Capítulo 4

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Isabella Bacelar

- Não sabia que eu precisava marcar hora... Somos próximos. – Ele fala e segura a minha mão novamente. Eu solto rápido e olho para o funcionário como se ele estivesse me chamando. Ele estava perto da porta e não entendeu o que estava acontecendo.

- Desculpe. O meu carro chegou. Fala com a secretária do meu pai. Ela ainda está aí. – Falo e vou andando, mas ele me segue.

- Queria marcar com você.. – Não deixo ele terminar.

- Não posso. Estou ocupada. Vou fazer uma viagem longa, projeto novo. – Falo e saio andando.

Me aproximo do funcionário que me olha sem entender nada. Olho caio por cima do ombro. Ele estava paralisado tentando digerir a minha fuga. Depois de alguns segundos ele vai andando em direção ao elevador e eu suspiro aliviada.

- Desculpe, mas seu carro ainda não chegou senhorita. – Ele fala constrangido.

- Eu sei. Queria apenas me livrar dele. – Falo e ele sorri.

- Esses engravatados são abusados. – Ele fala baixo.

- São mesmo. E todos iguais. – Ele se assusta quando percebe que eu escutei. – Nunca me relacionaria com um homem assim. Deus me livre. – Falo e ele ri.

- Mas a senhorita é rica. Tem que se casar com esse tipo de cara. Vai casar com pobre como eu? – Ele faz piada.

- Não ligo pra essa questão de dinheiro. E não estou procurando um homem. Casamento nunca mais. Já tive um e não quero nunca mais. – Falo e olho o celular.

- Foi um grande trauma então. – Ele me olha curioso.

- Sim. – sorrio de forma triste. – Nunca mais. Você provavelmente conheceu meu marido. É o mais babaca do mundo. Levi. – Ele ri e confirma. – Não quero mais. Prefiro ficar sozinha. – Falo e sorrio.

- Antes só do que mal acompanhada. – Ele fala e eu confirmo.

O funcionário faz um sinal e meu carro estaciona. Entro no carro e ele fecha a porta, indico o endereço aí motorista e olho para o telefone, recebo um e-mail de uma empresa de adoção. Eu não queria me casar, mas queria ter filhos. E com o dinheiro que eu tinha , não precisava de um marido, eu podia bancar a minha família sozinha. Trabalho pra isso.

Abro o e-mail e vejo a mensagem da diretora me convidando para fazer uma visita para conhecer o espaço e me explicar sobre as documentações e como dar entrada na papelada. Meu pai não fazia ideia e eu não queria contar para ele. Foi muito difícil quando eu tive que contar que eu não poderia ter filhos, meu pai não vê a hora de ter netos e eu sou a única filha dele. O sonho do meu pai é ter a casa cheia de crianças, e esse era o meu sonho também. Mas quero esperar dar certo, não quero dar falsas esperanças a ele.

Repondo o e-mail marcando para a próxima semana, de acordo com os horários que ela tinha me enviado. Queria resolver tudo e depois de estar com a adoção oficializada, contaria ao meu pai e Marina. Eu queria uma criança até 5 anos. Essa era a minha única exigência, que também era algo flexível. Ia depender da minha visita. Eu poderia me encantar por uma criança mais velha, e tudo bem.
Saio dos meus pensamentos com o motorista me avisando que eu já estava no meu destino, ele me olhava como se eu estivesse no lugar errado, e eu já estava acostumada com esse olhar. Pago a viagem e desço do carro. Prendo o meu cabelo em um rabo de cavalo e me sinto tranquila. O cenário era de uma bagunça. A obra começando, material para todos os lados, homens falando alto, máquinas barulhentas ligadas e meu pai no meio desse caos maravilhoso.

Ele tinha 60 anos e nenhuma necessidade de estar no meio dessa poeira toda. Mas o brilho nos olhos dele era inegável. Meu pai era alto, tinha os cabelos brancos que no passado já foram loiros. A pele era tão branca que ficava vermelho quando ficava muito tempo exposto ao sol. Ele estava com uma calça jeans, blusa polo, um capacete amarelo na cabeça e o maior sorriso do mundo no rosto. Eu amava ver essa cena.

Eu me aproximo e por causa do salto fica difícil andar. São nesses momento que eu me lembro que tenho que deixar um par de botas no carro do meu pai. Assim que meu pai me vê ele vem andando na minha direção. Os homens param e ficam me olhando. E esses olharem sempre me deixam constrangida. Alguns me comem com os olhos, e isso é extremamente desconfortável. Outros já me conhecem e apenas sorriem de forma amigável e por fim tem o terceiro grupo e me vê como uma mimada rica que não deveria estar ali porque não entende de nada.

- Filha você precisa ver o material. Vamos fechar sempre com essa empresa. Eles têm o melhor material. Pena que o dono já foi embora. O homem é muito engraçado. Ele saiu a poucos minutos. Viu ele? Provavelmente se esbarraram lá fora.  – Meu pai fala animado.

- Não.. não reparei ninguém. Mas me mostra o motivo da sua empolgação. – Falo animada.

Passamos horas analisando os materiais e preciso assumir, era da melhor qualidade, nunca encontramos nenhuma material assim e nos valores que ele fez. Meu pai explicou que o homem estava chegando agora aqui no estado, que ele era famoso fora do Rio de janeiro e que estava recomeçando. Foi muita sorte ter encontrado essa empresa. Meu pai na verdade nem lembra como achou.

Depois de horas vendo os materiais, que poderia ter sido tranquilo, só não foi porque o chefe de obra quis me ensinar o meu trabalho, ele pensou que por eu ser mulher eu não entendia nada, devia pensar que eu era a filha mimada, então tive que discutir com ele e explicar que ele não estava seguindo o projeto, uma perda de tempo como sempre. Depois disso meu pai finalmente se despediu. Andamos até o carro dele e combinamos que ele em deixaria em casa.

- Esqueci de te falar. Caio passou na empresa te procurando. – Falo olhando o telefone.

- Provavelmente foi te procurar. Mas deixa eu adivinhar, fugiu dele. – Ele fala rindo.

- Pai ele é muito idiota. Só fala dele. Eu disse que tinha uma viagem e que você atenderia ele. – Falo e sorrio.

- Mas você não tem viagem nenhuma, ele vai te encontrar na empresa e vai falar com você da mesma forma, não tem como fugir dele pra sempre. – Meu pai fala debochando.

- Vou fugir dele... Trabalhar em casa, eu não sei. – Falo pensativa.

- Sabe que não vai aguentar ficar em casa e sabe que ele não vai marcar uma hora. Vai aparecer a qualquer momento na empresa pra te pegar de surpresa e você não conseguir fugir. – Ele fala rindo. - Mas posso te ajudar. Tenho uma viagem pra fazer e não quero ir, eu estaria fora no aniversário de casamento.

- Ótimo. Qual estado? Eu vou. – Repondo rápido.

- África. O país no caso. – Ele fala e me olha sorrindo.

- África? – Fico pensativa. – É  o projeto pessoal? – Meu pai confirma.

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