21 A última coisa que viu

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Voltei!!!
 

Divirtam-se!!!
 
 
 
Na madrugada, Lena acordou com o som de trovão cortando os céus de Metrópolis. A chuva forte batia contra a janela e conseguia ouvir também o sopro do vento forte. Com o susto, seu coração tinha acelerado, mas aos poucos foi se acalmando ao sentir os braços fortes de Kara ao seu redor e o corpo nu, rígido e quente contra com seu.
 
Se lembrando de tudo que fizeram na noite anterior, os cantos de seus lábios se curvaram involuntariamente. Só de relembrar dos beijos, dos toques, dos olhares e todos o resto, sentiu seu corpo ser invadido por uma corrente elétrica e o frio na barriga surgir.
 
Tinha se entregado a ela de corpo e alma, e sentiu enquanto seus corpos vibravam juntos que Kara também esteve ali inteiramente para ela.
 
Seu vestido preto havia sido comprado na intensão de que Kara o tirasse. Seu batom vermelho foi usado, pois já tinha notado como ela encarava seus lábios quando estava com ele. O perfume também fez parte da sua estratégia, sabia que Kara gostava do cheiro dele.
 
Não tinha certeza se no fim da noite acabaria na cama da loira — como pensava em acabar — mas ficava contente por ter acontecido. E por estar ainda ao seu lado.
 
— Tem medo da chuva? — escutou a voz baixa próxima ao seu ouvido.
 
— Não, mas não gosto do barulho dos trovões — sentiu os lábios quente contra a sua pele —, eles sempre me assustam.
 
— Tem algum motivo para isso?
 
— Desde criança isso me incomoda — sentiu sua pele eriçar quando Kara começou a passar as pontas dos dedos entre seus seios. A sensação era incrível e a fez perder o rumo da conversa por alguns instantes. — Quando uma criança tem medo de trovão, geralmente ela corre para a cama da mãe. Eu nunca fiz isso, então os trovões continuaram me incomodando.
 
Vontade de estapear Lilian por nunca ter sido a mãe que Lena merecia era o que não faltava em Kara. Não entendia como alguém podia querer machucá-la e feri-la, ainda mais alguém que deveria amá-la e cuidá-la. Ela era tão maravilhosa que só merecia pessoas maravilhosas a sua volta.
 
Ao menos, a qualquer momento — um momento bem próximo, esperava — poderia acontecer de conseguir tirar aquela gente de perto dela. Só faltam as provas certas e concretas para não serem refutados num tribunal.
 
Um outro trovão estrondoso fez Lena se assustar dando um pequeno salto. Kara apertou os lábios para não rir, mas foi inevitável não soltar um som anasalado.
 
— Não tem graça rir do medo dos outros — falou com uma falsa irritação.
 
— Desculpa, meu bem — depositou um beijo atrás da sua orelha. — Fica pertinho de mim que eu te protejo do trovão mau. Medrosa — provocou.
 
— Kara! — choramingou. — Não te conto mais nada sobre mim.
 
— Desculpa — sorriu. — Não vou mais brincar sobre isso. Alguém já disse que você é linda até quando dorme?
 
Se remexendo um pouco para se espreguiçar, Lena sentiu seu corpo levemente dolorido de uma forma muito boa. Vagarosamente, se virou na cama ficando de frente para Kara.
 
— Ficou me vendo dormir? — arqueou as sobrancelhas.
 
— Sim, até a hora que você se virou e acabou sendo a conchinha menor — sorriu ao escutar e ver a morena rir divertida com aquele comentário. — Não vou contar pra ninguém que você gosta de ser abraçada depois do sexo. Vai ser nosso segredinho.
 
— Eu gostei por ser você a me abraçar. Eu gosto tudo o que vem de você — levou a mão esquerda até o rosto da loira contornando com o indicador todas as suas feições. — Você me deu uma noite incrível.
 
— Você também — deixou um beijo em seu dedo quando ele contornou seus lábios. — Seria bom dormir com você todos os dias e acordar assim. Te abraçaria quantas vezes você quisesse, mesmo se não fizemos nada a noite.
 
— Se continuar falando assim, eu vou ser obrigada a aceitar a sua proposta — grudou suas testas voltando a fechar os olhos.
 
— Então vou continuar falando até você aceitar.
 
— Boba.
 
Suas respirações estavam misturadas e pesadas. Enquanto sentia o afago em seu rosto, Kara deslizava seus dedos pelas costas da morena. Não tinha uma vez que estava perto de Lena e que não queria tocá-la. Era como se precisasse fazer isso para saber que ela era real.
 
— Posso confessar uma coisa?
 
— Pode — sua voz saiu um pouco arrastada. — Pode me dizer tudo o que quiser.
 
— Eu estou com medo — murmurou.
 
— De que?  — quis saber.
 
— De muitas coisas, mas a principal é de perder você — confessou sentindo uma pontada no fundo do coração. — Ter você comigo me deixa... me deixa em êxtase, em euforia. Ter essa noite ao seu lado foi a melhor coisa que me aconteceu em anos e eu não estou dizendo só pelo que fizemos, mas porque foi com você. Estou me sentindo feliz demais e tenho medo disso ser tirado de mim. De você ser tirada de mim.
 
— Ninguém vai me tirar de você — colou sua boca contra a dela em um selinho longo. — Não há nada que me faça ficar longe de você a não ser você mesma.
 
— Eu não te quero longe nunca mais — espalmou sua mão nas costas de Lena a puxando para mais perto.
 
— E eu não quero ficar longe. Eu gosto do jeito que você é tudo o que eu sempre quis.
 
— Você... — parou de falar afastando um pouco a cabeça para a admirá-la — você é mais do que eu podia imaginar ou querer. Não sei se mereço tanto.
 
O olhar de Kara demonstrava toda a sinceridade de suas palavras. O carinho que tinha por Lena também estava sendo refletido no azul dos seus olhos. Era só prestar um pouco mais de atenção que qualquer um via que ela olhava para Lena com ternura e paixão.
 
— Enquanto estiver comigo, não deixa de me olhar assim — pediu se sentindo acalentada por ter aqueles olhos sobre si.
 
— Assim como?
 
— Assim.
 
— Como se você fosse a mulher da minha vida?
 
Com o coração acelerado pelo que Kara disse — mesmo que fosse brincadeira as palavras a atingiram — aproximou mais seu rosto pincelando sua boca contra a dela. Quando sentiu a língua de Kara em seu lábio inferior, a beijou.
 
Diferente da noite anterior, o beijo foi calmo, lento, mas não menos prazeroso. Não estavam desesperadas por nada e nem tinham intensão de ultrapassar do beijo naquele momento. Suas mentes se desligaram de qualquer coisa e aproveitaram todas as sensações possíveis que o beijo as causava.
 
Aos poucos, Kara foi finalizando aquele beijo apaixonante com beijos castos no rosto e no pescoço de Lena que a fazia rir.
 
— Adoro o som da sua risada.
 
— E eu gosto de te ver sorrir — a deu um selinho rápido. — Quando eu te vi a primeira vez, eu te achei tão séria. Aí quando você sorriu, eu fiquei pensando o porquê não fazia isso com frequência.
 
— É porque eu não tinha você pra alegrar meus dias. Eu me sentia numa completa escuridão.
 
— Fica comigo que eu não deixo mais você voltar pra lá — seu tom de voz era carinhoso. — Você também me tirou da escuridão.
 
Deixando um beijo na testa de Lena, Kara virou barriga para cima, e a puxou para deitar sobre seu peito nu a abraçando amorosamente. A morena se aconchegou a ela enlaçando sua cintura com o braço e deixando seu rosto quase na curvatura de seu pescoço.
 
Por longos minutos, elas ficaram em silêncio aproveitando o momento. Kara tinha sua mão esquerda mexendo nos cabelos de Lena e a direita pousada sobre seu o braço fazendo círculos imaginários.
 
Se aquele era o paraíso, não entendia porque demorou tento para chegar nele.
 
A chuva ainda caia sem sessar do lado de fora. Estava um tempo ótimo para ficar abraçadinho com que se gostava. E Kara gostava muito, muito, muito de Lena.
 
— O que você está pensando, meu bem? — a voz de Kara quebrou o silêncio.
 
— Não vou falar. Você vai me achar emocionada demais.
 
— Eu achei que estávamos construindo algo sem segredos — usou seu tom brincalhão. — Me fala — insistiu.
 
— Se você rir, eu não te conto mais nada — levantou a cabeça para olhá-la.
 
— Não vou rir — garantiu.
 
— Desde que voltamos da Irlanda, eu fico pensando em mim, na Lizzie e você junto da gente. Aquele dia no parquinho foi importante pra mim. Fico me perguntando quando faremos aquilo de novo, sabe? Se você quiser, claro.
 
— Logo faremos isso. Eu não falhar com vocês — disse para convencer a si mesma que conseguiria cumprir suas promessas. — E eu quero isso tanto quanto você.
 
Apertando os lábios, Lena maneou a cabeça suavemente em afirmação.
 
Acreditava em Kara. Ela estava conseguindo manter Lizzie longe e a salva. Tinha certeza que não seria desamparada por ela.
 
— E você? No que está pensado?
 
— Em você.
 
— Especifica — pediu voltado a se aninhar ao lado da loira.
 
— Estou pensando em como eu me senti quando te vi a primeira vez. Em como me sinto toda vez que você me olha. Nessa noite que tivemos juntas... Passo boa parte do meu dia com você em meus pensamentos — fez uma pausa. — E pensando em Lizzie, porque ela é a número um no meu coração.
 
— Quando vou poder falar com ela de novo?
 
— Pode ser depois do café da manhã se você quiser. Tudo bem, assim?
 
— Tudo bem — respondeu com felicidade por saber que iria falar mais um vez com a filha.
 
— Volta a dormir — puxou o cobertor um pouco mais para cima cobrindo Lena até o pescoço. — Ainda é cedo e eu quero aproveitar muito esse momento com você — depositou um beijo no topo de sua cabeça.
 
Essa era a primeira vez depois de três anos que Kara tinha dormido com alguém. A última pessoa com quem havia estado era a sua falecida esposa. Depois dela, ninguém a interessou ou chamou sua atenção. Além disso, se sentia culpada demais para seguir em frete e se arriscar a tentar alguma coisa com alguém. A culpa ainda rondava seu ser, mas o que sentia por Lena abrandava tudo e a fazia passar por cima disso.
 
Não gostava de fazer comparações entre Lucy e Lena, e nem as achava justa. Porém, era inevitável não fazer isso às vezes — como agora.
 
Lucy foi a primeira pessoa que realmente amou e com quem fez planos para o futuro. Ficaram juntas por cinco anos e não tinha o que reclamar de seu relacionamento. Se amavam, eram compreensivas, se respeitavam e faziam de tudo para continuarem dando certo. A única chateação que tinha em relação a ela, era por Lucy não ter dito sobre o que investigava. Talvez ela não tivesse tido tempo, e não a culpava por omitir essa informação. Se chateava só por pensar que poderia ter pego quem a matou muito antes se soubesse.
 
Lena era a calmaria depois da tempestade. Era o sol brilhando forte nascendo numa manhã de verão e iluminando cada canto da terra. Era quem tinha reavivado sentimentos que achou nunca mais ser capaz de sentir. Gostava da maneira que ela se animava ao falar de algo que ela amava, como era gentil, educada e doce com todos. Gostava como ela a olhava nos olhos e sentia como se sua alma estivesse sendo despida. Gostava de pensar que eram boas o suficientes para conquistar o mundo juntas. Amava como ela era uma mulher forte, resiliente e uma mãe acima da média — apesar das circunstancias.
 
O que vinha sentido por Lena a cada dia, não sentiu em cincos anos ao lado de Lucy. Se sentia até mal ao admitir isso para si mesma, mas não dava para negar. De maneira alguma queria que Lucy tivesse morrido para conhecer Lena. Só que Lena a tinha de um jeito que Lucy não teve e nada tinha a ver por amar menos uma ou amar mais a outra. Cada uma significava uma coisa diferente em um momento diferente da sua vida.
 
Não era mais a mesma pessoa que era quando conheceu Lucy. Muito provavelmente, se tivessem se encontrado a essa altura da sua vida, não dariam tão certo como deram no passado. Seus pensamentos, alguns gostos, visão de mundo e todo o resto que um dia os aproximou, não faziam mais parte de seu ser.
 
Ainda sentia falta dela todos os dias, isso nunca passaria. Mas agora compreendia coisas sobre si mesma que não compreendia antes de conhecer Lena.
 
Com Lena a conexão era diferente. Eram duas mulheres maduras, que passaram por situações na vida que as machucaram, que viam uma na outra a força necessária para continuar a caminhada. Lógico que conseguiriam fazer isso sozinhas mais cedo ou mais tarde, mas uma puxava a outra para ir mais adiante.
 
Se tivesse conhecido Lena no passado, tinha certeza que iria gostar dela, mas, talvez, não dessem certo naquele momento.
 
Sua mãe sempre dizia que tudo tinha o seu tempo, que algumas coisas iam embora para outras chegarem. Infelizmente, perdeu Lucy e, felizmente, encontrou Lena. Não era uma substituição de pessoas, era começar a entender que estava tudo bem voltar a amar depois de uma perda.
 
E Kara, finalmente, tinha entendido.
 
Kara não tinha conseguido voltar a dormir, então continuou com seus carinhos enquanto Lena estava adormecida em seus braços.
 
Assim que o sol começou a nascer, se desvencilhou dela lentamente e foi tomar um banho. Debaixo do chuveiro, percebeu que Lena havia deixado algumas pequenas marcas em seu corpo e apenas sorriu se recordando de tudo.
 
Depois de se trocar, separou também roupas para Lena as deixando dobrada em cima da cama. Dando uma última olhada nela, suspirou apaixonadamente antes de deixar o quarto e ir para a cozinha.
 
Queria preparar para Lena um ótimo café da manhã com tudo que sabia que ela gostava. Mas, assim que abriu a geladeira e os armários, percebeu que não tinha quase nada em casa.
 
— Merda! — exclamou sentindo a barriga roncar. Estava com fome, se demorasse muito, era capaz de desmaiar por estar tanto tempo sem comer.
 
Olhando no relógio, viu que ainda não era nem sete da manhã. O mercadinho no fim da rua só abria a partir das nove e o 24 horas ficava a uns três quilômetros e meio dali.
 
— Merda! — disse de novo. Não estava em seus planos deixar Lena sozinha.
 
Não queria pedir comida pronta como fazia todos os dias, queria fazer igual quando estava na Irlanda e por isso decidiu que iria no mercado 24 horas. Se fosse rápido, comprasse as coisas e voltasse, talvez Lena nem tivesse acordado.
 
— Espero ter deixado ela bem cansada — balbuciou consigo mesma.
 
Voltando ao quarto, pegou uma blusa de moletom com capuz e a vestiu. Foi até sua escrivaninha pegando sua carteira a enfiando no bolso, uma folha de papel e uma caneta.
 
Em uma parte do papel escreveu um bilhete para Lena o colocando em cima das roupas que havia separado. Caso ela acordasse, não ficaria preocupada com sua ausência. Na outra parte do papel, colocou tudo que precisava para suas receitas matinais.
 
Antes de sair de casa, se aproximou da morena deixando um beijo em sua testa a cobrindo melhor.
 
Indo a até a garagem do prédio, pegou a sua moto e saiu rua a fora. Ao menos a chuva tinha cessado, não teria nada que a atrapalhasse e não a fizesse voltar para casa rápido.
 
Dez minutos depois, estava parando no estacionamento quase vazio do mercado. Com rapidez, se encaminhou até a entrada tirando a sua pequena lista do bolso da calça e indo a procura das coisas que precisava. Já que estava ali, aproveitaria para comprar algumas coisas para o almoço também.
 
Quando havia pegado tudo, deu uma última conferida. Vendo que não faltava mais nada, foi para o caixa. Cinco minutos depois já estava voltando para o estacionamento cantarolando baixinho uma música que a fazia se lembrar da morena de olhos verdes que a esperava em casa.
 
Era inevitável não sorrir ao se lembrar dela.
 
Parando em frente a moto, colocou as coisas dentro de uma bolsa que havia levado para facilitar a viagem. Antes que pudesse colocar a bolsa nas costas, sentiu sua vista começar a escurecer e seu corpo começar a cair com velocidade contra o chão.
 
Antes de fechar os olhos, a última coisa que viu foi a imagem de Lena — na sua mente — e então apagou de vez.
 
******
 
Com o tempo frio e chuvoso de Metrópolis, Alex estava abraçada a Samantha no sofá da sala. Elas assistiam a algum programa sobre casos criminais — era um gosto que tinham em comum.
 
Por causa de tudo que vinha acontecendo, começaram a se aproximar. Já se conheciam há alguns anos e vira e mexe acabavam indo parar na cama da outra. Porém, dessa vez, estavam experimentando algo diferente do que faziam antes.
 
A atenção de Alex saiu do programa de TV quando seu celular começou a tocar.
 
— Quem é? — Sam perguntou vendo Alex pegar o aparelho dela.
 
— Lena — respondeu assim que leu o nome na tela. — Deve ser para eu levá-la pra casa — tirando seu braço dos ombros de Sam, se ajeitou no sofá e atendeu a chamada. — Alô?
 
— Alex, é a Lena.
 
A ruiva franziu o cenho, só seus colegas de equipes a chamavam de Alex ultimamente.
 
— Oi, Lena. Precisa que eu te busque?
 
— Na verdade, não — disse nervosa. — Você está com a Kara?
 
— Não. A última vez que a vi foi quando deixei vocês no apartamento dela.
 
— Ela está com a Sam?
 
— Não — sacudiu a cabeça negando. — Sam está aqui do meu lado. O que está havendo, Lena? — perguntou preocupada.
 
— A Kara sumiu.
 
 

:)

The BodyguardWhere stories live. Discover now