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Ele resmungou, meio zangado, algo que eu não entendi, mas fez o que pedi, e eu ergui meu rosto e recomeçamos. Meus olhos se encontraram com os dele, e então aconteceu o que eu evitava a todo custo: conexão. Eu me esforçava ao máximo, tentando me concentrar somente na coreografia, mas como fazer isso ao encarar aqueles olhos que pareciam me atravessar? E eu começava a ter consciência do calor de seu peito tão próximo a mim, de suas mãos macias que me tocavam. Tanta proximidade começou a ser perturbadora, porém fiz força para aparentar tranquilidade e profissionalismo. À medida que dançávamos, senti que aos poucos ele começou a relaxar, passou a acertar os passos e não pisava tanto no meu pé. Então algo quase me fez perder o equilíbrio: ele sorriu para mim e inesperadamente me puxou de encontro a ele, e nossos corpos ficaram perigosamente colados; o mundo ao meu redor deixou de existir.

Eu estava presa, ali, não por correntes, mas por uma força muito superior, os braços dele formavam as grades de uma prisão, da qual não queria nem tinha forças de me libertar. Aos poucos percebi algo diferente em seu rosto, uma mudança sutil, mas que notei quando o olhar dele se tornou intenso. Por alguns segundos foi como se chamas brilhassem em suas pupilas, porém ele piscou os olhos e, no momento seguinte, a emoção que eu pensei ter visto espelhada neles havia desaparecido. Confusa, senti-o afrouxar o aperto e procurei voltar a me concentrar no que fazíamos. Da primeira vez que ele me ergueu, rodopiando comigo, confesso que pensei que ele fosse me derrubar, mas inesperadamente me sustentou o tempo todo, colocando-me no chão com cuidado.

- Parabéns, Harry. - Ele sorriu de prazer com o elogio.

Já tínhamos dado no mínimo umas 20 voltas, havíamos progredido bastante.

- Ai, me deixa sentar um pouco, preciso recuperar o fôlego! - falou, enxugando o suor da testa.

- Já ficou cansado? Isso é que dá ter vida sedentária, você está muito fora de forma. - Virei- me ao sentir uma mão na minha cintura.

- Posso ter a honra? - Era o Chuck, e antes que eu pudesse responder ou o Harry reclamar, ele me puxou e começamos a dançar pelo salão.

Era ótimo dançarino, não errou uma única vez e me ergueu no ar com facilidade, sorrindo para mim de um jeito encantador.

- Você dança muito bem - elogiei.

- Obrigado, mas com uma parceira como você não é preciso muito esforço. O Harry escondeu você direitinho, muito esperto da parte dele.

- Como assim? - perguntei, curiosa.

- Bom, ele nunca mencionou você antes, pelo menos até hoje, e imagino que ele agiu assim porque sabia que, no momento que o pessoal a descobrisse, não ia largar do seu pé - respondeu, flertando descaradamente.

- Como você é exagerado! - comentei, sem graça.

- Não posso garantir pelos outros, mas da minha parte é o que eu faria, ou melhor, pretendo fazer. - disse, me apertando mais forte, como para reforçar o que dizia.

- Sempre ouvi dizer que os franceses são os homens mais conquistadores da Europa, agora começo a entender o porquê dessa fama. - Ele deu uma sonora risada.

- Que é isso, Chuck, monopolizando a garota mais bonita do salão? Não seja egoísta - disse Daniel, parado do nosso lado. - Vem, Camila, vamos ver se você tem mesmo sangue brasileiro nas veias - disse, tirando-me dos braços do Chuck, que pareceu não gostar nem um pouco, fuzilando o colega com o olhar.

Daniel fez um sinal para alguém que mexia no som, que de repente começou a tocar um samba, e ele saiu rodando comigo, fazendo-me sentir numa gafieira. Ele grudou o corpo musculoso no meu, enquanto requebrava, com uma de suas pernas entre as minhas. O pessoal começou a aplaudir, enquanto dançávamos e desenvolvíamos passos mais elaborados.

- Acho que por hoje é só Amante Latino - disse Harry, interrompendo e colocando a mão no ombro do Daniel. - Acabou. Agora vamos para casa.

- Ah, que pena! - Daniel falou me soltando. - Estava realmente me divertindo!

- É, deu para notar - Harry comentou, enquanto me puxava para longe, mal deixando me despedir.

- Precisava dar todo esse espetáculo? - disse, entredentes. - Estou aqui te fazendo um favor, isso não significa que também não posso me divertir, com alguém que não pise nos meus pés! - respondi irritada.

- Com licença - disse Serena, se aproximando. - Até logo, Camila, foi um prazer conhecer você, espero que possa vir sempre aos nossos ensaios. Parabéns, você é muito talentosa! - disse me dando um abraço, que eu retribuí. Ela já estava se afastando, quando voltou e disse rápido: - Ah, só mais uma coisa, se eu não soubesse quem vocês são, juraria que era um casal de namorados brigando. - E deu um sorrisinho malicioso antes de partir.

uncontrollably fond // hs Donde viven las historias. Descúbrelo ahora