49; confession...

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Algumas horas haviam se passado desde o ocorrido anterior tão desagradável. Sem a mínima vontade de voltar para os apartamentos Addison, você seguiu para um parque não muito distante. O mesmo parque de seu primeiro encontro com Sal…


Você estava sentada sobre um dos bancos que era um pouco mais afastado dos diversos brinquedos, mas que ainda te dava uma boa visão das crianças brincando por ali. Seu olhar estava preso em um grupinho de crianças brincando na área dos balanços, as mesmas riam e conversavam alegremente, antes de correrem até a direção do escorrega. Um sorriso automático se erguia no canto de seus lábios, junto com as várias imaginações que começavam a surgir em sua mente.

Um suspiro involuntário escapou pelos seus lábios, enquanto você se questionava quando todo esse pesadelo iria ter um real fim. Isso se tivesse…

Estava tão cansada a essa altura do campeonato, que apenas sentia vontade de jogar tudo para o ar e desistir. E saber que seus amigos não tinham mais confiança em sua pessoa, te deixava mais propícia a esses pensamentos. Mas não podia, havia ido longe demais para abandonar o barco agora.

Se recordava das palavras de Rosenberg, sobre a história de se "afastar". E isso, sem dúvidas, era um ponto que te deixava com medo. Como poderia simplesmente se afastar assim? As coisas com certeza não iriam soar bem para aquela seita satânica, e tinha medo que isso agilizasse seus planos. Mas, tinha noção também que Rosenberg sabia muito mais que você sobre essa história toda, e que deveria manter uma confiança nela sem hesitar.

Mas estava tão perdida naquele momento…

Você suspirou jogando a cabeça para trás, mantendo seus olhos vidrados para o céu. O tempo estava começando a fechar, e nos últimos tempos, até isso te deixava angustiada.

As palavras de Larry ressoavam por sua cabeça, e o olhar duro do rapaz estava gravado em suas lembranças recentes. Aquilo a trazia uma mágoa muito grande, mas não podia culpá-lo, por mais que ele nem tivesse te dado oportunidade para falar. Sabia que ele estava irritado, e que as prováveis lembranças sobre seu próprio pai começavam a surgir. Se ele soubesse que Jim também estava a guiando em todo esse processo…

Você apertou as mãos com força, ainda muito aflita com toda a situação. Talvez fosse inútil continuar tentando tantas vezes forçar alguém a te ouvir contra a própria vontade, mas você não se importava. Tentaria novamente, e jurou a si mesma que aquela seria a última vez.

[...]

Lá estava você mais uma vez, parada em frente ao portão. Aquela sensação vergonhosa e humilhante estava começando a se fazer presente, e por um momento o que mais queria era dar as costas e ir embora. Mas não iria.

Forçou seus passos até a entrada, com uma determinação mínima, mas permaneceu com o que queria em mente. Dessa vez a ideia de bater na porta nem lhe passou mais pela cabeça, simplesmente levou sua mão até a maçaneta e abriu a porta, olhando ao redor engolindo o seco.

A casa estava estranhamente silenciosa, e quase conseguia ouvir os batimentos super acelerados de seu coração. Respirou fundo, tentando acalmar as diversas sensações que te atingiam, e seguiu com seus passos pela cozinha em silêncio, olhando ao redor vez ou outra, como forma de tentar distrair um pouco seu nervosismo.

Que irônico chegar ao ponto de se sentir à beira de um colapso por entrar na casa onde, tempos atrás, seria sua moradia.

Quando finalmente estava próxima do cômodo da sala, pôde ouvir o som da TV ligada. Pensou por um momento que poderia ser Gizmo assistindo a alguma coisa, mas o estilo baixo do rock atingindo seus ouvidos te fez ficar atenta. Não demorou para ver a figura do rapaz de cabelos longos largado sobre o sofá, com sua atenção tão fixa na TV que por um momento, nem notou sua presença ali.

Ainda em passos silenciosos você se aproximou do cômodo, respirando fundo várias vezes antes de finalmente parar perto do sofá, sem dizer nada. E, não demorou para Larry levar a atenção até você, erguendo a sobrancelha automaticamente assim que te viu.

— Deve ser algum tipo de piada… — o mais velho comentou logo após se levantar do sofá, arrumando os cabelos antes de ajeitar a postura e cruzar os braços — De novo? O que você quer dessa vez? Sal não está em casa novamente porque foi atrás de você, não tem motivo para estar aqui.

— Tem sim — você respondeu, dessa vez curta e grossa — Eu vim para falar com o Sal, evidentemente. Mas, já que ele não está, eu não vou sair daqui até você não largar de ser cabeça dura e me ouvir também.

— Então que fique plantada aí, eu não tenho nada pra conversar e nem mesmo quero ouvir nada vindo de você — Larry respondeu com os olhos pairando sobre você, que conseguiu o notar engolir o seco.

— Ah você tem sim — apontou. — Eu entendo que esteja irritado comigo, Larry. De verdade, eu nem mesmo tiro a sua razão sobre isso.

— Não, você não entende! — ele aumentou o tom de voz — Não foi você quem depositou confiança em uma pessoa que te apunhalou pelas costas como você fez comigo e principalmente com o Sal!

— Eu não apunhalei ninguém pelas costas! — você se aproximou, começando a se irritar também — Eu apenas queria ajudar! Tudo o que eu fiz foi pra tentar ajudar todo mundo, e evitar que coisas ruins acontecessem! — aumentou o tom de voz, apontando para o rosto do rapaz — E dito isso, eu estou querendo citar também o fato de eu ter lutado a todo custo para tentar evitar a porra do seu suicídio!

Naquele momento, o mais velho se calou. Você notou o vacilo em seus olhos, que não demoraram para se desviar do seu encontro. Viu o mesmo fechar as mãos em punhos, parecendo evitar a todo custo olhar para você.

— Aposto que você nem mesmo sabia disso, não é? — você continuou, suspirando — Com certeza não deixou nem o Todd e nem Sal explicarem esse ponto para você…

— E o que isso importa agora? — o mesmo retrucou, olhando para você finalmente. Nitidamente algo estava diferente em seus olhos agora, por mais que ele tentasse disfarçar — Você espera que eu me ajoelhe diante de você e te agradeça? Ignorando o fato de que você ainda está trabalhando pra essa seita e participando de toda a lambança satânica!? Se é isso que você quer, já pode ir embora — e então, ele finalmente deu as costas seguindo para as escadas.

— Larry! — você reclamou indignada, seguindo os passos do mais velho, que iam até o corredor de cima — Você não entende! Você precisa me ouvir, isso não é nem parte de toda essa merda!

— Eu não quero ouvir nada! — ele retrucou sem se virar para você, continuando com os passos firmes seguindo para o próprio quarto.

Você respirou fundo apertando as mãos com força, mordendo o interior da bochecha quase ao ponto de fazê-la sangrar. Estava tão exausta de toda essa discussão, não queria que Larry lhe desse as costas, queria que ele ouvisse, precisava que todos estivessem juntos nessa.

Estava se humilhando mais uma vez, desde que havia tentado entrar no culto a todo custo, e isso já nem mesmo importava na altura do campeonato. Sua vida estava sendo uma montanha russa que só seguia para baixo, o que mais de pior poderia acontecer?

E então, depois de segundos que mais pareceram uma eternidade, você finalmente decidiu abrir a boca para dizer:

— Eu estou esperando um filho do Sal…

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Olá vidas, como estão?

Bem, acho que não era novidade que a protagonista vulgo sn, está grávida. Sei que tem gente que não gostou de eu enfiar esse ponto aí no meio, ou achou "desnecessário". Mas, infelizmente eu não posso agradar todo mundo, certo?

E por último:

Não, a sn não vai entregar a criança para o culto, matá-la ou qualquer outra coisa semelhante :)

Enfim, se cuidem ✨



Obscure Love ; Sally FaceWhere stories live. Discover now