16 Você é igual a mamãe

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Voltei!!!
 

Divirtam-se!!
 
 

Embora tenha tido uma noite de sono tranquila, às sete da manhã, Kara despertou se sentando bruscamente na cama. Seu coração estava acelerado, a respiração falhada e sentia medo. Algumas vezes tinha pesadelos em relação ao passado e havia acabado de ter um depois de meses sem ser assombrada por eles.
 
Os sonhos eram sempre os mesmos, Lucy chamava por seu nome e perguntava porque não a salvou. Sua ex psicóloga, Alex, Sam e sua mãe diziam que isso era a culpa que ela insistia a carregar. Não importava o tanto que repetiam isso, na sua cabeça, se tivesse chegado cedo naquele dia, podia ter evitado o que aconteceu.
 
Desde se aproximou mais de Lena, começou a deixar essa parte da sua vida de lado. Não olhava mais a sua pasta ou a sua caderneta de anotações. Não ficava todos os dias de manhã pensando sobre isso e se martirizando. Mas agora a angústia estava no seu peito.
 
Pior do que ver Lucy em seus sonhos a dizendo aquelas coisas, era acordar e se deparar com a realidade.
 
Tentando regular a respiração, olhou para lado e viu Lena adormecida. Se sentiu aliviada por não tê-la acordado com seu despertar repentino.
 
Na noite anterior, ficaram conversando e a morena pegou no sono. Não teve coragem de acordá-la para perguntar se ela queria ir para o seu quarto. Além disso, tê-la ao seu lado a fez se sentir tranquila o suficiente para dormir bem depois de semanas.
 
Sabendo que não conseguiria dormir de novo, desceu da cama devagar indo para o banheiro escovar os dentes e lavar o rosto.
 
 Se encarando no espelho, viu seu peito subir e descer de forma descontrolada. Sua respiração ainda estava pesada, tomar um ar fresco seria bom.
 
Andando pela casa rapidamente, chegou na cozinha e abriu a porta que dava para os fundos. Ao pisar na grama verdinha e molhada pelo sereno da noite, percebeu que estava descalço. Se curvando para colocar as mãos nos joelhos, sentiu como se tivesse corrido uma maratona.
 
Um ataque de ansiedade não estavam em seus planos.
 
Por longos minutos, ficou naquela posição até conseguir respirar normalmente. Esperava que aquilo não acontecesse de novo até o fim da operação. Tinha que se manter forte para pensar nas coisas que iria fazer e aguentar o poderia vir.
 
Passando as mãos no rosto, subiu a pequena escada da varanda e secou os pés no tapete que estava na entrada da porta. Como já estava na cozinha, faria algo que a distrairia.
 
Pouco a pouco, foi preparando o café da manhã. Lena havia mostrado onde ficava tudo, então não foi complicado de achar as coisas que precisava.
 
Como Lizzie tinha dito que gostava de bolo de chocolate, fez um para agradá-la e outro de laranja, que era do agrado de Lena. Assou alguns pães de batata que havia achado no congelador. Faltava apenas fazer o chá favorito de Lena e algumas torradas.
 
Verificando mais uma vez os bolos — que já estavam quase prontos — assim que fechou forno e se virou, encontrou Lizzie sentando em um dos bancos da ilha da cozinha.
 
— Bom dia, Kara! — coçou os olhos. Ainda estava sonolenta.
 
— Bom dia, Lizzie! — sorriu. — O que faz acordada a essa hora?
 
— Você viu a mamãe? Eu fui no quarto dela me deitar com ela, mas ela não tá na cama.
 
— E-ela... ela... — não sabia se deveria dizer aquilo, pois não fazia ideia de como Lizzie iria entender, mas ela estava acordada e iria acabar vendo Lena sair do quarto de hóspedes. — Ela está no meu quarto.
 
— Porque? — a olhou com cenho franzido.
 
— Ontem a noite nós estávamos conversando, ela acabou dormindo e eu não quis acordá-la. Ela estava bastante cansada.
 
— Então vocês dormiram juntas?
 
— Não — negou com a cabeça. — Ela ficou na cama, e eu me deitei no chão.
 
Era horrível mentir para uma criança, mas se sentia em um beco sem saída. Tinha passado quase a noite inteira abraçada a Lena, só que não iria dar essa informação. Lena nunca havia levado ninguém naquela casa, Lizzie era uma garotinha esperta e não queria que ela imaginasse coisas que não existiam. Então era melhor esconder certas informações. Mais tarde falaria com Lena sobre aquilo.
 
— O que vocês conversaram?
 
— Sobre você. Ela me disse que estava muito feliz por estar aqui com você — essa conversa realmente existiu. — Falamos de nossos trabalhos e então ela dormiu.
 
Lizzie semicerrou os olhos ficando pensativa. Kara temeu pelo que poderia sair da boca dela.
 
— Você tem namorado, Kara?
 
— Não, Lizzie. Não tenho namorado.
 
Ainda com os olhos quase fechados, Lizzie remexia a boca para um lado e para o outro.
 
— Então você é igual a mamãe.
 
— Como assim igual a sua mãe? — perguntou com certo cuidado.
 
Não queria causar confusão na mente criança e muito menos falar coisa que não deveria, mas agora temia que tivesse feito tudo errado.
 
— Solteira.
 
— Ah! Sim — concordou. — Eu sou solteira como a sua mãe.
 
— O que está fazendo? — apontou com o queixo para o forno que estava a luz ligada. — O cheiro tá bom.
 
— Bolo e pães de batata para o café da manhã. E adivinha de que sabor eu fiz.
 
— Chocolate? — perguntou animada.
 
— Sim, o nosso favorito. Eu estava pensando em levar o café da sua mãe na cama e depois fazer o mesmo com você — apoiou os cotovelos no balcão se inclinando um pouco para frente. — Já que você acordou, que tal me ajudar a fazer essa surpresa para sua mãe?
 
— A gente podia colocar uma rosa na bandeja, igual nos filmes — desceu da banco indo até Kara. — Eu podia fazer um desenho pra ela, assim quando ela for embora, ela vai se lembrar de mim.
 
Soltando um suspiro, Kara sentiu o peito doer mais uma vez. Era muito provável que todas as vezes que Lizzie falasse algo daquele tipo, iria sentir seu coração despedaçar.
 
— Ela nunca esquece de você, Lizzie — deu um passo para o lado desligando os dois fornos. Sabia que o bolo e os pães estavam prontos. Dando um passo para frente, pegou Lizzie e a colocou sentada em cima da bancada. — Não precisa fazer desenho para ela se lembrar, ela nunca esquece de você. Sua mãe te ama demais para isso acontecer. Pode fazer quantos desenhos quiser, mas não precisa pensar assim para fazê-los.
 
— Eu tenho medo dela me esquecer — olhou para baixo. — Mary fala que isso não vai acontecer, mas ela não vê a mamãe todo dia pra saber.
 
— Isso não vai acontecer, Lizzie — segurou o queixo da pequena para a olhar. — Eu a vejo todos os dias, e todos os dias ela me diz o quanto ela sente sua falta e o quanto te ama.
 
— Você ainda vai cumprir a promessa, não vai?
 
— Eu vou. Eu não quebro as minhas promessas.
 
Suas palavras tiveram um gosto amargo. Com Lucy, havia quebrado duas promessas numa mesma noite, a que a protegeria e que chegaria para o jantar.
 
— Então... depois você me ajuda a fazer um desenho bem bonito para ela? — a olhou nos olhos de um jeito pidão.
 
— Claro! A gente faz quantos desenhos você quiser.
 
Havia um sorriso sapeca no rosto Lizzie quando ela voltou a semicerrar os olhos.
 
— Já que eu não preciso fazer desenho para a mamãe lembrar de mim, e você disse que também levaria café na cama para mim... Se eu deitar do lado dela, você ainda leva café na cama pra mim?
 
— Levo — assentiu com a cabeça. Desceu Lizzie da bancada. — Vai pra cama enquanto eu arrumo tudo aqui.
 
A alegria estampada no rosto de Lizzie fez Kara sorrir.
 
Com a mesma pressa do dia anterior, a garotinha saiu correndo, mas logo voltou correndo para perto de Kara.
 
— Você pode abaixar um pouquinho? — pediu piscando os olhinhos várias vezes. Assim que Kara se abaixou, a abraçou e deixou um beijo estralado em rosto. — Quero um pedaço de bolo bem grandão — disse já voltando a correr pela casa.
 
— Crianças — murmurou para si mesma balançando a cabeça.
 
Nos minutos seguintes, Kara preparou uma bandeja com comida para Lena e Lizzie. Como a pequena sugeriu, enquanto fervia a água para fazer chá, foi até o jardim e pegou uma rosa para cada uma. Depois de tudo pronto, cuidadosamente fez o caminho de volta ao quarto em que passou a noite.
 
Abrindo a porta do quarto e tentando não derrubar tudo, Kara viu Lizzie abraçada a Lena que continuava dormindo. Atravessando o quarto, colocou a bandeja em cima da penteadeira e foi até as duas.
 
— Ei, garotas do meu coração — disse baixinho se sentando na cama ao lado de Lizzie. — Eu tenho uma surpresa para vocês.
 
A pequena Luthor tinha levado muito a sério aquilo, pois ela fingia que estava dormindo, mas Kara conseguia ouvir seus risinhos abafados por estar com o rosto nas costas da mãe.
 
— Acordem — começou a fazer cocegas em Lizzie. — O café vai esfriar.
 
— Eu já acordei — a garotinha respondeu rindo.
 
— Sua mãe deve estar em um sono muito bom.
 
— Mamãe — deitou por cima dela. — Eu e a Kara temos uma coisa pra você. Mamãe? — cantarolou.
 
— O que foi, Lizzie? — começou a se remexer.
 
— Eu e a Kara trouxemos café pra você.
 
Kara apenas riu com o que Lizzie estava fazendo. A danadinha queria levar crédito por algo que não fez, mas nem tinha coragem de desmenti-la.
 
— Café? — Finalmente se sentou na cama olhando para a filha e a loira que agora estavam próximas.
 
— Sim, trouxe o café para vocês — buscou a bandeja a colando entre mãe e filha.
 
— E eu dei ideia das rosas.
 
— Uma rosa para você — Kara entregou a vermelha para Lena. — E uma para você — entregou a de cor rosa para Lizzie.
 
— Rosas cor de rosa são as minha favoritas. Obrigada, Kara.
 
— Obrigada — Lena sorriu para Kara e depois deu um beijo no rosto de Lizzie. — Por que tudo isso?
 
— Acordei cedo. Você me disse que Mary vai estar de folga esses dias, então eu quis agradar minhas garotas.
 
A principio, começou a fazer o café para se distrair, mas depois realmente pensou em fazer aquilo para agradar as duas. Sua vida pessoal e profissional estavam uma bagunça, mas se pudesse amenizar as coisas para Lena e Lizzie, faria com todo o prazer.
 
— O bolo está maravilhoso, Kara. Melhor que o da Mary.
 
— Não fala de boca cheia, Lizzie.
 
— Desculpa, mamãe — respondeu com a boca ainda cheia.
 
— Vou deixar vocês aproveitarem.
 
Se curvando por cima da bandeja, depositou um beijo na testa de Lena e depois na de Lizzie.
 
O dia passou lento. Lento demais para uma pessoa que estava ansiosa como Kara. Não queria pensar em Lucy enquanto estava com Lena e Lizzie, queria estar inteira para elas. Queria ao menos aproveitar aquilo que estava vivendo. Tinha que aproveitar antes que as futuras consequências de seus atos passados e presentes — as promessas feitas no dia anterior e cada coisa arriscada que continuava fazendo — começassem a aparecer.
 
Ao menos, passar a tarde desenhando com Lizzie a fez se distrair um pouco. Vê-la sorrindo, mostrando todas as folhas em que estava desenhado ela e a mãe, fez seu coração se encher de um sentimento muito bom e puro. Desejava ser parte daquilo quando conseguisse livrá-las dos outros Luthors. O problema era se as livrasse e não fosse parte.
 
Já de noite, mais uma vez usou seus dotes culinários para distração e para agradar mais um pouco as duas outras pessoas que queria desesperadamente cuidar e proteger de tudo.
 
Durante o jantar, Lizzie não deixou um minuto sequer de elogiar cada coisa que comia. Sem contar que sorria a todo momento e olhava para mãe com os olhinhos brilhando.
 
— Lizzie, vai escovar os dentes que eu já vou te colocar para dormir — disse assim que viu que a filha tinha acabado de comer a sobremesa.
 
— Mamãe, tá cedo — choramingou.
 
— Amanhã você tem aula.
 
— Deixa eu faltar e ficar com você — fez um biquinho. — Se eu for pra escola, eu vou ficar menos tempo com você, e já já você vai embora. Ou careca do Lex, ou a chata da Lilian vem te buscar, igual no ano passado. Deixa eu ficar mamãe.
 
Observando aquilo, Kara — que estava de frente para Lena — viu seu olhar vacilar.
 
— Só amanhã — respondeu à filha. — Vai escovar os dentes que eu já subo.
 
Contente pela resposta que teve, a garotinha deu um beijo de boa noite em Kara e saiu saltitante da cozinha.
 
— Está tudo bem? — segurou a mão de Lena que estava sobre a mesa.
 
— Não. Nada está bem. Vou te ajudar aqui — se levantou pegando um prato — e vou...
 
— Não — se levantou também tirando o prato das mãos de Lena. — Vai ficar com a Lizzie. Ela precisa de você. Eu arrumo tudo aqui.
 
— Eu já volto.
 
Aquelas pequenas situações em que tudo ficava tenso, fazia Kara querer entender melhor o porquê faziam aquilo com Lena.
 
Sem pressa, começou a tirar a mesa do jantar. A casa tinha lava-louças, mas preferiu fazer do modo convencional. Precisava se manter ocupada.
 
Não sabia quanto tempo tinha se passado desde que havia ficado sozinha na cozinha, mas quando guardava o último prato, sentiu dois braços a enlaçá-la pela cintura.
 
— Quando eu engravidei de Lizzie — apoiou a cabeça nas costas da mais alta. — Eu estava no último ano de faculdade. Estava numa festa de uma das fraternidade. Conheci um cara legal e... nove meses depois a Lizzie chegou.
 
— Ele sabe da existência dela? — fechou a porta do armário acima da sua cabeça, mas continuo na mesma posição.
 
— Não. Só o vi naquela noite — respirou fundo. — Eu terminei os estudos poucos meses antes dela nascer. Lilian e meu pai não apareceram na formatura, o que eu já imaginava e me deixou aliviada. Só uma pessoa sabia da gravidez.
 
— Quem?
 
— Andrea Rojas. Ela era a minha melhor amiga na época e a última pessoa em quem eu realmente confiei até te conhecer.
 
Se virando devagar, Kara se encostou no armário e encarou Lena. Os olhos verdes estavam marejados e seu semblante triste. Suas mãos ainda continuavam em Kara, sentia que se a soltasse não conseguiria falar mais nada.
 
— O que mais?
 
— Eu tinha dinheiro de uma pequena herança que recebi da minha mãe — engoliu seco. — Ela morreu quando eu tinha quatro anos num acidente de avião. Foi assim que eu fui parar na família Luthor. Lionel, meu pai biológico, me adotou quando soube da morte dela. Mas, enfim. Com o dinheiro que eu tinha, eu vim pra Irlanda. Eu queria me esconder. Não demorou muito e Lizzie nasceu.
 
— Eles te acharam? — viu Lena assentir. — Como?
 
— Andrea contou. Lizzie tinha dois anos quando isso aconteceu. Ainda não entendo o porquê ela fez isso — sua voz saiu trêmula. Queria chorar. — Eu estava vivendo uma vida simples, cuidava da Lizzie, trabalhava numa lanchonete e tudo estava bom para aquele momento. Até que eles apareceram. Eu sabia que Lex e Lilian não estavam ali por que sentiram minha falta. Estavam pra fazer da minha vida um inferno.
 
— Não precisa continuar se não quiser — colocou as mãos em seus ombros. — Não quero te ver chorar por isso.
 
— Eu quero que você saiba. Sem segredos, lembra? — respirou fundo mais uma vez. — Para eles, eu ter tido Lizzie era ruim para a imagem de família perfeita dos Luthors, ainda mais uma criança de pai desconhecido. Eles queriam a dar para adoção. Disseram que eles podiam fazer isso, e que ninguém ficaria do meu lado ou acreditariam em mim se eu tentasse contar o que pretendiam fazer, por que eles tinham nas mãos deles quem eles quisessem.
 
Estava com o coração doendo de novo por tudo o que estava ouvindo, mas Kara queria saber mais. Então ousou a fazer outra pergunta.
 
— O que aconteceu para desistirem dessa história adoção?
 
— Lex e Lilian não desistiram. Até hoje quando eu me nego a fazer as coisas do jeito deles, eles me ameaçam — uma lágrima caiu de seu olho esquerdo. — Eles dizem que vão sumir com ela e que eu nunca mais vou vê-la. E eles podem fazer isso, Kara. E se tiverem chance, eles fazem. Só não gosto de pensar que fariam pior. Lex não gosta da ideia de ter que dividir o que era só pra ser dele com outra pessoa. Imagina com duas.
 
— E seu pai aceita isso? Você é filha dele, como pode ele aceitar?
 
— Meu pai traiu Lilian, e assim eu nasci. Desde então, ele só faz o que ela quer. E Lex pode fazer tudo que ela encobre — fez uma pausa. — Para continuar com a imagem de família unida que eles insistiam em passar, meu pai fez um acordo comigo. Eu deixaria Lizzie e voltava com eles para Metrópolis, iria trabalhar na Luthor-Corp e fazer o que eles achassem necessário. No nono aniversário de Lizzie, eu receberia parte da minha herança como Luthor e poderia seguir minha vida. E foi assim que vendi minha alma ao diabo e há sete anos venho fazendo o que eles querem.
 
— Por que Lizzie não tem Luthor no nome? Eles que mudaram ou algo assim?
 
— A registrei com o nome da minha mãe biológica, Elizabeth Walsh. Fiz isso para eles não saberem da existência dela. Só não contava com Andrea dizendo tudo — abaixou os olhos por alguns segundos e depois voltou a encarar a loira. — Eles escondem que sou filha biológica de Lionel, a minha adoção e agora a Lizzie. Tudo para manter a boa imagem na sociedade. E assim, Lizzie veio parar aqui sendo criada pela minha ex-babá. Ao menos, em Mary eu confio. O pouco que recebi de atenção quando criança, veio dela. Faltam sete meses para isso acabar, segundo o acordo que fiz com meu pai. Mas nada os impede de me prenderem por mais sete anos ameaçando me tirar minha filha. Você me acha covarde por ter aceitado isso?
 
— Não — segurou seu rosto. — De maneira alguma. Você é a pessoa mais corajosa que conheço. Você só quis proteger a Lizzie. Não se ache covarde por isso — a abraçou forte. — Eu sinto muito por isso, Lena. Eu sinto mesmo.
 
Lena chorou copiosamente dentro daquele abraço. Era a primeira vez que falava tudo aquilo em voz alta e era bem mais assustador do que guardar para si.
 
O tempo foi passando, Kara continuava a apertando forte enquanto mexia em nos cabelos escuros mesmo Lena já tendo parado de chorar há alguns minutos. Ficaria ali a noite inteira se fosse preciso.
 
Com tudo o que viu, sabia que Lex tinha motivos — na cabeça doentia dele — para tentar matar Lena. No último ano, os atentado à vida dela aumentaram e o que descobriram nas investigações levava a algum Luthor. Se ele continuava tentando matá-la é porque Lionel deveria estar disposto a cumprir o acordo. Se Lena não tivesse Lizzie, não haveria acordo nenhum e por isso tantos ataques a ela.
 
Para Kara, muito provavelmente, Lex e Lilian só mantinham Lena por perto por causa de Lionel. Isso até podia explicar eles irem atrás dela quando souberam da criança. Se Lena deixasse Lizzie ir para adoção, a imagem deles ainda permaneceria intacta e ninguém saberia que a herdeira mais nova dos Luthors teve uma filha de pai desconhecido. Mas, quando dinheiro entrou no jogo, deve ter sido o estopim para despertar a ira de Lex e de sua mãe. E ainda era bem possível Lionel saber de tudo e se fingir de cego.
 
— Obrigada por me ouvir — disse baixinho se afastando um pouco para olhar Kara. — Você nem imagina como é bom poder contar isso e ter apoio. Eu sempre achei que se dissesse algo a alguém, ninguém acreditaria em mim.
 
— Eu vou estar sempre aqui por você.
 
Tendo um minúsculo sorriso nos lábios, Lena encostou sua testa na de Kara e fechou os olhos. Segundos depois, a beijou sentindo que o beijo havia pegado próximo de sua boca. Levando sua mão direita até o rosto quente e de pele macia, usou o polegar para continuar os lábios que quase havia acabado de beijar.
 
Imóvel, Kara só aproveitava a sensação de ter Lena tão próxima e o seu toque delicado. Já previa o que viria a seguir e não queria evitar, mesmo com uma parte sua dizendo que deveria. Mas antes de se decidir, sentiu os lábios de Lena nos seus em um beijo simples que fez tudo dentro de si revirar. Seu coração quase rasgou seu peito de tão forte que ele batia.
 
— Eu acho que gosto de você — sussurrou ainda com os olhos fechados e com sua respiração se misturando com a de Kara por causa da aproximidade.

— Eu tenho certeza que gosto de você e não é pouco  — a segurou com uma mão na cintura e a outra com os dedos na nuca entranhados em seus cabelos.

Kara tomou a iniciativa de um novo beijo. Sua boca procurava pela de Lena desesperadamente. Estava adorando os lábios com gosto de vinho sobre os seus. Em como suas línguas dançavam sem perder o ritmo. E como o corpo delas se encaixavam bem.

Quando o ar faltou, Kara a deu um longo e carinhoso selinho para encerrar aquele beijo e então voltou a abraçá-la.
 
Sabia que estava apaixonada, o beijo só foi a certeza.
 
— Agora, mais do que nunca, eu vou ter que cuidar de você — disse baixinho no ouvido de Lena.
 
 
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The BodyguardWhere stories live. Discover now