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Prosseguimos o jogo, e o placar final, três sets a um. Ganhamos fácil! No final da tarde, a confusão estava esquecida, e Harry e Zayn já tinham feito às pazes. Mamãe pediu algumas pizzas e todos nós comemos com vontade, bebendo muito refrigerante. Pouco depois, finalmente Zayn se despediu de todos. Terminei o dia suada e suja, então fui tomar um banho refrescante. Enquanto me ensaboava, lembrei-me do rosto do Harry ao me defender durante a partida de vôlei. Tinha ficado realmente irritado, mas não pude deixar de sentir uma onda de emoção com o ocorrido e também gratidão. Quando já estava vestida, sentada na cama e acabando de pentear o cabelo, Harry apareceu na porta, segurando seu violão e algumas folhas de papel.

- Posso entrar? - perguntou, inseguro.

- Claro - respondi, um pouco surpresa. Ele se aproximou, puxou uma cadeira, colocando-a perto de mim, e sentou-se.

- Será que você pode me ajudar?

- Pode falar - respondi, curiosa. Depois do que ele tinha feito por mim, andaria até sobre brasas se me pedisse. Harry me estendeu as folhas de papel, e eu as peguei e olhei para ele sem entender.

- Aprendi essa música essa semana, na aula de violão, meu professor disse que é uma música brasileira muito famosa. Eu tenho a letra em inglês, mas eu queria ouvir como ela soa no original, em português. Você cantaria para mim, enquanto eu toco?

Olhei para folha e li o título da música: "Garota de Ipanema".

- Conheço essa música, mas não escuto faz muito tempo, e meu português deve estar meio enferrujado - falei sem graça.

- Não tem problema, também trouxe a letra em português. Faz assim, eu canto uma vez, em inglês mesmo, só para você pegar o ritmo, depois é a sua vez.

Baixei os olhos, envergonhada, me sentindo mais tímida do que nunca, andar em brasas agora soava muito atraente. Voltei a olhar para ele, que me fitava com evidente empolgação. Definitivamente eu era um caso perdido, seria impossível resistir a ele.

- Está bem - respondi, insegura. - Mas não vai rir de mim!

- Combinado - disse, dando aquele sorriso que me desarmava.

Ele pegou o violão, posicionando-o na perna, e logo começou a tocar, enchendo meu quarto com a melodia e a sua voz macia. Apesar de conhecer a canção, nunca tinha prestado muita atenção à letra, sabia que apesar da aparente simplicidade era muito romântica e famosa, porém agora, ao ouvi-la cantada por Harry, ganhou toda uma nova conotação, a emoção parecia fluir entre cada palavra dita e nota tocada. A música era como se fosse um fio condutor que ligava nossos corações de forma mágica, como se houvesse mais mensagens na linda harmonia do que fosse claramente revelado. Quando ele acabou, eu estava sem fala, tinha cantado com tanto sentimento que quase enfartei quando ele levantou o rosto no final, cantando a última estrofe me olhando nos olhos.

- E aí, foi tão ruim assim? - perguntou, sem graça, já que eu continuava muda.

- Na-na-não! - gaguejei. - Foi incrível, adorei!

- Sério? - Ele estava alegre.

- Você arrasou! - confirmei.

- Obrigado. Agora é a sua vez! - Ele olhou minha cara apavorada e sorriu: - Pode deixar, não vou rir, prometo - disse, ajeitando o violão na perna novamente. - Pronta?

- Não, mas pode começar - murmurei, trêmula.

Comecei a cantar bem baixinho, com medo de nem saber mais pronunciar direito as palavras, mas para minha surpresa minha língua desenrolou e, na segunda estrofe, comecei a me desinibir. Ele sorria para mim, estimulando-me a continuar. Voltei a me emocionar profundamente, não só por este momento partilhado com ele, também por poder matar a saudade de praticar esse idioma tão querido. Não sabia se estava cantando bem ou mal, tudo o que sabia era que estava sendo sincera em minha apresentação, deixando que a emoção me guiasse. Terminei me sentindo super bem.

- Agora é a hora que você começa a jogar os tomates e ovos podres? - brinquei.

- Hum... sabia que tinha me esquecido de trazer alguma coisa! - E, ao dizer aquilo, rimos juntos. - Brincadeira, Mila! Foi ótimo! Vamos tentar mais uma vez? Agora, vou gravar no meu MP4 - disse, tirando o aparelhinho do bolso. Repetimos a canção mais uma vez, e agora, me sentindo ainda mais confiante, soltei realmente a voz.

- Olha, adorei a música em português, soa muito melhor com a melodia, e devo confessar, fica muito mais... romântico - disse, quando terminamos.

Depois disso, não sabia mais o que dizer, a gente se olhava timidamente, e o Harry, sem graça, começou a dedilhar o violão. Olhei para ele, me perguntando como alguém conseguia ser tão atrapalhado e fofo ao mesmo tempo. "Que se dane a timidez!", pensei inesperadamente. Aproximei-me rápido e, para surpresa dele, dei um beijinho na sua bochecha, que o fez congelar e arregalar os olhos.

- Obrigada, isso é por você ter me defendido hoje à tarde - disse, virando-me rápido, beijando também a outra bochecha. - E isso por ter cantado essa música linda para mim - depois me afastei, voltando a sentar na cama.

- Hum... bem... de nada. - ele murmurou, visivelmente envergonhado, e se levantou abruptamente. - Acho... acho melhor ir agora, para ensaiar mais, outro dia a gente tenta de novo. Obrigado pela ajuda, gostei muito.

- Claro - falei calmamente. - Também gostei. Não tive como não rir, ao vê-lo sair tropeçando em tudo pelo caminho.

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uncontrollably fond // hs Where stories live. Discover now