Capítulo 10

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Isabella Bacelar

Então finalmente o avião pousa. Depois de 36 horas com duas paradas eu estava exausta, sinto que não consegui estudar tudo o que eu queria. Mas já estava sabendo algumas coisas, o vilarejo de Faso era o vilarejo mais pobre de Mali que fica localizado na África ocidental. Eles tinham uma paixão pela arte, as casas por mais simples que fossem, sempre tinham desenhos com muitas cores em suas paredes. As cores de sua bandeira enfeitaram todo o vilarejo segundo as fotos que Jafari me mandou.

E nas roupas pelo jeito não era diferente, desço do avião e assim que chego no saguão vejo um homem me esperando, ele me levaria de carro até o mais próximo possível do vilarejo. Foram mais duas horas de carro até que paramos na estrada e eu pude ver Jafari e duas mulheres me esperando. O carro para, eu respiro fundo, abro a porta e sou recebida ainda de longe por um belo sorriso de Jafari e a outra mulher, enquanto a terceira me olhava séri.  Me aproximo deles extremamente nervosa. Mas Jafari me recebe com um enorme sorriso e um abraço.

- Senhorita Bacelar . É um prazer finalmente te conhecer. – Jafari fala com o seu q carregado, mas eu logo me ajusto a ele.

- Pode me chamar de Isabella, é um prazer te conhecer. Estou muito animada para conhecer todos. – Falo olhando para as duas mulheres.

- Essa é a nossa Xamã Ayo e essa é Zuri ela sempre nos ajuda a receber as pessoas. – Ele fala animado. – Venha, eu te ajuda com as bolsas. Como foi a viagem?

A xamã Ayo era uma mulher que aparentava ter uns setenta anos. Mas parecia ter um espírito jovem. Ela estava usando um vestido com as cores vermelha e amarelo bem fortes o que me trazia vida e alegria. Muitas formas geométricas na estampa. Na cabeça ela estava um turbante branco com amarelo, no pescoço alguns cordões e nos dois braços muitas pulseiras.

Zuri parecida ser mais nova que eu, 25 no máximo, mas acho que tinha menos. Ela usava um vestido tomara que caia azul com branco longo, até os pés. No pescoço apenas um colar com missangas azuis da cor do vestido, uma pulseira em cada braço e um turbante com formas geométricas da mesma cor do vestido.

Jafari por sua vez, usava uma blusa até o joelho na cor vermelha e laranja. Uma calça vermelha e um chapéu laranja. Os três usam um sapato que parecia uma alpargatas muito confortável.

Jafari e Zuri me olhavam sorrindo e me abraçaram. Ayo ficou me olhando seria e apenas acenou com a cabeça de longe o que me gerou um desconforto. Sei o quanto ela é importante para a comunidade, preciso demonstrar respeito e tenho medo de não fazer isso por causa do choque de cultura.
Jafari pega minhas malas, Zuri entrelaçada nossos braços e eu aceito. Eu conto rapidamente sobre a viagem e então ela começa a me contar como as pessoas do vilarejo estão felizes com a minha chegada. Mas eu sei que essa não é toda a verdade. Uma parte está animada como Zuri e outra está desconfiado como Ayo. E todos estão certos. Eu preciso apenas passar confiança e fazer o melhor projeto possível.

Faso sofre com a falta de água o que influencia em tudo. Sem água não tem plantação o que influencia na comida e na saúde. Sem água não tem Higiene, o que também influencia na saúde. Enfim, não tem como viver sem água ou sem água de qualidade, mas Faso vive assim a décadas.
Descobrimos que até tem água em Faso, mas que precisamos perfurar muito o solo e pra isso precisamos de muito dinheiro. Porque depois de furar precisamos de estruturas para manter e dividir essa água. Se Mali tivesse saída para o mar, poderia ser um pouco mais fácil, mas o país não tem. Mas quando se tem dinheiro e recurso, nada é impossível.

Senti que Jafari ficou um pouco nervoso. Então ele respirou fundo e me avisou.

- Desculpe Senhorita Isabella. Mas depois daqui não entra mais carro. Vamos continuar a viagem com o meio de transporte mais usado aqui. – Ele aponta.

Me lembrava o nosso pedalinho usando nos rio em pontos turísticos. Tinham quatro lugares , dois na frente e dois atrás. A lataria parecia ser tirado de um carro, parecido com um Fusca, oval. A pintura estava muito envelhecida e desgastada. Algumas partes pareciam estar enferrujadas. A cor já tinha sido em algum momento Laranja ou amarelo. Todos no veículo tinham pedais, todos precisam pedalar. Zuri e Jafari me olhavam um pouco envergonhados e Ayo me olhava como se desafiasse.

- Eu não conhecia. Me lembra os pedalinhos do Brasil. Sento em qual banco? – Falo tentando parecer natural.

- Pode se sentar na frente para olhar melhor a passagem. – Jafari para animado.

Entramos no carrinho com a animação de Jafari e Zuri renovadas. Ayo sentou no banco de trás ainda me analisando. Era nítido que ela não gostava de mim. Que eu estava incomodando. Mas eu não entendia o motivo. Ela me conhecia a pouco tempo e já não gostava de mim, tentei ser simpática mas pelo jeito não funcionou. E a opinião dela era importante, ela era a xamã do vilarejo.

Jafari já tinha colocado minhas bolsas na parte de trás do carro. Uma espécie de mala, mas que poderia facilmente carregar duas crianças. Eu acho que já tinha visto uma foto assim no meio das fotos que ele me mandou. Eu terminei de me ajeitar no banco quando Jafari me olhou.

- Senhorita Isabella, não precisa pedalar. Vai estragar seus saltos. – Ele fala preocupado.

- Não tem problema. Eu que estou com os sapatos errados. – Falo despreocupada.

- Jafari. Ela tem dinheiro pra comprar uma loja desses sapatos. Não se preocupe. – Ayo responde de maneira áspera.

- Xamã Ayo por favor... – Ele me olha sem graça.

- Não tem problema. Ela está certa. Poderia investir. Mas não é de meu interesse. Prefiro o ramo da arquitetura mesmo. – Falo tentando parecer educada.

E nesse clima seguimos viagem. Agora eu tinha certeza que Ayo me odiava. E eu nem sei porque respondi dessa forma. Mas quando eu vi, saiu. Começamos a pedalar e eu tive um pouco de dificuldade, mas depois me adaptei.

Assim que chegamos ao vilarejo. Eu me assustei. Era comum quando a gente chegava para fazer um Projeto social ser bem recebido. Mas Fasso sem dúvidas tinha doutorado em receber pessoas. Tudo era muito simples, mas parecia ter sido feito com muito amor. Foi arrumado uma mesa com algumas comidas e flores com as cores mais lindas que eu já vi. Toda a louça que foi usada na mesa parecia ter sido feita a mão e cada detalhe era único. As pessoas estavam em pé nos esperando perto da mesa. Mulheres, homens e crianças. Famílias do vilarejo. Todos me olhando e quando eu me dei conta, bateu um nervosismo.

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Destinada ao Amor Where stories live. Discover now