- Se eu for escrever sobre o que eu gosto, escreverei sobre compras, mas aí vão me chamar de consumista. Tem que ser outra coisa.
- Que tal um tema sobre a conservação do meio ambiente, é bem sério e popular hoje em dia.
- Todos os "puxa-sacos" e "nerds" da turma escreverão sobre isso e se tem uma coisa que Alexia Smith não faz, é ser comum, tem que ser um tema original - disse, olhando a tela que continuava em branco. - O que você vai fazer?
- Já fiz, foi uma poesia - respondi, evitando encará-la.
- Sério? Puxa, você foi rápida! - exclamou, surpresa, e eu entendi sua reação, afinal geralmente acontecia justamente o contrário. - E que tema escolheu?
- Sobre algo de que gosto - respondi, de forma evasiva.
Lexy já me conhecia bem o suficiente para saber que não adiantava insistir, eu não revelaria mais nada, então apenas me lançou um olhar curioso, mas permaneceu calada, o que para ela era um desafio e tanto.
- Vou ao banheiro - avisei.
- Vou deixar isso para fazer mais tarde, pelo menos já terminei a pesquisa de história, posso usar sua impressora? - perguntou, quando eu já estava de saída.
- Claro, fique a vontade.
Quando voltei, pouco tempo depois, Lexy estava sentada na minha cadeira e lia uma folha de papel atentamente. Quando parei a seu lado para ver o que era tão interessante, senti o pânico me invadir, pois sabia de cor o que estava ali, meu segredo mais bem guardado.
As Coisas Que Amo:
Amo o céu e o mar Infinito e imenso porque eles me lembram teu olhar em doce lamento
Amo as rosas e os corais de lindos matizes porque eles me lembram teus lábios em macio tormento
Amo iogurte e nata com branca cremosidade porque eles me lembram tua pele em suave formigamento
Mas acima de tudo amo os pássaros pequenos e frágeis porque fazem construções resistentes de intrincado entrelace abrigo perfeito para o puro sentimento de um amor no ninho.
Por Camila Styles.
- O que você pensa que está fazendo? - perguntei, nervosa, ao tirar a folha das mãos dela. - Mexendo nos meus objetos pessoais!
- Claro que não, Camila! - Lexy respondeu, com a expressão ultrajada. - Eu cliquei para imprimir meu trabalho e, quando fui pegá-lo na sua impressora, essa folha estava junto.
Agora que ela tinha explicado, lembrei que tinha imprimido pouco antes de sua chegada e tinha me esquecido de guardar.
- Desculpe, Lexy - falei, muito embaraçada. - Eu não desconfio de você, só que, quando te vi segurando isso, não me contive.
Ela me olhou atentamente e disse:
- Tudo bem, também não gosto que mexam em algo que seja particular.
Movi a cabeça em concordância, afastei-me, sentei-me na cama e dobrei a folha cuidadosamente ao meio. Por alguns instantes, fiquei sem saber o que dizer, e quando ergui novamente a cabeça deparei com o olhar desconfiado dela, que me fitava atentamente. Fiquei ainda mais desconcertada.
- Camz, eu já li, então não adianta fingir que não aconteceu - disse, de forma direta. - Então, baseada neste e em outros pequenos fatos, só me resta perguntar: você gosta do Harry? E, quando digo gostar, não é no sentido fraternal.
Apertei com força a folha entre as mãos, mordi os lábios e então, como se tivesse tomado um poderoso soro da verdade, cuspi a resposta de forma dramática:
- Gostar? Não! Eu o amo! Amo tanto que às vezes penso que vou enlouquecer! - revelei. - E garanto que o sentimento não tem nada de fraterno.
Como em nossa dupla, sempre fui à garota reservada e tímida, e Lexy agora estava de boca aberta, aparentemente assombrada com meu súbito descontrole emocional. Como ela continuava sem reação, senti as faces vermelhas e, largando o papel de lado, cobri o rosto com as mãos. Onde eu estava com a cabeça, para confessar tudo para Lexy? O que ela deveria estar pensando de mim nesse momento? Tinha até medo de imaginar.
- Eu sei, Lexy. Deve ter alguma coisa errada comigo, não devia sentir isso por ele - falei, angustiada. - Acho que não sou normal. Pode dizer, sou uma aberração!
Ouvi passos e, pouco depois, percebi Lexy se sentar ao meu lado.
- Camila, olha pra mim - disse, puxando minhas mãos, e eu cedi, soltando-as. - Você pode ser qualquer coisa, menos uma aberração. Por que seria? Por amar o Harry? Pelo que eu saiba, ele é um homem e você uma mulher, até aí tudo muito normal.
- Mas... ele é meu irmão - murmurei, temerosa.
- Apenas no papel - ela disse, muito prática.
- Então, você não acha que é pecado? - perguntei, um pouco mais calma.
- Se vocês fossem irmãos de verdade, acredito que seria sim, mas não existe essa ligação entre vocês dois, apesar de serem criados juntos e conviverem na mesma casa.
- E termos os mesmos pais - completei. Lexy considerou aquilo por um minuto.
- O que ele sente por você? - perguntou.
- Acho que o mesmo que ele sente por nossas outras irmãs - respondi, dando de ombros. - Só tem uma pequena diferença.
- Qual?
- Eu o sinto mais reservado comigo. Ele sempre me tratou bem, nunca fez distinção entre mim e eles, mas não sei, tenho a impressão que às vezes ele me evita, como se algo em mim o incomodasse. Como se não conseguisse ficar completamente à vontade comigo.
- E o que você acha que o faz agir assim?
- Acho que o fato de eu chegar, passando a ser a nova caçula da família, talvez não lhe tenha agradado muito - respondi, confusa. - O que você acha?
- Acho que nesse mundo tudo é possível, até mesmo os porcos terem asas - respondeu, daquele jeito muito desinibido, que era sua marca registrada. - Sendo por que motivo for, acho que não seja uma coisa que deva preocupá-la, pra mim o Harry sempre foi um esquisitão, então talvez essa seja somente mais uma esquisitice pra fazer parte da coleção. - Fiz uma careta de desagrado diante de seu último comentário, e ela suspirou. - Tá bom, desculpe. Já entendi; você o ama, e pra você ele é o cara mais perfeito do mundo. Como dizem por aí, o amor é cego, não é mesmo? Então acredite quando digo que você não tem por que se sentir culpada ou envergonhada de seus sentimentos, até que me provem o contrário vocês são dois seres livres e desimpedidos, então se rolar, rolou.
A capacidade de Lexy ouvir, assimilar e digerir informação, considerada chocante pela maioria, era impressionante, porém agora, mais do que nunca, aquela qualidade era uma bênção em minha vida. Eu já tinha aberto a boca para fazer um pedido quando ela disse:
- E pode ficar tranquila, guardarei o seu segredo.
- Lexy, você é o máximo! - exclamei, sorrindo, antes de lhe dar um grande abraço.
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uncontrollably fond // hs
FanfictionE se a semente do amor germinar no mais desafiador dos cenários? Camila foi adotada pelos Styles quando tinha apenas oito anos, após perder seus pais em um terrível acidente de trânsito. Por obra do destino ela e Harry, seu irmão adotivo, tornaram-s...