Capítulo 11

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Isabella Bacelar

Nos aproximamos e paramos o carrinho. Logo dois homens se aproximaram e pegaram minhas malas. Jafari se levantou rápido e deu a volta para segurar a minha mão e me ajudar a descer. Zuri entrelaçou nossos braços como tinha feito antes e eu senti meu coração parar.

O vilarejo era exatamente como eu tinha visto nas fotos. O chão era todo de barro, assim que eu coloquei meu pé no chão, o salto furou o solo e eu dei uma leve desequilibrada, mas logo voltei a pose e apoiei o peso na ponta dos pés. Reparei que alguns moradores olharam para os meus sapatos, e eles estavam certos, não eram sapatos adequados, mas estou tão acostumada com saltos que nem pensei nisso.

As casas pareciam ser feitas de Adobe, uma mistura de terra, palha e água. E todas eram decoradas com desenhos e cores. Trazendo identidade e personalidade a cada casa. Lentamente nos aproximamos da mesa que foi arrumada. Ninguém tirava os olhos de mim, os olhares ficavam divididos entre curiosidade, simpatia e o olhar idêntico da Ayo.

- Bem vinda senhorita Bacelar. Estamos muito felizes em finalmente te conhecer. E queremos agradecer pelo projeto. Já iniciou e estamos muito felizes. – Um mulher fala tentando ser o mais pausado possível.

Duas curiosidades. Primeiro eles falavam uma língua parecida com o português,só que era muito mais rápido como o espanhol e tinha um sotaque carregado. E segundo, a obra já tinha começado, o básico. Mas eu estava um pouco atrasada. Os homens já estavam trabalhando a duas semanas. E acho que essa minha ausência não me deu credibilidade, porque logo depois da simpática mulher, eu pude escutar um homem falar no meio da multidão “Fale por você Dalji” e logo depois a mulher ficou muito sem graça.

- Muito obrigada… É Dalji? – A mulher apenas confirmou perdendo o brilho. – Fico muito feliz de finalmente estar conhecendo o vilarejo de Faso. Me desculpem pela demora, mas tive que organizar algumas coisas antes de vir. Sei que nada justifica o meu atraso, mas agora estou aqui e quero esclarecer as dúvidas de todos. – Falo tentando parecer ser firme.

- Porque não começa dizendo o seu real interesse por trás dessa “caridade” – O homem fala debochando.

Respiro fundo e vejo Jafari se movimentar. Sem dúvidas ele iria me proteger. Mas essa não era um boa opção. Me defender e ficar contra o povo dele, essa seria a imagem que passeia. Faço um breve sinal para ele e me direciono ao homem. Tento buscar palavras de demostre respeito mas que ao mesmo tempo eu consiga manter a postura, não posso baixar a cabeça pra ninguém.

- Qual o seu nome? – Falo para ganhar tempo.

- Bomani Não precisa dizer o seu. Estamos escutando a meses como se fosse a nossa salvadora. – O homem fala irritado olhando para Jafari.

- Não sou a salvadora de vocês, nem só vilarejo. Estou aqui para realizar um projeto meu. Eu desenhei, eu quis fazer. Jafari apenas aceitou. Não vou salvar vocês. Pra isso eu precisaria de muito mais. Acredito que a falta de água potável seja apenas um dos milhares de problemas que vocês enfrentam. Eu infelizmente não tenho como acabar com todos, mas posso ajudar com esse. – Falo olhando nos olhos dele.

- Já ajuda muito senhorita Bacelar. – Dalji fala de forma humilde.

- Sei que bem que nem todos estão felizes com a minha presença. Sei que muitos desconfiam das minhas intenções. Mas posso garantir que não quero nada de vocês. Não estou ganhando nada com isso. Nem noticiando na mídia estou. Não quero expor vocês como outras pessoas fazem. Quero apenas realizar o projeto e ir embora. Mas não posso obrigá-los a aceitar. Posso ir embora agora mesmo. Levar todos os trabalhadores e materiais. A escolha é de vocês. – Falo olhando para Bomani.

Todos começam a ficar nervosos, falam rápido e entre eles. Eu me esforço para tentar entender, mas sem sucesso. Jafari se aproxima de Bomani e Zuri fica parada ao meu lado. Ela me pede desculpas pro Bomani, mas ele não estava errado. Ele parecia ser uma espécie de militar, principalmente pelas suas roupas e postura. Provavelmente estava tentando proteger o vilarejo. Depois de alguns minutos Bomani sai irritado e vai em direção a uma casa, Jafari se aproxima e tenta sorri, mesmo nervoso.

- Falo por todos quando digo que queremos o seu projeto. Aceitamos. Nós desculpe por Bomani e alguns outros. – Jafari olha para todos enquanto fala e no final me olha.

- Então vamos seguir. Quero conhecer o local e ver o trabalho. – Falo decida.

Quando termino a frase dois homens se aproximam e pegam as minhas malas. Jafari me leva até uma casa. Ela era diferente das outras. Tinha uma sala, um quarto, um banheiro e uma cozinha. Tudo bem pequeno, mas confortável. De fora essa casa parecia ser maior que as outras e ficava no centro do vilarejo. A decoração do lado de fora era muito linda e chamativa, a porta era mais segura que as outras. Os móveis era feitos a mão, mas eram lindos e cheio de detalhes.

Entrei e minhas malas foram colocadas na porta. Os dois homens se afastaram e Jafari perguntou se eu queria trocar de roupas. Eu estava com um terninho e saltos. Só tinha levado esse tipo de roupa ou pijama. Não valeria a pena trocar. Então nós dirigirmos a obra. Assim que eu me aproximo, os homens me olham. Alguns já me conheciam. Já trabalhavam a anos com a gente. O senhor Carlos estava na empresa desde o início. Ele vem andando na minha direção nervoso.

- Senhorita Isabella, ainda bem que você chegou. Tem algo de errado com o projeto. – Ele fala preocupado enquanto tira o capacete.

- Como assim errado? Eu simulei o projeto várias vezes. – Falo andando com ele.

Vamos andando até a tenda. Carlos me mostra o projeto no papel como ele gostava. Olhamos cada medição, cada detalhe e tudo estava batendo. Tiro meu notebook da minha bolsa conector na rede que Carlos tinha para trabalhar e olhamos o projeto simulado. E novamente tudo estava correto.

- Então porque a máquina está quebrando? Porque não estamos achando água? Está dando tudo errado. – Carlos fala de forma supersticiosa.

Jafari fica me olhando sem entender. Os homens que moravam no vilarejo e estavam trabalhando na obra começaram a se comunicar entre eles em um dialeto que era impossível de entender, mas estava estampado no rosto deles a falta de confiança em nós.

Contratamos sempre alguns homens do local para trabalhar no projeto. Depois dois projetos, entendemos que isso era necessário. Quando temos pessoas do local o acesso se dá de forma mais tranquila, conseguimos mais aceitação da comunidade e depôs gera um sentimento de utilidade aos trabalhadores locais. É sempre positivo, e com isso gera emprego. Mesmo que por pouco tempo.

Respiro fundo e peço que parem a obra e que tirem o resto do dia de folga. Os homens de Faso saem falando no dialeto e eu sei que essa notícia vai se espalhar na cidade. O numero de pessoas desconfiadas só vai aumentar. Mas é necessário, preciso olhar tudo de novo com calma para entender o que está errado. Depois de algum tempo percebo que o problema era o material. Mas nunca tivemos problema com isso, o fornecedor é um grande amigo do meu pai. Ele separa sempre o melhor. Decido então ligar para o meu pai para entender se ele tinha mudado de fornecedor, provavelmente comprou o material com o fornecedor novo que ele me apresentou.

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Destinada ao Amor Where stories live. Discover now