Capítulo 62

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Isabella Bacelar
- Então. A vida dele não foi fácil. Ele teve uma vida simples. Acredito que ele nunca tenha passado fome. Mas tudo foi muito precário. Hoje ele trabalha muito. Já se esforçou muito na vida. Trabalhou pra pagar a cursos. Trabalhou e estudou tudo ao mesmo tempo. Eu imagino o susto quando ele entrou na casa dos seus pais. Eu me senti assim também nas primeiras vezes.  – André  fala pensativo.

- Como assim susto? E como você se sentiu? – Marina pergunta confusa.

- A primeira vez que eu entrei na casa de vocês me assustei. Me senti desconfortável. São muitos móveis. Uma casa muito grande. Coisas que eu nunca tive acesso na vida. O senhor Raul tem um frigobar no quarto dele. Eu tinha uma geladeira velha, mas morei um tempo sem ter geladeira.  Não me entendam mal por favor. Mas imagino como ele deve ter se sentido. – André explica.

- Nós somos exagerados? Pode falar André. Eu quero entender ele. – Falo sem tirar os olhos dele.

- Hoje eu me acostumei. Já trabalho com vocês a um tempo. Mas viajar de primeira classe? Roupas caras. Os carros que vocês usam. Foi difícil ver o Raul pagando rios de dinheiro em um pavão e achar “normal’. Com esse dinheiro eu faria muita coisa. Mas o mundo de vocês é diferente. Não é o nosso mundo. A situação é totalmente diferente, e está tudo bem. – Ele continua.

- É tão louco assim? – Pergunto sem graça. – Eu entendo a história do pavão. Também acho louco. Mas todo o resto? Ele disse que se sentiu impotente... Eu sei lá... Não tinha pensado dessa forma. - Fico pensativa.

- Claro. Ele vai ter dinheiro pra te trazer aqui? O que ele te daria de presente? Pra onde ele te levaria? Vocês duas todo ano me dão um presente. Eu sempre quis dar algo a vocês. Mas o que eu conseguiria dar? Eu sei como ele se sente. Mas entendam. Isso não é culpa de ninguém – Ele fica nos olhando sério. 

- Mas ele disse que não poderia me sustentar. – Falo pensativa. – Mas ele não precisa me sustentar. Quem pediu isso a ele? Eu trabalho, nunca exigiria isso dele.

- Mas ele parece gostar bastante de você. Se ele pensa em ter um futuro com você é ótimo. Mas deve ficar essa preocupação. Como ele vai manter esse padrão?  Isso é coisa de homem, não adianta. – André fala nos olhando.

- Exatamente isso que ele disse. Mas ele não precisa manter. Até porque minha casa não é assim. E essa não seria a função dele. Eu trabalho, não preciso disso. – Falo decidida.

- Sim. Mas automaticamente a nossa função é cuidar de vocês, de ser provedor. Não é fácil abrir mão disso. – André fala me olhando.

- É complicado. Mas agora eu entendo. – Falo e olho para o mar.

Agora consigo entender um pouco do que ele sentiu. Mas Caleb me conhece... Não me conhece. Parece que nos conhecemos a muito mais tempo, mas não é. Ele me conhece agora. E não teve muito contato comigo. Não conheceu o meu apartamento, não conheceu a minha vida. Ele só viu a obra que eu estou financiando com o meu dinheiro, me viu dando dinheiro para o cartel e conheceu a casa dos meus pais... Está vendo o hotel que estou hospedada e a primeira classe.

Me sinto uma idiota quando começo a analisar tudo. Ele tinha razão. Caleb precisava me conhecer de verdade. E eu faria isso quando ele voltasse de viagem.
Comemos durante um tempo em silêncio. Eu estava ainda analisando tudo. Marina depois de um tempo começou a puxar assunto falando do passeio de Buggy que tinha deixado ela traumatizada, mas que ela queria fazer de novo. Dessa vez com pouca emoção. Combinamos de fazer nós próximos dias. Até porque o passeio teria que ser divertido para todos. Até mesmo para André, ele disse que gostava de paraglider, mas Marina achou que era emoção demais pra ela. Então vamos fazer só nos dois e ela prometeu que tiraria as melhores fotos.

Eu estava na mesa mas com a cabeça em Caleb. Depois de alguns minutos conversando sobre os próximos passeios. Eu pedi licença e me retirei da mesa. Fui andando até uma parte da sacada que não tinha nenhuma mesa por perto. Faço uma vídeo chamada. Depois de alguns minutos ele atende.

Ele estava arrumado de forma social, mas sem terno. Estava com uma cara de cansado, exausto na verdade,  no meio de um lugar que parecia ser uma fábrica. Ele me olhou e tentou sorrir.

- Hora ruim? Posso te ligar depois. – Falo e um barulho alto invade a ligação.

- Não. Perai. – Ele fala cansado

Caleb vai andando para o lado de fora da fabrica em silêncio. Abre a porta do carro, entra, senta e respira fundo. Posiciona o celular e me olha sem nenhum sorriso. Ele parecia estar exausto e irritado. Não foi um bom momento para ligar, eu pensei em desligar, mas ele não parecia querer.

- O que está acontecendo?  Algo grave ?– Falo preocupada.

- Um material que eu encomendei não está dando certo. Já fizemos algumas tentativas. Dinheiro jogado fora. Enfim. Como está a viagem? – Ele fala rápido.

- Posso te ajudar de alguma forma? – Falo e ele fecha os olhos.

- Não... Fica tranquila. Não estrague a viagem por isso. – Ele fala chateado.

- Me deixa te ajudar.... – Falo com cuidado e respira fundo.

- Não precisa. Eu revi tudo. Vai dar certo dessa vez. Eu que estou sem cabeça. Na verdade, com muita coisa na cabeça. – Ele fala cansado.

- Conversa comigo. Eu estou aqui. – Falo e ele fica me olhando.

- Eu nem sei fazer isso. – Ele fala e tenta rir.

- Só fala. O que está te incomodando? – Sorrio.

- Sei lá... Nunca estiver nesse lugar. De pedir ajuda. – Ele fica me olhando.

- Só fala o que vier a cabeça. – Falo de forma doce.

- Bem... Catarina... Ela e o marido... Vão se separar. Não está fácil..... Os meninos... Eles aceitaram bem. Mas Catarina está mexida com isso... Ela não quer voltar. Mas ele falou muita besteira pra ela.. .

Destinada ao Amor Where stories live. Discover now