Capítulo 1

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Aeroporto Internacional John F. Kennedy

A neve caía suavemente, formando uma delicada e alva cortina em frente à janela da aeronave, com os seus pequenos flocos rodopiando preguiçosamente no ar antes de se unirem à fina camada branca que cobria todas as superfícies, no momento em que o avião tocava o solo, cautelosamente e sem qualquer deslize. Quando finalmente estava em terra firme, pôde declarar que seu voo tinha sido tranquilo. Embora as condições climáticas não fossem favoráveis, a verdade era que, mesmo em meio à calmaria, havia uma sensação inconfundível de despedida pairando no ar.

Anahí havia detestado a ideia de virar as costas para a cidade dos anjos e deixar para trás todos aqueles que amava, simplesmente para ir embora, odiando principalmente o fato de que seu destino seria a selva de pedras nova-iorquina. No entanto, nos últimos meses, sua vida havia sofrido uma drástica reviravolta após a morte prematura de Alejandro, vítima de um fatídico assalto.

De onde estava sentada, com os fones de ouvido no volume máximo, conseguia ter uma ampla visão do outro corredor, que dava acesso à classe econômica. Ali, já havia pessoas eufóricas aguardando que o sinal luminoso, que mantinha todos sentados, finalmente se apagasse. Todos ansiando que a porta da aeronave fosse finalmente aberta. Anahí os observou em silêncio, contemplando toda aquela energia incessante que provavelmente estaria sentindo se aquela fosse a viagem que ela e seu pai haviam planejado para as férias de verão, mas infelizmente não era. Ainda sentia uma dor lancinante, como uma ferroada dolorosa em seu peito, ao recordar todos os momentos que haviam planejado compartilhar com o seu pai e que nunca mais se realizariam. Anahí ainda se lembrava com clareza das vozes dos médicos, numa tentativa inútil de explicar-lhe tudo que havia dado errado na cirurgia, enquanto ela não conseguia manter sua atenção em nenhum detalhe, mergulhada na dor mais profunda que já havia sentido e que já fazia meses.

Quando finalmente passou pela alfândega, um processo um pouco mais demorado do que o normal devido ao exagerado número de malas, Anahí ainda mantinha seus pensamentos distantes.

— Obrigada. — Agradeceu Anahí, abrindo um sorriso contido em direção a uma das funcionárias simpáticas do aeroporto que havia sido solicita com as bagagens, ajudando-a a arrumá-las em um carrinho.

Quando novamente se viu sozinha, Anahí ergueu os olhos azuis, percorrendo todo o saguão de desembarque em busca de alguém que pudesse estar à sua espera. No entanto, não pareceu haver ninguém aguardando por ela. Tudo o que ela mais desejava naquele instante era poder tomar um banho longo, de preferência bem quente, e encontrar uma cama confortável onde pudesse descansar. Infelizmente, naquele momento, não fazia nem ideia se haveria um banheiro e uma cama à sua espera. Buscou uma cadeira para esperar, mas antes mesmo de conseguir se acomodar confortavelmente, notou que, a alguns metros dela, um motorista devidamente uniformizado se apressava em se ajeitar, abrindo um papel que carregava em suas mãos, contendo o seu nome e sobrenome.

— Senhorita Puente? — Questionou no momento em que a notou se aproximando dele, seu sotaque norte-americano tornando-se carregado ao tentar acertar a pronúncia correta do sobrenome latino. Ao vê-la assentir, ele se aproximou rapidamente, ajudando-a com as bagagens. — O senhor Herrera não conseguiu vir devido a um compromisso inadiável na empresa, mas já deve estar lhe aguardando ansiosamente em sua residência. — Anunciou de maneira quase mecânica, como se houvesse sido muito bem instruído a dizer tais palavras quando finalmente a encontrasse. Viu Anahí assentir e abrir um sorriso descrente, como se duvidasse completamente disso, e, no fundo, ele mesmo também duvidava. — Por aqui. — Indicou gentilmente o caminho em direção ao estacionamento, empurrando o carrinho dela.

Após Anahí insistir em ajudá-lo a colocar as bagagens no porta-malas do Audi negro, o motorista abriu a porta para que ela pudesse entrar. Ela deslizou para dentro do veículo rapidamente, enquanto os bancos revestidos em couro pareciam acolhê-la maravilhosamente bem, proporcionando um completo alívio após o vento gélido do lado de fora. Anahí se encolheu ainda mais, colocando as mãos dentro dos bolsos do casaco que usava, uma vez que havia esquecido de pôr as luvas, e seus dedos começavam a ficar meio dormentes.

Em nome da paixão - Livro 1Where stories live. Discover now