39 - A brasileira

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Sexta, 29 de março de 2024

- Come on, Joe, let's go!! - Charlie Walker apressava o ator, que ajustava seu terno no quarto do hotel para a premiere do seu novo filme com Britney Keeney, que estreara naquela semana.

- Já estou indo, cara - Joe se olha no espelho do banheiro e passa a mão pelos cabelos. Ele estava realmente bonito e sentia-se assim também.

Joe trajava um elegante terno azul marinho, que lembrava um pouco o traje que ele usou na premiere de Stranger Things 4 - exceto que o desta noite não era de risca de giz. Mas por ser do mesmo estilista, no exato mesmo tom de azul e por ele estar com a barba por fazer novamente, Joe lembrara da ocasião. Apenas dois anos antes, em 2022. O ano que sua fama mundial começara. O ano em que Joseph Quinn se tornou um nome mundialmente conhecido.

Joe suspirou olhando-se pela última vez no espelho

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Joe suspirou olhando-se pela última vez no espelho. Ele ainda estava jovem, agora com 30 anos praticamente recém completados, e parecia mais bonito ainda. Toda sua fama era muito recente e, honestamente, pouco sonhada por ele. O que Joseph Quinn realmente almejava era o reconhecimento profissional. Poder escolher seus trabalhos e personagens. A fama - e perda de privacidade - era uma consequência infortuna para ele.

- Ouvi que Britney já está pronta, você precisa descer para o red carpet! - apressava seu empresário

Charlie estava ansioso. Aquele era a segunda premiere importante de Joseph Quinn apenas naquele mês de março - e uma das mais importantes de sua carreira. A primeira havia sido apenas semanas antes, no lançamento de "A Quiet Place Day One", do qual Joe participara com um papel menor. No entanto, o evento daquela noite seria ainda mais importante para o ator: aquele era seu primeiro filme como protagonista, em uma comédia romântica para a Netflix com uma das atrizes mais disputadas do momento! Aquele filme tornaria Joe uma estrela ainda mais famosa.

Charlie Walker estava excitado pela guinada na carreira de Joe, afinal, quanto mais Joe trabalhava em Hollywood, mais dinheiro ele ganhava - e isso significava mais dinheiro para Charlie Walker também. Afinal, assim como seu cliente, Charlie nada ligava para fama. Ele buscava mesmo boas oportunidades na rica indústria do entretenimento, a qual sempre fora fascinado desde criança. E Joseph Quinn era o cliente mais promissor de Charlie Walker, que havia há alguns meses parado de trabalhar com outros artistas britânicos e se dedicado exclusivamente à cuidar da carreira de Quinn.

Devido aos lançamentos dos filmes, Joe e Charlie haviam passado todo o mês de março em Hollywood, junto com Nora, assessora do ator, que também o acompanhava nas inúmeras entrevistas que ele dava nos últimos tempos.

E os próximos meses prometiam a mesma agitação para Joe e sua equipe: além da divulgação de seus filmes - especialmente o da Netflix com Britney Keeney - aquele ano ainda teria a estreia de Gladiador 2, do renomado diretor Ridley Scott, e alguns contratos de publicidades com grandes marcas.

- This is your year, mate! I feel it! - dizia Walker animado para a grande noite enquanto Joseph ria, ainda dentro do banheiro, lembrando da famosa fala da personagem que o deixou famoso

- Sabe quem dizia isso? Eddie Munson! E sabemos o que aconteceu com ele quando ele achou que seria seu ano, huh? - ria ele, abrindo a porta do banheiro, referindo-se à morte de Eddie.

Joseph espirrou mais um pouco de seu perfume favorito - Savage, da Dior - e saiu do quarto de hotel rumo ao lançamento de seu novo filme a poucos metros dali.

- Bom, Eddie morreu mas você continua na série, afinal, ano passado gravou ainda mais participações como Eddie para os flashbacks na nova temporada - brincou Charlie, sem saber que isso fez Joe imediatamente lembrar que, logo após gravar ST5 no ano anterior, Joe viu Malu em Los Angeles e a reencontrou em Las Vegas.

Mas Joseph imediatamente também se desfez da memória da ruiva, que ainda permeava sua mente com mais frequência do que ele gostaria.

Nada podia desconcentrá-lo naquela noite, nem mesmo seu antigo amor.

- Aliás, falando nisso, ano que vem estreia a última temporada de Stranger Things e você ainda vai contar com os frutos deste trabalho! E, se tudo continuar dando certo, de tantos outros trabalhos que ainda virão!

O empresário continuava, alegre, comemorando os bons tempos que Joe estava tendo no trabalho.

Charlie empenhava-se em construir a carreira de Joseph Quinn ao máximo. De contratos de perfume - como Gris, da Dior - até filmes e parcerias com marcas e estilistas, como Zegna, Charlie fazia de tudo para que Joe se concentrasse no que realmente importava: sua carreira em ascensão. O empresário britânico era determinado - e nada poderia atrapalhar seus objetivos.

De cabelos pretos curtos e raspados, olhos escuros, corpo atlético e na casa dos 40 anos, Charlie Walker é um homem considerado por muitas mulheres como bonito e atraente. Não era incomum, inclusive, que as fãs de Joseph Quinn se deparassem olhando aquele homem alto e sério que estava sempre ao lado do ator em eventos. Principalmente nas inúmeras Comic Cons que Joe fazia pelo mundo, quando algumas fãs notavam o homem moreno com Joe. Algumas até mesmo ousavam e pediam para Charlie participar das fotos com elas e Joe - um dos raros momentos em que Charlie se permitia sorrir. Seus dentes eram brancos, bonitos e perfeitamente alinhados. Mas Charlie pouco sorria. Ele apenas fazia o que tinha que fazer: trabalhar.

Quando Joe e Charlie começaram a trabalhar juntos, anos antes de Joseph ser famoso, o empresário havia acabado de ter um filho com uma ex-namorada. Agora, seu filho já tinha 10 anos, mas mal fazia parte de sua vida. Charlie pagava a pensão de seu filho em dia, nunca sequer a atrasara, mas falhava em dar o que toda criança mais precisa: amor e carinho. Sua presença era rara: Walker via o filho apenas em datas comemorativas como Natal, feriados e aniversários. Mas nos últimos anos, cuidando da carreira de Joseph Quinn, ele mal conseguia se fazer presente no aniversário do filho, já que sempre estava viajando em eventos, muitas vezes fora da Inglaterra.

Charlie Walker não se orgulhava de ser um pai ausente. Tampouco se orgulhava do que fazia com Joseph Quinn, mesmo sabendo que suas ações iam um pouco além de sua função como empresário.

"I did what I had to do" - "Eu fiz o que tinha que fazer" - Charlie pensava para si, justificando o que fizera com Joe no passado recente. "I managed" - "Eu cuidei de tudo".

Tudo começou aos poucos, na verdade. Foi evoluindo conforme o envolvimento de Joseph com a brasileira evoluía também.

"A brasileira".  Era assim que Charlie Walker chamava Maria Luiza Salles. De brasileira. Ele recusava-se a chamá-la pelo nome. De normalizar sua presença como se tudo o que acontecesse fosse aceitável. Para Charlie, o envolvimento de Joseph Quinn e Maria Luiza - a brasileira - era um verdadeiro absurdo.

Meeting Joseph Quinn 🇧🇷Where stories live. Discover now