Capítulo 47

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Isabella Bacelar

Finalizo meu dia. Faço a minha última refeição no vilarejo e escuto minha campanha tocar. Vou andando até a porta e vejo Bomani levemente sem graça em pé na porta. Faço um sinal e ele entra em silêncio, eu fecho a porta e ele me olha.

- Fiz pra você. Para te proteger quando você voltar para casa. Seu pais é muito perigoso e você é muito frágil. Mesmo sendo forte. – Ele fala e me entrega um saquinho de tecido.

Abro o saquinho. Só a embalagem já era linda. Tecido azul com detalhes dourados. Quando abro vejo um pequeno boneco com uma lança na mão. Se parecia com Bomani. Sorrio quando percebo a semelhança.

- É pra eu não esquecer de você? – Ele fica em graça.

- Não... É pra te proteger. É um amuleto de proteção. – Ele fala envergonhado. – Fique sempre com ele. Sua sua cidade é muito perigosa. Eu vi, tem muito crime lá. – Ele se mantém sério.

Vou até Bomani ir abraço. Ele fica nos primeiros segundos imóvel e depois da um tapinha nas minhas costas sem graça, quando me afasto vejo um leve sorriso no canto da boca dele que se desfaz assim que percebe que eu vi.

- Bem.. os Deuses não estão felizes com seu relacionamento com o Caleb. Mas eu vi o quanto você ficou feliz.... Então.... Se cuida. E se ele te fizer algo me avise. – Ele fala sério.

- Vai ao Brasil bater nele? – Falo rindo.

- Vou. Avise a ele. – Ele fala sério.

Bomani me pergunta sobre o horário do meu vôo e outras coisas sobre a viagem. Pede que eu mantenha contato e que avise quando eu descer no Brasil. Logo depois se despede e diz que vem me buscar duas e meia da manhã. Vejo ele indo embora e sinto que ele é o irmão que eu precisava ter.

Minutos depois de Bomani sair a campainha toca de novo. Faltava mais alguém se despedir ou Bomani tinha esquecido algo? Abro a porta sorrindo e vejo Ayo em pé me olhando seria. Ela nem precisa de permissão, apenas entra na minha casa e se senta no sofá me olhando. Eu fecho a porta e me sento de frente pra ela.

- Sei que está voltando para o Brasil. E que ainda está com Caleb. Os Deuses não querem isso. Vão ter consequências. – Ela fala sem tirar os olhos de mim.

- Me conta a história toda. Tem algo que você não está me contando. Eu preciso saber. Porque eu quero ficar com ele. Mas sinto que não devo. Mas quero saber o porque. Me explica como tudo isso acontece. – Insisto.

- Bem... Essa é a nossa cultura. Vou te contar a história como contamos para as crianças. Os Deuses nos fizeram. Nós nascemos, vivemos e morremos. Com o tempo fazemos bem ou mal a outra pessoas, morremos e no plano espiritual resolvermos esses laços que nos une aqui em baixo na terra e assim são criados amigos, família e relacionamento amorosos.- Ela para e me olha.

- Estou entendendo. – Falo e ela continua a explicação.

- Você e o Caleb tem algo muito forte. Tenho que assumir. Mas eu só vejo dor. Da parte para ele. Na vida passada ou em outras vidas você fez muito mal a ele. Só isso que eu sei. Eles – ela aponta para o céu. – Me falaram que você fez uma promessa e que por isso precisam se afastar. – Eu não deixo ela termina.

- Que promessa? A quem ? Aos Deuses? Ao Caleb? – Pergunto rápido.

- Eu não sei. Não me falaram. O que eu sei é que vocês não podem ficar juntos. Vão ter consequências. – Ela insiste.

- Que consequências? – Pergunto curiosa.

- Eu não sei. Pode ser algo pequeno como um desencontro para afastar vocês ou algo grande como um acidente que vai separar os dois para sempre. Eu não sei o que você prometeu e o quão grave isso é. – Ela fala e eu sinto um aperto no peito.

- Não posso voltar atrás? Não posso resolver isso de alguma forma? Estou feliz pela primeira vez. Ele me faz bem. – Argumento.

- Mas você não faz bem a ele. A questão é você. – Ela me olha com pena.

- Eu sou uma pessoa tão ruim assim? – Falo de forma triste.

- Não. Não acho que seja. Você salvou o vilarejo e nem é daqui. Vejo como você cuida das crianças. Como é carinhosa com as grávidas. Como escuta as mulheres. Isso é um problema de vocês dois. Só isso. Você vai fazer mal ele. – Ela me olha com tristeza. – Mas é a sua escolha, de vocês. Eu não posso fazer nada. Só saia antes de machucar ele demais.

- Não quero fazer mal a ele. Eu vou pensar... – Falo pensativa.

- Pensa. Ele não merece sofrer mais. Ele já sofreu muito por sua causa. Você foi a ruína da vida dele várias e várias vezes. – Ela fala e respira fundo. – Eu nem devia te falar isso.

Ela fala e se levanta. Sinto toda a culpa do mundo em mim. Me sinto a pior pessoa do mundo. O que eu fiz para ele? E porque fiz? Que promessa foi essa? Porque eu fui a ruína da vida dele? Bem, estou nessa vida baixando melhorar, então não vou errar dessa vez. Eu não sei o que fiz de errado mas não vou fazer mal a ele de jeito nenhum.

Ayo passa pela porta e fecha. Fico sentada no sofá ainda digerindo tudo o que eu tinha acabado de escutar. Olho meu telefone e fico vendo as conversas com Caleb, olho a foto dele em pé na cozinha mais algumas vezes e penso em desistir várias vezes mas eu tenho certeza que não vou conseguir ficar longe dele. Acabo dormindo sentada no sofá.


Acordo com Bomani me chamando e tomando meu ombro com cuidado

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Acordo com Bomani me chamando e tomando meu ombro com cuidado. Abro os olhos um pouco assustada e ele me olha primeiro preocupado e depois sério. Bomani se afasta, cruza os braços e me encara.

- Você mora em casa ou apartamento lá no Brasil? – Ele interroga.

- Apartamento. Como entrou aqui? – Pergunto ainda sonolenta.

- A porta estava aberta. Ainda bem que você mora em apartamento. Eu ficaria preocupado. – Ele fala levemente irritado.

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