Capítulo 48

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Isabella Bacelar

Eu estava gostando de ser cuidada por Bomani e Caleb. Era bom não ser a pessoa que cuida pelo menos uma vez. Viver com meu pai era bom, mas ele era extremamente cansativo. Sempre fazendo algo errado, se arriscando, me arriscando, arriscando a empresa. Aprendi a cuidar dele desde nova. Eu estava exausta. Mas ao mesmo tempo não sabia como deixar as pessoas cuidarem de mim. Estou aprendendo e tentando não ser resistente.

- Vou sentir falta de ter você cuidando de mim. Isso nunca aconteceu. Eu que sempre cuidava do meu pai. – Falo pensativa.

- Alguém vai ter que cuidar de você lá. Você é muito descuidada. – Ele fala pegando minhas malas.

- Já está na hora? – Pergunto assustada.

- Já. – Ele olha o relógio. – Duas e quarenta. Foi difícil te acordar. Achei que estava morta. – Ele fala e eu começo a rir.

- Porque eu estaria morta? – Pergunto rindo.

- Não sei. Aqui não tem crime. Somos uma enorme família. Mas vai que alguém te matou, que você se matou, ou que estava doente, ou que morreu de calor. Eu não sei. Você faz muitas perguntas. – Ele fica irritado e sai pela porta.

Me levanto e olho minha casa pela última vez. Eu espero de coração que não seja a última. Eu amei esse lugar. Foi a primeira vez que me senti em casa fora de casa. Sentia como se Faso fosse a minha terra. Sentia que eu pertencia aqui. Vou voltar ano que vem ou antes para visitar todo mundo.

Vou sentir falta das músicas, das cores e tecidos. Das estampas geométricas e os detalhes dourados em tudo. Dos sorrisos que são sempre contagiantes. O povo daqui exala felicidade mesmo tendo muito pouco. Eles dividem o pouco que tem e te recebem como se fosse da família.

Vou sentir falta de Zuri que se tornou uma irmã. Ela e suas fofocas do almoço ou do jantar. Das histórias que ela me conta e de como tem amor a cultura. Vou sentir falta de Jafari que é um pai para todos aqui. Ele não teve sua família, nunca se casou nem teve filhos. Disse que escolheu ter o vilarejo como sua família. Vou sentir falta até mesmo de Ayo que não me suportava e agora suporta, que só vem me trazer notícias ruins, mas que no fundo parece querer meu bem.

Em especial vou sentir falta de Bomani. Ele é um protetor, o irmão mais velho que eu sempre precisei. Me lembro de chagar aqui e ele me olhar estranho. Das vezes que ele me olhava andar de salto e parecia ficar preocupado. De quando tinha os eventos culturais a noite ele ficava me olhando de longe enquanto eu dançava e aprendia sobre a cultura. Vou sentir falta de ver os pequenos sorrisos que ele dava e sumia em segundos.

- Vamos Isabella? – Ele me olha.

- Já estou com saudades daqui. – Falo nostálgica.

- Então volte para nós visitar. Vou deixar sua casa fechada. – Ele fala e eu passo pela porta.

- Não. Precisa receber outras pessoas aqui. – Falo trancando a porta e entregando as chaves a ele.

- Zuri não vai deixar ninguém ocupar a sua casa. Amanhã vai ficar chorando aí. – Ele fala e sai andando.

Vou andando até a pista de vôo recebendo instruções de Bomani. “ Não esquece de fechar a porta de casa “ “ não anda de salto na obra. Você vai torcer o tornozelo “ “ Se alimente direito. Você fica muito tempo sem comer” “ Use protetor solar. Sua pele vai cair. Você é muito branca.” Ele falava sério como uma robô o que tornava tudo mais engraçado.

Assim que chegamos na pista vejo Zuri. Ela estava chorando, parecia um funeral. Ayo estava seria com sempre e Jafari emocionado. Eles não precisavam estar aqui. Era de madrugada, deveriam estar dormindo. O avião já estava me esperando. Foi um último abraço em todos, Zuri me entrega uma pulseira que ele fez com pedras azuis rajadas de dourado e eu entrego um anel com um pequeno diamante. Bomani entra no avião comigo e coloca minhas malas no canto.

- Vamos para o Brasil comigo? – Falo brincando.

- Não tenho vida lá. Meu lugar é aqui. – Ele fala e da um pequeno sorriso.

- Volto em breve. – Falo e abraço ele.

Dessa vez Bomani me abraça. Depois de alguns segundos se afasta e sai do avião sem me olhar. Em minutos o avião decola. Eu termino de apertar o cinto e coloco meu fone de ouvido com uma música calma. Durmo durante a metade da viagem, na outra metade fico pensando em Caleb, eu não me programei para um pequeno detalhe. Durante o vôo Eu não usaria meu celular e eu chegaria às duas horas da tarde, como explicaria esse tempo todo de ausência? E se ele entrar em contato com alguém? Eu esqueci de pedir segredo.

A viagem dura uma eternidade. Eu estava ansiosa, parecia que não chegaria no Brasil nunca. Sempre dizem que a volta era mais rápida, mas não foi.  Depois de horas eu finalmente desço no rio de janeiro as três e quarenta, nos atrasamos por causa de uma turbulência.

Eu estava exausta, precisando de um banho. Mas estava morrendo de vontade de ver Caleb. O plano inicial era ir para casa, deixar as malas, tomar um banho, ficar linda e encontrar ele. Mas tudo mudou e eu nem me dei conta. Um carro estava me esperando na pista de vôo, quando eu percebi estava dando o endereço de Caleb, o carro saiu e eu fiquei com vergonha de mudar o endereço. A pista de vôo não ficava perto da minha casa e era muito mais longe da casa de Caleb. Duas horas de distância da casa dele e uma hora e meia da minha. Se eu fosse em casa desistiria de sair.

Se eu estava ansiosa para ver Caleb? É claro que sim. Eu estava me abrindo, me dando uma chance de ser feliz. Estava apostando que com ele daria certo. Sei que a Ayo falou que não deveríamos ficar juntos, mas a gente estava feliz. E eu só preciso fazer bem a ele. E eu posso fazer isso.

Não sei o que fiz no passado. Mas sou uma pessoa boa. E se eu tiver mudado? Vou provar isso aos Deuses. Eu mereço ser feliz.

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