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As filmagens começaram a exigir todo o tempo do Harry, logo ele e todo o elenco viajaram para fazerem as cenas externas, mantendo-se distantes por cerca de um mês. Enquanto isso, tive tempo suficiente para pensar nos meus sentimentos por ele, naquele plano maluco que havia seguido e nas escolhas que estava prestes a fazer. Eu amava o Harry, profundamente, desesperadamente, totalmente e tolamente. Sim, eu era uma tola por amá-lo tanto, há tanto tempo e sem a menor possibilidade de vê-lo concretizado, bastaria uma palavra dele para que jogasse tudo para o alto, daria qualquer coisa por um simples beijo, por uma simples carícia que demonstrasse claramente que eu significava algo mais para ele, que não fosse apenas à irmãzinha. Mas, como Lexy me lembrou tão bem, até quando esperar, até quando deixar de ter minha própria vida, de experimentar algo concreto, real e parar de viver apenas de sonhos e fantasias? Foi com dor no coração e na alma que decidi desistir dele, virar essa página, constantemente sem conclusão na minha vida.

Lexy continuava me pressionando a acabar logo com aquilo, mas fui firme com ela ao esclarecer que o amor de uma vida inteira não se deixa assim, como se descarta um sapato velho; era necessário me despedir aos poucos, me despedir de todas as lembranças, de todos os momentos que passamos juntos, das risadas, dos sorrisos, das piadas, das lágrimas, das brigas, do toque, dos cheiros, tudo que o simbolizasse. Perguntava-me o que sobraria em mim, depois de todo aquele exorcismo, porque amá-lo era como estar possuída por uma força sobrenatural. Tudo o que sentia agora dentro de mim era um profundo e imenso vazio, se pudesse gritar por dentro só meu próprio eco me responderia. Foi nesse clima sombrio que o recebi. Era com uma frieza cortante que respondia a ele quando falava comigo, e eu podia enxergar, em seu olhar, confusão, mágoa e ressentimento com minha mudança de atitude. O tempo passava e eu fui me afastando, destruindo pontes e desfazendo laços.

Na noite anterior ao lançamento do filme, coloquei em cima da cama o baby-doll comprado com a Lexy, olhei-o indecisa, até que decidi não usar. Não senti necessidade nem motivação, e o deixaria reservado para outra ocasião. Finalmente, chegou o dia tão aguardado, toda a família estaria presente no evento, era uma ocasião de gala. Arrumei-me com todo o cuidado, o melhor penteado e a melhor maquiagem, porque decidi que aquele seria o dia definitivo na minha transformação; meu futuro parceiro já estava definido. Logo após a apresentação do filme, haveria um jantar comemorativo e em seguida uma festa fechada num famoso clube noturno, restrita a poucos convidados. Como irmã do Harry e amiga de quase todo o elenco, claro que havia sido incluída nessa comemoração. Decidi, então, que lá se daria o desfecho e eu iniciaria uma nova fase na minha vida. Harry também tinha avisado que, na manhã seguinte à estreia, ele e boa parte do elenco viajariam por duas semanas, percorrendo vários lugares para divulgação do filme.

Coloquei meu vestido de tafetá tomara que caia, num tom de verde-oliva, com bordados e detalhes em vinho, um pouco acima do joelho. Ainda bem que o sutiã que eu tinha comprado com Lexy tinha alças removíveis, e havia chegado o dia de usar a lingerie, que faria me sentir poderosa. Prendi os cabelos num rabo de cavalo alto, coloquei brincos compridos para combinar, uma sandália de salto agulha, e fiz uma maquiagem leve, porém com os olhos bem realçados, dei uma boa borrifada de perfume e estava pronta. Havia acabado de tirar a carteira de motorista e iria dirigindo o carro da mamãe, porque nossos pais voltariam para casa logo após o jantar e eu seguiria para a festa, infelizmente dando carona para o Harry. Peguei meu casaco e bolsa e desci a escada.

- Uau! Nossa princesa está linda! - papai disse assim que me viu, tirando uma foto e fazendo- me piscar com o flash.

A família estava toda reunida na sala, minhas irmãs também estavam presentes, todos elegantemente vestidos. Meu olhar percorreu o ambiente e, quando encontrei Harry, senti o familiar aperto na boca do estômago: ele estava lindo com aquele cabelo cuidadosamente despenteado, usando calça social, camisa cinza e paletó preto. Desviei rapidamente o olhar, evitaria olhá-lo o máximo possível essa noite, queria me concentrar totalmente no meu objetivo, o que não o incluía. Tiramos várias fotos, todos juntos, evitei aquelas ao lado dele, mas isso foi impossível quando mamãe sugeriu, fazendo um gesto com a mão para nos aproximarmos.

- Vai, Harry, só ficou faltando uma foto sua com a Camila!

Olhei para Harry, que, sério, se aproximou de mim, e ficamos parados, de pé, retos, um ao lado do outro.

Não tivemos alternativa. Obedecemos. Abraçamo-nos pela cintura e demos sorrisos forçados. Assim que papai tirou a foto, afastamo-nos rapidamente.

- OK, já está bom, não é? Não quero me atrasar! - Harry disse, em direção à porta.

uncontrollably fond // hs Onde histórias criam vida. Descubra agora