobre os Luthors e como eles agiam, sempre desconfiei deles. Quando aconteceu o assassinato dos Bertinellis, percebi que o padrão era o mesmo. Se o caso dela for reaberto algum dia, coisa que eu duvido que seja feita porque tenho certeza que alguém do FBI os protege e passa informações a eles, aposto que encontrariam pelo fragmento da bala algo que leve a Thurol Industries.
 
— Tinha outra coisa escrita na agenda? — quis saber. — Tinha alguma outra coisa que leve a algum outro lugar?
 
— Além de um cartão do Cadmus Hotel, nada pra mim parecia fora do comum.
 
O apartamento ficou em completo silêncio. Kara estava com a ferida do passado aberta e doendo, e Alex processava cada palavra que tinha ouvido.
 
Cadmus era um hotel de luxo no centro de Nova Iorque. Somente pessoas influentes, como os próprios Luthors, se hospedavam nele. Alex fez uma nota mental para lembrar de pedir a Felicity e Brainy para procurarem tudo sobre o estabelecimento. Se Lucy foi morta por estar investigando algo grande, essas pequenas coisas poderiam ter algum fundamento.
 
— Qual sua conclusão de tudo isso? Lucy era sua esposa, você deve ter chegado a alguma conclusão.
 
— Minha única conclusão é que os Luthors a tiraram de mim e eu vou fazê-los pagar.
 
A Kara imprudente e emocional demais para prestar atenção nas coisas a sua volta estava bem ali na frente de Alex. Kara podia por tudo a perder num piscar de olhos se deixasse suas emoções falarem mais alto. Na verdade, elas já gritavam, mas ninguém que não deveriam ainda não tinha ouvido.
 
— Você se infiltrou em uma família que você suspeita ter matado a sua esposa — começou a dizer devagar. — Você está envolvida emocionalmente com uma suspeita do FBI. Você está quebrando todos os protocolos possíveis. Você já foi imprudente antes, mas agora está extrapolando todos os limites. Isso é conflito de interesse, Kara. Você entende a situação em que você está se colando? Você entende que a operação está correndo risco se descobrirem quem você é?
 
— Não venha me dar sermão — se levantou do sofá se aproximando da ruiva. — Se fosse você no meu lugar. Se fosse a Sam no lugar da Lucy, eu duvido que você faria algo diferente — falou com raiva.
 
— Eu faria. Eu não me colocaria numa situação dessa.
 
— É fácil dizer isso, não é? Não foi a sua mulher que foi assassinada por uma família mafiosa e você não entende o motivo — sentiu as lágrimas começarem a embaçar seus olhos. — Não é você que tem que lidar com a culpa. Eu escondo esses sentimentos todos dias, mas sei que se eu não tivesse ido naquele bar com você, Kane, Wilder, a Gordon, a Sam, comemorar o caso que a gente tinha resolvido, se eu tivesse ido jantar com a minha esposa, ela estaria viva — gritou. — Eu poderia não estar mais casada com ela, mas ela estaria viva.
 
— Não tem como você ter certeza disso. E você não pode conviver com essa culpa.
 
— Eu esqueci do jantar. Ela me ligou poucos minutos antes de ser assassinada, mas eu estava ocupada demais bebendo para atender a porra do celular — secou uma lágrima. — E se eu estar aqui, nessa operação, significa colocar aquela gente na cadeia, eu vou quebrar todos os protocolos possíveis pra fazer isso. Não vou deixar que eles façam o mesmo com a Lena. Eu não vou deixar eles tirarem de mim outra pessoa que significa muito pra mim.
 
As irmãs se fitavam quase sem piscar. Kara nunca tinha falado nada daquilo pra Alex, pois sabia que ela jamais entenderia seu ponto de vista das coisas. Algumas vezes, as pessoas podem até te consolar e estarem ao seu lado, mas só vão realmente te compreender quando elas passarem pela mesma situação. Não que desejasse isso a irmã ou qualquer outra pessoa, mas sabia que não pensavam do mesmo jeito sobre o assunto.
 
— Lena sabe sobre a Lucy? — resolveu perguntar. Kara estava tão ligada emocionalmente a Lena que não se surpreenderia se ela tivesse contado.
 
— O que?! — franziu o cenho. — Que espécie de pergunta é essa?
 
— Você contou alguma coisa para Lena sobre a Lucy? Ela sabe que você foi casada? Sabe que é viúva?
 
— Porque eu contaria alguma coisa sobre a Lucy? — sua voz afinou ao ficar na defensiva.
 
— Contou ou não? — repetiu a pergunta com mais ênfase.
 
— Você queria saber sobre a Lucy, eu contei tudo o que eu sei. Agora estou num interrogatório por acaso? Sou suspeita de algo?
 
— Contou ou não?
 
Cerrando o maxilar e os punhos no mesmo momento, Kara quase não acreditou que Alex continuaria com aquelas enxurradas de perguntas. Tudo bem se ela não entendesse suas ações e motivações, mas já achava que aquela conversa estava se tornando algo insensível.
 
Por alguns segundos, desviou o seu olhar e focou na parede atrás de Alex.
 
— Não tem como eu contar sem dizer todo o resto. Se eu dissesse, ela se afastaria de mim, e não estamos afastadas — falou com raiva, lentamente e voltando a encarar a irmã. — Kara Lee, não pode falar porque não é a vida dela. E Kara Danvers, agente especial do FBI, não tem autorização, lembra? — disse sarcástica. — Você mesma me lembrou que eu não tenho autorização para dizer nada a ela para não foder com a porra da operação.
 
— E Kara Zor-El? Essa pode falar? Por que, se for assim a sua lógica, Kara Zor-El estaria a parte de tudo isso. Kara Zor-El é quem você foi um dia, antes de virar uma Danvers — pendeu a cabeça para o lado. — Essa pode falar?
 
— Eu não contei nada — reforçou.
 
— Eu não acredito em você — balançou a cabeça negando. — Não mais. Não depois de você ter escondido tudo o que você acabou de me contar.
 
— Então vai lá e pergunta pra ela.
 
— Você sabe que não vou fazer isso — apontou o dedo na cara da loira. — Eu não caio nesses seus joguinhos mentais. Você contou ou não? Porque, sinceramente, Lena só te conhece há uns... quase dois meses. E tudo bem se vocês se gostam, não estou julgando a velocidade disso. Mas, nenhuma mãe entregaria a filha para três desconhecidas. Nem pra proteger — fez uma pausa analisando o rosto da loira. Queria achar qualquer sinal de mentira. — Ela sendo mãe, iria preferir arriscar tudo ao lado da filha e se manter refém dos Luthors do que fazer isso que ela fez. Ela teria que saber algo muito profundo de você para confiar a esse ponto. O que você contou a ela que a fez aceitar entregar a filha?
 
Se virando de costas para irmã, Kara se afastou. Já tinha passado em inúmeros testes onde mentia com maestria e não tinha sido pega. Passou por vários casos e situações complicadas, e, apesar das dificuldades, sempre conseguiu se manter calma. Mas agora, se sentia nervosa por Alex estar a chamando de mentirosa e a encurralando.
 
— Se sua preocupação é a operação, não precisa se preocupar — seu tom era rude. Queria acabar logo com aquela conversa. — Eu falei que eram amigas minhas do exército e de confiança que iriam me ajudar. Foi isso.
 
— E ela acreditou fácil assim?
 
— Eu dei a ela a escolha de manter a filha em segurança e longe daquela gente. Isso já o suficiente para aceitar. Se está incomodada com a decisão dela, vai interrogá-la — engoliu seco.
 
— Eu espero mesmo que você não tenha se deixado levar pelo seu coração — bufou. — E eu espero que não tenha mentido pra mim sobre o que sabe da Lucy e a relação com os Luthors, ou sobre Lena saber quem você realmente é.
 
— Tanto faz. Não ligo para o que você está esperando de mim.
 
— Mas deve ligar para o que a Diana, J’onn e Cat vão achar quando descobrirem que você está agindo por interesse próprio. Está agindo assim sobre Lucy e sobre Lena também.
 
Com o que ouviu, Kara se virou imediatamente para olhar a irmã. Estava atônita e confusa. Sua irmã não teria coragem de entregá-la, não é?
 
— O que quer dizer com isso?
 
— O que você ouviu. Eu não vou deixar você colocar tudo em risco — sabia que o que estava falando iria causar raiva em Kara, mas não dava para continuar passando a mão na sua cabeça. — Eu não vou deixar você se colocar em risco. Ou você conta tudo e sai da operação, ou eu te tiro.
 
— Não! — esbravejou. — Você não entendeu nada do que eu disse?
 
— É exatamente por entender que não vou deixar você se afundar mais nisso.
 
— Eu preciso colocar aquelas pessoas atrás das grades — abaixou o tom de voz, precisava convencer Alex de ficar calada.
 
— Pensasse nisso entes de se envolver desse jeito que está se envolvendo — virou as costas indo em direção a porta. — Quero você fora do caso até amanhã. Ou você sai, ou eu dou um jeito de você sair.
 
Não iria desistir do caso. Não iria desistir de Lena. Não iria desistir de Lizzie. Já tinha ido longe demais para ser afastada. Quando solucionasse tudo, aceitaria qualquer consequência, mas não aceitaria o ultimato de Alex. Iria convencê-la a ficar ao seu lado, nem que tivesse que implorar por isso.
 
— Alex, espera! — a chamou quando ela já estava com a mão na maçaneta da porta. — Me escuta.
 
– Eu já escutei — virou um pouco o rosto, mas não o suficiente para ver a irmã.
 
— Me escuta. Por favor.
 
O jeito como Kara pediu atingiu Alex. Se amaldiçoou por querer ouvir o que ela queria dizer, mas era difícil. Mesmo que fosse uma mulher adulta, Kara ainda era a sua irmãzinha.
 
Respirando fundo, tirou a mão da maçaneta e deu um passo para trás. Um segundo depois, se virou encontrando Kara no meio da sala.
 
— Fala.

— Sei que estou fazendo tudo errado — começou dizendo. — E entendo o que você quer fazer. Você já teria reportado toda a situação se fosse outra pessoa.
 
— Sim — colocou as mãos na cintura. — E estou agindo errado.
 
— Eu acordo todo dia pensando na morte da Lucy e toda noite eu vou dormir me perguntando se eu podia ter impedido de acontecer alguma coisa — a lágrimas voltaram a molhar seu rosto. — Só quando eu estou com Lena é que não me sinto assim — deu um passo para frente. — Por favor, não tira isso de mim agora. Eu preciso ir até o final. Eu preciso ver os olhares dos Luthors quando eu prendê-los por todas as atrocidades. Não posso fazer isso sem você. Eu preciso do seu apoio.
 
Olhou para cima tentando parar de chorar, mas não conseguia mais. Um soluço escapou do fundo da sua garganta, seria difícil falar entre lágrimas, ainda assim, iria continuar.
 
— Por favor, Alex, fica do meu lado. Eu quero poder superar tudo isso. Eu quero poder fazer com a Lena e com a filha dela o que eu não fiz com a Lucy — juntou as mãos em suplica. — Não tem limite para o que eu sou capaz de fazer pela mulher que eu me apaixonei. Se você contar, eu sei que vão me afastar e...
 
— Kara, eles vão descobrir de qualquer forma — a interrompeu. — Sam só omitiu para a Diana a parte da Lucy porque eu queria falar com você primeiro. É questão de tempo o nome dela aparecer, ainda mais com a Felicity ajudando.
 
— Mas não vai ter saído da sua boca, da minha, ou da Sam. Até eles chegarem na Lucy, já vamos ter um mandado de prisão.
 
— Kara.
 
— Eu não vou deixar Lena sozinha nessa. E você me prometeu ajudar a protegê-la.
 
Alex se amaldiçoou mais uma vez por ter parado para ouvir o que Kara tinha a dizer. Gostaria muito de pensar que se estivesse no lugar dela faria tudo diferente, mas talvez não fizesse. Além disso, se a situação fosse invertida, Kara jamais deixaria de ficar ao seu lado.
 
— Eu deveria te bater — disse entre os dentes se aproximando da irmã e a abraçando. — Sua idiota!  — a apertou forte.
 
— Eu preciso do seu apoio — se permitiu chorar.
 
— Tudo bem — suspirou. — Mas você vai ter que seguir as regras. Não se trata de vingança, se trata de justiça, entendeu? Você entendeu, Kara?
 
— Entendi. Eu entendi.
 
 

:)

The BodyguardWhere stories live. Discover now