Capítulo 19

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Caleb Nolasco

A semana foi muito corrida. Os homens não conheciam o material e isso estava me cansando. Materiais que exigiam mistura era os mais complicados. Eu não imaginava que eles teriam tanta dificuldade. Mas tenho que entender, existem componentes químicos que os nativos nem conhecem e os contratados da Isabella já ouviram falar com nunca trabalharam com o material.

Com isso passei a semana inteira explicando parte do processo, coisas que eles não poderiam fazer de jeito nenhum. No sexto dia eu já estava exausto, me perguntando se todo esse trabalho e exaustão valeriam a pena. Mas no final, eu sei a resposta. Tentei ser chefe, ficar sentado no escritório, mas não conseguia, eu gostava de acompanhar a produção, de estar no meio das obras, isso me ajudava a pensar em novos materiais também. E pensando no futuro, eu provavelmente trabalharia com esses caras de novo, então não teria que explicar tudo isso. Seria mais fácil nas próximas obras.

Procurei por Isabella e me dei conta de que com a correria eu não tinha esbarrado com ela durante a semana. Eu tinha que voltar para casa, então decidi explicar a ela algumas coisas e me deixar a disposição caso ela precisasse de alguma coisa, mas eu queria voltar para casa em dois dias.

Fui direto na tenda, era o lugar que ela passava 80% do dia dela. Entrei e para a minha surpresa ela não estava lá. Comecei a andar pela tenda até que encontrei Bomani. Ela era alto e muito forte, eu era só um pouco mais claro que ele. O cara vivia sempre sério e pronto para atacar ou proteger alguém. No Brasil ele seria um perfeito segurança, ganharia muito dinheiro. Aqui ele protege a vila dele.

- O que foi estrangeiro ? – Ele nos chamava dessa forma sempre.

- Estou procurando Isabella. Sabe aonde ela está? – Pergunto tentando ser educado.

- Porque deveria saber? Ela não é minha responsabilidade. – Ele fala no tom normal irritado dele.

- Me desculpe. – Falo né afastando.

- Ela está na associação das mulheres. – Ele fala andando.

- Obrigado. Mas eu não sei aonde fica. – Falo e vou andando rápido na direção dela.

- Estou indo pra lá. – Ele fala irritado.

Vou seguindo Bomani. Ele andava rápido e acenava para todos que passava, ele poderia facilmente ser um político. Depois de longos minutos chegamos a uma casa muito colorida e decorada com desenhos de mulheres e crianças.

Assim que entramos eu pude ver várias crianças correndo e brincando. Zuri estava com um bebê no colo e no momento que eu entrei ela estava entregando para Isabella. Ela parecia ser outra pessoa, estava sorrindo, muito animada e carinhosa. A criança olhava para ela gargalhando. Fico por alguns segundos admirando a cena sem acreditar que ela era a mesma pessoa tão rígida, séria e amarga que se mostrava nas obras. Depois de alguns segundos Isabella me olha ainda sorrindo, quando nossos olhares se cruzam o sorriso dela vai se desfazendo aos poucos e ela desvia o olhar.

Me aproximo dela lentamente, quando chego perto vejo Ayo nos olhando e analisando com aquele olhar que me assusta as vezes. Desde que chegamos me olha desse jeito. Parece que eu fiz algo ruim.

- Podemos conversar? – Falo para Isabella e o bebê no colo dela segura minha mão.

O bebê começa a sorrir e apertar minha mão. Eu automaticamente começo a sorrir e Isabella também. Escuto algo cair no chão e todos olham para Ayo. Ela estava nos olhando assustada. Olho para Isabella sem entender, Ayo se levanta rápido e sai da tenda.

- O que aconteceu Zuri ? – Isabella  pergunta assustada.

- Eu não sei. Vou falar com ela. – Zuri fala de levantando.

- O que você quer? – Isabella me olha, mas não de maneira rude.

- Podemos conversar... Fora daqui... Sem briga... – Tento falar de maneira calma.

- Tudo bem. Vamos na minha casa. – Ela fala e se levanta.

Isabella entrega a criança a uma mulher e sai andando. Eu vou acompanhando até a casa dela. Assim que entramos me assusto com a casa. Isabella Bacelar era uma mulher rica que vivia de salto, parecia ser mimada e a casa dela aqui era extremamente simples. Eu imaginei que na casa dela teria várias coisas desnecessárias que ela teria mandado trazer de outro lugar. Eu fiquei em pé analisando tudo e ella foi até a cozinha.

- Aceita um café? Um suco? - ela pergunta de forma educada.

- Um café por favor. – Respondo no mesmo tom.

Depois de alguns minutos ela volta com uma bandeja, uma xícara de café, alguns Biscoitos de polvilho e um chá. Ela arrumou tudo na mesa e sentou. Eu fiz o mesmo e ficamos nos olhando. Eu deveria começar o assunto. Mas estava nervoso. Iria começar uma guerra se eu falasse que iria voltar para o Brasil antes de finalizar a obra, mas por outro lado, o combinado foi apenas levar o material.

- Uma moça da vila que vende esses biscoitos. No incio comprei para ajudar. Zuri ficava elogiando demais e ela tem quatro filhos. Mas eu amei. Comprei vários e antes de ir embora vou comprar mais. Você já experimentou? – Ela fala começando um assunto.

- Não. – Pego um e como. – É  muito bom mesmo. Vou comprar pra levar para a minha mãe. Ela vai gostar. – Falo e me sinto idiota.

- Sim. Meu pai vai devorar tudo. Ele não tem educação. – Ela fala e da um leve sorriso. – Sinto falta da desorganização dele.

Nesse momento eu me dei conta de que Isabella parecia estar exausta. Ela estava administrando a obra sozinha. Eu sempre saia e ela ainda estava trabalhando, eu nunca tinha visto ela almoçando ou jantando apenas comendo lanches como esse biscoito. Era como se ela estivesse se esforçando muito. Ela era uma mulher sozinha no meio dos homens, sem o pai o um marido. Alguém para ajudar. Não que ela precisasse. Eu tinha Matheus para dividir tudo comigo. Para me ajudar, mas ela estava sozinha.

- Sobre o que queria falar ? – Ela fala quase sem força.

- Bem... Queria te explicar como tudo funciona, para eu poder voltar ao Brasil. Preciso voltar. – Falo e ela me deixar concluir.

- Tem família lá? – Ela pergunta me olhando.

- Tenho. – Ela não me deixa terminar.

- Eu não tenho ninguém me esperando...sei que Marina cuida muito bem do meu pai. Mas sinto falta da minha casa e preciso descansar. Depois de uma obra dessa, sempre tiro uns dias de folga. - Ela fala exausta e eu sinto o cansaço dela.

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