Capítulo 2

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Isabella Bacelar

Levi entrou pela porta, levemente bêbado e isso era novidade. Ele sempre foi controlado com bebida. Levi estava feliz, sorrindo atoa e eu nunca tinha visto essa versão dele, mesmo nós nossos melhores momentos. Ele entrou com o cabelo desarrumado. Com o blazer e a gravata pendurada no braço, a blusa social um pouco aberta. Entrou e fechou a porta, parou na minha frente e se sentou no sofá ao meu lado, me olhou sorrindo. E nesse momento eu estava aliviada, ele estava bem, isso que importava. Ele deve ter saído com os amigos, provavelmente comemorando um novo contrato.

- Isabella. Estou muito feliz sabe porque? Vou ser pai. Eu posso ser pai. Eu vou ser pai. – Ele fala animado.

Senti meu corpo adormecer, eu fiquei paralisada. Eu não estava grávida. Tinha certeza disso, fizemos o último exame e pouco tempo e nada de gravidez. Então como ele seria pai? Ele sorria e falava a palavra pai e eu comecei a sentir uma pressão na nuca. Tentava mexer meu corpo mas não conseguia.

- Você não pode ser mãe e eu.... Eu queria um filho. Fizemos de tudo e não conseguimos. Então eu quero o divórcio. Vou viver com a minha família, com a mulher que pode me dar filhos, que não travou o útero. Quero que arrume as suas coisas. Ela vai se mudar em breve, amanhã na verdade. – Ele termina e levanta.

Levi vai andando até o nosso quarto, do nosso apartamento que naquele momento eu me dei conta de que era dele, apenas dele .. Dele e da nova mulher. Dele como sempre foi. Meu coração estava acelerado, a sala estava encolhendo. Aquelas palavras ecoavam na minha cabeça “ você não pode ser mãe “ e gritavam na minha mente. Eu puxava o ar mas não vinha, fazia força e não conseguia respirar. Sentia vontade de chorar e não conseguia. “ Você não pode ser mãe “ “ Ela vai se mudar” tentei me levantar do sofá mas não tinha força nas pernas. Tinha um zumbido no meu ouvido que só diminuiu quando eu escutei a voz de Levi.

- Sim meu amor. Cheguei em casa bem. Amanhã nos encontramos. Te amo. – Ele falava ao telefone com alguém de forma carinhosa como nunca falou comigo.

Levi nunca foi carinhoso dessa forma, falava “ eu te amo “ de maneira fria. Eu sentia o mundo desmoronar e cair sobre a minha cabeça. Me levantei com dificuldade e fui me arrastando até o quarto. Levi estava tomando banho com a porta fechada. Eu me sento na cama para não cair. Olho para o quarto que eu estava morando a um tempo, dois anos e cinco meses e me dói a forma como tudo está acontecendo, como tudo está terminando, ou nunca começou.

Me assusto com Levi saindo do banheiro enrolado na toalha, ele me olha sério sem o sorriso de antes e me questiona se eu já tinha feito minhas malas. Tento responder ou me mexer mas não consigo. Ele já estava vivendo essa vida a um tempo, Mas eu tinha acabado de descobrir que meu relacionamento tinha acabado, que meu casamento já tinha acabado a um tempo e eu não sabia.

Levi começa arrumar as minhas coisas. E eu ainda estava sentada em choque tentando digerir o que estava acontecendo, enquanto ele estava muito confortável com a situação, como se fosse algo combinado, como se as duas partes já soubessem. Ele terminou de arrumar tudo , colocou todas as minhas roupas e coisas importantes nas minhas malas e nas malas dele de viagem.

- Bem... Todas as suas roupas estão aqui. As outras coisas eu mando depois. Pode ficar com as minhas malas. Eu compro outras depois. Vou falar com o nosso advogado sobre o divórcio, vamos organizar tudo através dele. – Ele me olha – Já ligou para o seu pai ?

- Grávida de quantos meses ? – Respondi automaticamente.

- 11 semanas. Só sei isso. – Ele fala de forma automática – Já ligou para o seu pai vir de buscar?

- Já. – Falo digerindo as semanas.

Levi foi andando com as minhas bolsas para a porta. Eu queria reagir, gritar, chorar , dizer que não ia embora. Mas a ficha não tinha caído ainda.  Onze semanas, quase três meses. E quanto tempo mais antes dessa gravidez vir? Eu não estava acreditando que isso estava acontecendo. Meu marido chegando em casa bêbado dizendo que estava me traindo e que seria pai. Quando me dei conta minhas malas estavam na recepção, o porteiro estava me olhando sem entender o que estava acontecendo. Levi deixou tudo e voltou para o elevador. Quando ele saiu o porteiro se aproximou com um olhar de pena.

- São quase três horas da manhã. A senhora vai sair agora... Com todas essas malas? – Ele ficou me olhando mas eu não conseguia responder. – Quer que eu chame um táxi? – Eu apenas confirmei.

Em alguns minutos o táxi chegou e o porteiro me ajudou a colocar as malas dentro do carro. Eu estava anestesiada. Parece que eu estava fora do meu corpo, eu queria reagir, queria mesmo. Mas não conseguia. O porteiro ainda me perguntou se eu não poderia viajar mais tarde, ou se meu marido não poderia me levar no aeroporto porque era perigoso. Eu não consegui responder. Entro no carro e vejo o motorista falar alguma coisa através do espelho central.

- Senhorita... Qual o endereço? – Ele pergunta de novo sem paciência.

Pra onde eu iria a essa hora. Olho o relógio e vejo que já era três horas da manhã. Penso em ir para a casa do meu pai. Mas nesse horário ele estaria dormindo e ficaria furioso se ficasse sabendo de tudo isso. Respiro fundo o dou o endereço do hotel que era próximo. Minutos depois o motorista chega no hotel, logo aparecem dois homens para me ajudar com as malas. Eu passo pela recepção, faço o check in e me levam até meu quarto. Entro vejo os homens colocando minhas malas no chão do quarto, eles se despedem e fecham a porta. Sento na cama e fico pensando em tudo o que tinha acabado de acontecer.

Eu passei aquele noite sentada na cama tentando entender o que estava acontecendo

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Eu passei aquele noite sentada na cama tentando entender o que estava acontecendo. No dia seguinte fui para a empresa como se nada tivesse acontecido. Fiquei no hotel por uma semana até que tive coragem de contar para o meu pai. Ele ficou furioso e foi até a casa de Levi. Os dois brigaram e meu pai foi parar no hospital. E tudo voltou a minha mente, toda a dor. Tudo. Finalmente a ficha caiu.

Eu me mudei para a casa do meu pai. Ele morava com a Marina a quinze anos. Minha mãe morreu quando eu era muito nova. Durante muito tempo meu pai se fechou, mas assim que conheceu Marina tudo mudou, ele voltou a ser feliz e eu fiquei feliz por ele. Meu pai merecia e Marina era uma mulher fantástica. E na verdade meu pai não merecia ela.

Depois de 6 meses com eles e já me sentia melhor para ficar sozinha, eu na verdade estava destruída, mas queria poder chorar em paz, sem o olhar de Marina e de ódio de meu pai.  Comprei um apartamento, comprei meus móveis. E um mês depois o filho de Levi nasceu. Dois anos depois descobrimos que o filho não era dele e não vou mentir, eu fiquei feliz. Como dizem, o karma veio. A mulher não conseguia engravidar de Levi, então ela teve a grande ideia de engravidar de outro cara que era parecido com Levi. O plano deu certo ela só não contava com uma internação que o menino teria aos dois anos com uma doença que não existia na família de Levi nem na dela. Levi já estava desconfiado, então fez o teste para confirmar. Ele mais uma vez escolheu uma mulher com o útero travado, ou talvez ele travasse o útero das mulheres, eu não sei.

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