15 Não quero ter segredos

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Voltei!!!

 
Divirtam-se!!
 
 

Era isso, Lena estava mostrando uma coisa, ou melhor, pessoa que Kara, nem em seus mais profundos sonhos, nas mais profundas suspeitas e nas investigações feitas por Brainy e Felicty, fazia ideia de que existia. Mas agora estava ali, cara a cara com alguém que Lena amava.
 
Quando começou aquela operação, achou que Lena era o elo mais fraco da família Luthor. Seu plano era se aproximar dela para conseguir informações e, assim,  levar aquele caso adiante. Antes de abraçá-la a primeira vez, não importava a sensação que a invadiu quando a conheceu, seu trabalho estava em primeiro lugar e seus casos tinham que ser solucionados. Só não esperava três coisas: querer protegê-la daqueles que ela chamava de família, que a última coisa que Lena era, é o elo mais fraco — só por aguentar toda aquela situação já mostrava o quão forte era — e que estava se apaixonado por ela.
 
Faria tudo o que estivesse em seu alcance pela mulher que a fez sentir que podia amar de novo. Que a fez se sentir viva. Que a fez querer seguir em frente apesar do que a aconteceu no passado. Largaria tudo, se ela assim quisesse, e iria para qualquer lugar com ela. Faria isso sem nem pensar duas vezes. Mas agora tinha que encaixar outra pessoa nessa conta.
 
Parada naquela cozinha, se questionou sobre contar tudo a Lena ou não. Teria que pensar sobre todas as consequências que poderia surgir na sua vida se fosse sincera sobre tudo ou se continuasse mantendo segredo. Não tinha mais certeza nenhuma de nada, a não ser a de que não queria ficar sem Lena Luthor em sua vida e que teria que tomar uma decisão mais cedo ou mais tarde.
 
Alternando o olhar entre as duas figuras a sua frente, Kara estava chocada com a semelhança. Nem sabia que duas pessoas podiam ser tão parecidas daquele jeito. Não tinha nem como duvidar que eram parentes.
 
Chocada.
 
Definitivamente, estava chocada.
 
Já esperava por algo, mas, ainda assim, havia sido pega desprevenida. Agora muitas coisas faziam sentido em sua mente. Algumas peças estavam se encaixando.
 
Vendo que já estava ficando esquisito apenas olhar e não dizer nada além de seu nome, encarou os outros olhos verdes e sorriu novamente.
 
— Muito prazer, Elizabeth.
 
— Pode me chamar de Lizzie, mamãe que me deu esse apelido. Não é, mãe? — ergueu a cabeça para encarar Lena.
 
— Sim, meu amor — sorriu para a garotinha acariciando os cabelos tão escuros quando os seus. — Lizzie, Kara é uma amiga da mamãe, eu a trouxe para te conhecer.
 
— Sabe jogar xadrez, Kara?
 
— Sei, sim.
 
— Então seremos amigas — falou animada olhando para a loira. — Mamãe nunca trouxe ninguém aqui, vai ser bom ganhar uma partida de alguém que não seja minha mãe, Mary ou Winn. Ou meus colegas da escola — acrescentou rapidamente. — Eu sou a melhor enxadrista da escola.
 
— Então você já é uma profissional. Vai ser uma honra perder pra você — falou brincando e arrancando um enorme sorriso da garotinha.
 
— Depois posso ter mostrar meus troféus. Você vai querer ver?
 
— Com certeza. Vou adorar ver todos.
 
A conversa foi atrapalhada quando a porta da cozinha, que dava para um quintal, foi aberta e uma senhora de cabelos grisalhos entrou com um cesto de rosas de várias cores nas mãos.
 
— Lizzie, já tomou seu... — ficou surpresa ao ver Lena. — Lenu! — foi até a morena e a abraçou com alegria. — Eu não esperava você aqui. Eu podia ter feito tudo o que você gosta se soubesse que viria. Como você está?
 
— Bem, Mary. Estou bem. Eu tive a chance e não poderia deixar de vim.
 
— Que bom que conseguiu fazer isso. Lizzie só tem falado de você — falou quando notou que a menina tinha voltado para a mesa para terminar seu café da manhã. — Telefonas e chamadas de vídeos não parecem mais ser o suficiente.
 
— Eu vou ficar uns dias. Logo isso acaba e não vou precisar ficar longe dela — sentiu um afago em seu rosto vindo da senhora. — Eu trouxe uma convidada — apontou para Kara que continuava parada só observando e tinha ouvido a conversa. — Mary, essa Kara. Kara, essa é Mary. Ela cuidou de mim dos cinco aos doze anos. Ela cuida da Lizzie.
 
— Muito prazer, Kara — a abraçou assim como fez com Lena. — Se está aqui é porque Lenu confia em você. E fico feliz por ela ter alguém em quem confiar.
 
— Muito prazer, senhora Mary.
 
— Nada de senhora. Só Mary. Estão com fome? Vou arranjar algo para vocês comerem — disse sem esperar nenhuma resposta.
 
— Enquanto isso, vou mostrar a casa para ela. Depois pede para o Winn pegar as malas no carro, por favor.
 
— Tudo bem.
 
Segurando a mão de Kara, Lena começou a arrastar pela casa mostrando onde ficava cada coisa. Após ver tudo na parte de baixo, Lena a levou até a parte cima da casa. Havia um grande corredor com cinco quartos, Lena mostrou cada um e, por fim, o quarto em que Kara ficaria.
 
— Você pode ficar aqui. Como nunca trouxe visitas, vou pedir para a Mary arrumar direitinho — enfiou as mãos nos bolsos de trás da sua calça observando Kara olhar tudo em volta. — Só falta você ver o lado de fora, podemos dar uma volta mais tarde, se quiser. E não conta para Lizzie que viu os troféus dela, ela vai ficar triste se souber que mostrei primeiro — sorriu nervosa quando Kara a fitou. — É que eu sou uma mãe orgulhosa.
 
— Quem é Winn? — franziu o cenho.
 
— Filho da Mary. Desde que ela veio morar aqui para cuidar da Lizzie, ele veio junto e a ajuda a cuidar de tudo.
 
Lena sentia um misto de nervosismo e aflição, não sabia o que se passava na cabeça de Kara e tinha medo do que poderia vir dela. Ficava difícil esperar reações boas das pessoas quando a sua própria família não reagiu bem quando descobriram sobre Lizzie. Sabia que Kara não era qualquer uma e que, muito menos, era igual seus pais e irmão, mas era inevitável não ter medo, ainda mais quando nunca contou a ninguém sobre sua filha.
 
Pouquíssimas pessoas sabiam da existência de Lizzie. Quem sabia que ela era uma Luthor — como os empregados do rancho, que já não eram muitos — tiveram que assinar um contrato de confidencialidade. Lizzie era, praticamente, um segredo, e doía em Lena continuar mantendo esse segredo.
 
— Adorei conhecer a Lizzie — começou a se aproximar. — Eu não sei jogar xadrez, mas queria a impressionar. Acha que eu consegui?
 
— Conseguiu, sim — sacudiu a cabeça.
 
— Acho que vou ter que ver alguns tutoriais no YouTube, então. Não posso decepcioná-la — parou em frente a Lena. — Lenu. Gostei desse apelido. Talvez, eu comece a te chamar assim.
 
— Gostou mesmo da Lizzie? — quis ter certeza. — Não te incomoda eu ter te trazido para conhecer uma filha que você nem sabia que eu tinha?
 
— Claro que gostei dela! — respondeu com sinceridade. — Eu fico feliz por me deixar saber disso. Vou adorar passar esses dias com você e a conhecendo melhor. Agora te perdoo por eu não ser a número um no seu coração. Talvez você deixe de ser a número um do meu no fim dessa viagem — brincou tentando quebrar a tensão que vinha de Lena.
 
— Você é a número um, mas de um jeito diferente.
 
— Ela parece ser uma garotinha incrível. Tão incrível quanto a mãe.
 
— Não sei se sou tão incrível quanto ela, mas ela é a melhor parte de mim. Eu vou te explicar tudo isso depois.
 
Pendendo um pouco a cabeça para o lado, Kara analisou Lena. Conseguia ver um brilho em seus olhos que não tinha visto até então. Certamente, era felicidade por estar com a filha. Porém, notava a sua insegurança e entendia seus motivos.
 
— Relaxa, Lenu — segurou seu rosto com as duas mãos quando a morena riu de como havia sido chamada. — Temos todo o tempo do mundo para isso, e você não tem que se forçar a nada. Só me fale quando achar que é a hora certa. Isso se você quiser contar, se não quiser, estarei aqui do mesmo jeito. E, sim, você é incrivelmente incrível.
 
Apesar do que disse, queria muito saber toda aquela história para preencher as lacunas que faltavam de suas deduções. Só que esperaria pelo momento de Lena.
 
— Eu quero te contar tudo. Não quero ter segredos com você — seus olhares se cruzaram.
 
Kara se sentiu atingida por aquelas palavras. Também não queria ter segredos com Lena, mas não tinha certeza se deveria revelá-los. Lena saber de sua identidade secreta, poderia ser arriscado para ela e para Lizzie. E ela não saber, era como se estivesse a traindo de alguma forma.
 
Agora entendia os avisos que Alex a deu sobre criar laços com quem não deveria. Estava entre a cruz e a espada. No fim, a cruz poderia se mostrar pesada demais para carregar e a espada poderia a ferir profundamente.
 
Que complicação!
 
— Eu também não quero ter segredos com você — encostou sua testa na dela. Desde que soube que Lena gostava daquilo, começou fazer com frequência.
 
— Eu fico aliviada. Me sinto até mais leve de poder compartilhar isso com alguém. E que esse alguém seja você.
 
— Obrigada por confiar em fim, meu bem.
 
Estando naquela casa onde Lena tinha uma parte importante dela, Kara não queria de maneira alguma tirar o tempo que ela poderia passar Lizzie para que ficasse com ela. Mesmo assim, não conseguiu evitar de abraçá-la por pouquíssimos minutos apenas para que soubesse que estava ali e que sempre estaria.
 
— Vamos descer? Tem uma garotinha lá em baixo que sente falta da mãe — a beijou bem no cantinho esquerdo dos lábios. Não era a sua intenção, mas isso aconteceu porque Lena acabou virando o rosto bem no momento em que beijaria sua bochecha. Ambas apenas sorriram de um jeito tímido pelo ocorrido. — E eu estou com fome. Tipo, morrendo de fome.
 
— Eu também estou.
 
Juntas, elas saíram do quarto e voltaram para cozinha onde Mary preparava um mesa cheia de comidas.
 
Aquela manhã passou rápido. Lizzie quase não desgrudou Lena, dava para perceber o quanto ela sentia falta da presença da mãe. Por isso, Kara apenas ficou de longe assistindo todas as brincadeiras e conversas. Elas precisavam daquele momento sozinhas.
 
Enquanto estava sentada no degrau da varanda que dava para o imenso quintal dos fundos vendo Lena e Lizzie brincarem de pega-pega, Kara não conseguia nem imaginar como era para as duas viverem tão longe uma da outra. Quilômetros as separavam e não era porque elas queriam essa separação. Se Lena, que era uma adulta, já se abalava por toda essa situação, para um criança deveria ser muito mais complicado entender a distância entre elas.
 
Durante o almoço, Kara acabou sendo envolvida nas conversas triviais de mãe e filha, pois Lizzie começou a enchê-la de perguntas sobre seu trabalho, o que gostava de fazer, o que gostava de comer, se tinha animais ou irmãos. Mas, uma pergunta em especial fez seu coração doer. A pequena queria saber como era ver a mãe dela todos os dias.
 
— É ótimo ver sua mãe todos os dias — Kara respondeu sentindo um nó na garganta. Lizzie a olhava com expectativa, parecia que ela esperava uma resposta incrível sobre quem era a mãe dela. — Sua mãe é... é minha melhor amiga. Uma pessoa que eu adorei conhecer. E... quando a gente conversa, ela fala de você e o quanto você é uma menininha extraordinária, e como tem orgulho de ser sua mãe.
 
— Vocês falam de mim, mãe? — olhou para a morena de um jeito carinhosos e quase emocionado.
 
— Com a Kara, eu falo.
 
— Que bom que mamãe fala de mim. Achei que ninguém além dela, da Lilian, do Lionel, do careca do Lex, da Mary e do Winn sabiam de mim. Quer dizer, meu colegas escolas e professores sabem de mim, mas não conhecem a minha mãe. Então eu achei que lá em Metrópolis era assim também, só que invertido.
 
— A Kara foi uma exceção, Lizzie. Ela é alguém em quem eu confio. Mas isso não muda o fato de que você ainda tem que continuar aqui enquanto a mamãe trabalha — explicou pacientemente.
 
— Entendi — ficou um tempinho pensativa um jeito triste e então voltou a sua atenção para Kara e sorriu. — Quer ver meus troféus agora, Kara? Eu tenho muitos e pode demorar muito tempo pra eu explicar de onde vieram todos. Também tenho medalhas. Bastante — apoiou o queixo em cima da mãos e começou a piscar rapidamente para a loira.
 
— Tudo bem. Já terminei aqui. Eu só iria ajudar a lavar a louça.
 
— Não se preocupe — Mary que também almoçava junto com elas disse. — Eu dou um jeito nisso. Vão lá vocês três. Aproveitem!
 
— Tá lega...
 
A frase foi interrompida quando Lizzie pegou a sua mão para que ela se levantasse. Parecia que a menina tinha pressa de tudo. Era como se ela quisesse fazer tudo no mesmo momento antes do seu tempo acabar. Kara entendeu aquilo como um tipo de medo. Não sabia quanto tempo Lena costumava a ficar no rancho e talvez fosse por isso a pressa da garotinha.
 
— Você vem, mamãe? — parou no meio da cozinha e a olhou.
 
— Já encontro vocês, só vou conversar um pouco com a Mary.
 
Assentindo de leve, Lizzie soltou a mão de Kara para correr até a mãe e a dar um abraço e um beijo em seu rosto.
 
— Eu te amo com mil coraçõezinhos — com rapidez, largou a mãe e voltou a puxar Kara casa a dentro.
 
— Eu também te amo com mil coraçõezinhos — Lena gritou enquanto via a filha e Kara se afastarem.
 
Era difícil acompanhar o ritmo agitado de Lizzie e ela não era nada diferente da mãe. Além da aparência, elas eram doces e gentis. Tinham o mesmo sorriso amigável e a fala firme, mas ao mesmo tempo mansa. Lizzie era muito educada e bastante comunicativa — nisso muito mais que a mãe. Kara estava realmente entusiasmada para conhecê-la melhor.
 
— Mamãe te falou que eu faço nove anos daqui a sete meses? — perguntou aleatoriamente quando estavam subindo as escadas.
 
— Falou, sim.
 
Obvio que não sabia dessa informação, pois nem sabia que Lena tinha uma filha, mas como havia acabado de falar que ela e Lena conversavam sobre Lizzie, então preferiu afirmar aquilo.
 
No entanto, o que Lizzie a perguntou a fez lembrar que, algumas semanas antes, Lena tinha falado sobre oito meses passarem rápido e então poder viver sua vida longe da família. Fazendo as contas, um mês já tinha se passado desde a conversa em que Lena disse aquilo.
 
Será que ela queria estar em casa no aniversário da filha ou tinha algo a mais nisso? Se perguntou Kara, mas depois chegou a conclusão de que, provavelmente, tinha algo a mais.
 
— Espero que ela consiga estar comigo esse ano — abriu a porta de seu quarto ainda puxando Kara atrás de si. — Se ela vier no meu aniversário, você vem também? Gostei de você. Posso te dar o terceiro pedaço de bolo. O primeiro é da mamãe, o segundo é meu, não abro mão disso, e você fica com o terceiro. O que acha?
 
— Com certeza, eu venho. Fico muito satisfeita com o terceiro pedaço de bolo. Adoro bolo.
 
— Eu também! Qual é o seu favorito?
 
— Chocolate.
 
— O meu também! Como amiga da minha mãe, você poderia convencer ela aparecer.
 
— Como assim? — a olhou sem entender.
 
— Não lembro dela aqui nos meus aniversários. Tem fotos de quando eu era menor, mas não lembro. Ela sempre me liga, faz chamada de vídeo e canta parabéns pra mim, e manda presentes, mas queria ela aqui comigo, sabe? — olhou para a loira remexendo os lábios. — Convence ela esse ano. Por favor?
 
Mais uma vez sentia aquele nó irritante e dolorido na garganta. Lizzie era apenas uma garotinha de oito anos que nem conseguia entender porque vivia longe da mãe. Ainda assim, todas vezes que Kara a pegou olhando para Lena, olhava com admiração e carinho.
 
Era maldade demais tudo aquilo. Queria saber todos os detalhes dessa história, mas só pelo pouco que tinha visto até agora, sentia-se triste por Lena e por Lizzie.  
 
— Lizzie — se ajoelhou para ficar na altura dela e segurou suas mãos. Iria dizer que não poderia prometer que convenceria Lena, mas quando a olhou nos olhos não conseguiu. Ela só era uma criança, ninguém deveria destruir as esperanças de uma criança —, ela vai estar aqui.
 
O rosto de Lizzie se iluminou com o que ouviu.
 
— Promete? — esticou seu dedo mindinho em direção a loira. — Eu fiz esse pedido no aniversário passado. Quando ela falou que você é amiga dela, fiquei pensando se você não é a pessoa que vai me ajudar, porque a Mary e Winn vivem dizendo que não podem fazer nada. Você vai trazer ela? Vai fazer ela aparecer?
 
— Eu prometo — entrelaçou seu dedo no de Lizzie. — Eu farei tudo o que puder para ela estar aqui com você. Me mostra os troféus — pediu com uma falsa animação só para mudar de assunto.
 
Mais uma vez, Kara estava quebrando mais uma regra.
 
No FBI, uma das coisas que se aprendia era a não dar esperanças, pois nunca sabia como um caso poderia terminar. Havia acabado de dar esperança a uma menininha de oito anos e se não cumprisse o que tinha acabado de prometer, iria viver com mais uma culpa.
 
Uma criança no meio daquele caso mudava toda a dinâmica. Quando supunham que Lena protegia alguém e por isso fazia só o que os pais queriam, não pensaram em uma filha. Em menos de 24 horas, o que já era complicado para Kara, ficou ainda pior. Teria que ser muito mais cuidadosa dali em diante. Não só ela, na verdade, toda a equipe.
 
O resto do dia, Lizzie ficou explicando a Kara sobre cada troféu e cada medalha. Ela estava muito animada por compartilhar suas conquistas com mais outra pessoa. Toda vez que Kara mostrava entusiasmo e a elogiava ela abria um sorriso que ia de orelha a orelha.
 
Assistindo a tudo, Lena sentia que tinha tomado a decisão certa em querer que Kara soubesse daquela parte da sua vida. Muitas coisas ainda tinha que ser explicadas, mas ficava satisfeita só por ver a loira e a filha se dando bem.
 
Depois do jantar, Kara desejou boa noite a todas e foi para o seu quarto. Queria muito ficar agarrada a Lena e a Lizzie, só que queria dar espaço a elas.
 
Sentada em sua cama, estava lendo os primeiros capítulos de O Pequeno Nicolau, Lizzie disse que era seu livro favorito e a perguntou se não queria ler. Do mesmo jeito que tinha dificuldade de negar qualquer coisa a Lena, não soube negar isso a Lizzie.
 
Se distraíndo com a história, só voltou para o mundo real quando ouviu batidas na porta.
 
— Entra! — falou alto.
 
— Atrapalho? — Lena perguntou entrando no quarto e fechando a porta atrás de si.
 
— Não, claro que não — marcou a página do livro, o fechou e o colocou na escrivaninha.
 
— Vai mesmo ler esse livro? — arqueou as sobrancelhas.
 
— Vou, minha nova amiga me indicou — sorriu fitando Lena que continuava em pé ao lado da cama. — O que foi? — abriu seus braços em direção a morena.
 
— Lizzie me disse antes de dormir que você prometeu que eu estaria aqui no aniversário dela — se juntou a Kara se aconchegando em seu abraço. — Ela está achando que você é uma espécie de anjo, ou algo assim, que foi enviada para me trazer de volta para ela.
 
— O que eu falei é ruim? Se falei algo errado, me desculpa.
 
Kara estava com medo de Lena não gostar do que prometeu a Lizzie. Talvez tenha agido errado mesmo.
 
Novamente percebeu que Alex estava certa, ela era muito imprudente.
 
— Eu espero estar aqui. Na verdade, isso é algo que está nos meus planos. Estive em poucos aniversários dela. Os que estive, ela era bem menor, mas... é complicado — suspirou pesadamente. — Tenho medo de ser forçada a mudar esse plano de estar com ela. Isso me assombra todos os dias e por isso não garanto que estarei aqui. Quando eu te contar as coisas que quero, você vai entender melhor. É que hoje só quero aproveitar estar com as duas pessoas mais importantes para mim sem mexer em um passado que dói.
 
— Você confia em mim? — Lena se afastou um pouco dela para a olhar melhor. — Você confia em mim de verdade?
 
— Confio.
 
— Você vai estar aqui no aniversário dela. Eu vou fazer isso acontecer — se xingou mentalmente por mais uma vez ao dia dar esperanças a alguém. — Realmente, não estou entendendo muita coisa, mas nada. Nada. Vai te impedir de estar com a Lizzie. Seus planos não vão mudar. Eu prometo. Só acredita que eu posso fazer isso, pois eu vou.
 
— Eu acredito. Eu acredito em você.
 
— Não há nada no mundo que eu não faria para te ver tão feliz quanto eu vi hoje — afagou o rosto de Lena enquanto a olhava profundamente nos olhos. — A Lizzie é importante para você, e isso a torna importante para mim. Não vou decepcionar vocês. E agora não vou cuidar só de você. Vou cuidar de vocês duas.
 
O jeito que Lena olhou para Kara depois de ouvir aquilo, foi com a mais profunda admiração, ternura e paixão. Esse olhar provocou algo em Kara que ninguém jamais provocou em toda a sua vida. Nem mesmo Lucy.
 
 
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The BodyguardWhere stories live. Discover now