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Ao chegarmos lá, tocava uma música muito alegre, com uma batida contagiante. Ele se agarrou comigo e começamos a dançar, mexendo os quadris de forma sensual no ritmo da música, se é que aquela ralação toda podia se chamar de dança. Eu não conseguia parar de olhar seu rosto vermelho, excitado, olhos brilhando e aquele meio sorriso, que acabava com as boas intenções de qualquer garota. A música mudou para uma melodia mais tranquila e romântica, o que ajudou a nos acalmar um pouco. Sentia um clima de encantamento no ar, entrelaçamos nossas mãos, pousei minha cabeça em seu peito, sentindo seus lábios em meu cabelo, enquanto nos movíamos de um lado para o outro. Reparei em vários casais se formando na pista. Ele me abraçou pela cintura, enquanto passava minhas mãos atrás de seu pescoço, e nos deixamos envolver pela melodia.

- Quero que todos vejam que você é minha - sussurrou no meu ouvido, e eu tremi de alegria ao ouvir aquelas palavras.

Olhávamos nos olhos um do outro, completamente esquecidos do que rolava ao redor. Senti seu rosto se aproximar cada vez mais do meu e, mais uma vez, fechei meus olhos; ele me beijou com tanta ternura que juro que, se ele não estivesse me segurando, tinha caído ali mesmo. Abracei-o firme, passando minhas mãos por seu cabelo, sentindo a textura de seus lábios quentes, macios e saborosos. Quando o beijo acabou, dei uma olhada rápida ao redor e pude perceber vários pares de olhos surpresos, algumas pessoas rindo discretamente, enquanto outras apontavam abertamente para a gente. Fiquei um pouco sem graça, afinal cheguei à festa como irmã dele, e agora estávamos nos agarrando daquela forma, para quem assistia devia ser, no mínimo, esquisito.

- Vamos embora? - sugeriu.

- Vamos - respondi prontamente.

Naquele momento, iria até o inferno, desde que fosse com ele. Fomos pegar meu casaco e minha bolsa.

- Melhor você me dar à chave do carro - ele pediu.

- Mas você não sabe dirigir - argumentei.

- E você não está em condição de dirigir, depois de tanto champanhe. Vou pedir para alguém da produção levar o carro pra gente, e nós vamos de táxi. - Fui obrigada a concordar com seus argumentos e entreguei a chave a ele.

Saímos de mãos dadas na noite fria.

- Aonde você quer ir? - perguntou, e pensei por um momento.

- Estou com fome - acabei por responder.

- Ótima pedida. Vamos comer alguma coisa - ele concordou sorrindo, parando um táxi.

Durante todo o trajeto, eu me perguntava se aquela noite não era um sonho, se o braço que envolvia meus ombros não era uma ilusão, se o brilho de seus olhos ao me olhar não era uma miragem. Já era muito tarde, quase tudo estava fechado, então resolvemos parar na primeira lanchonete que encontramos aberta. Já passava das três horas da manhã quando nos aproximamos, de mãos dadas, da moça no caixa. Olhando para a parede ao lado, vi um quadro intitulado Funcionário do Mês, onde aparecia justamente uma foto da garota que nos atendia.

- Vou querer uma promoção completa e um milk-shake de chocolate - ele falou, logo de cara.

- E a sua namorada? - a moça perguntou, sorrindo.

Fui pega completamente desprevenida com aquela pergunta. Namorada? Até bem pouco tempo, era sua irmã, agora, ao ouvir ser chamada de "namorada" por uma desconhecida, fiquei sem fala. O que será que eu era para o Harry nesse momento? Não tinha certeza. Como eu continuava muda, a atendente se virou novamente para ele.

- Ah, eu já sei, para ela pode pedir a promoção light, com suco de laranja - respondeu por mim.

- Legal quando o namorado da gente conhece nossos gostos, não é? - comentou a garota sorridente, e eu quis sumir.

Já Harry não parecia nem um pouco perturbado.

- Se você quiser, pode ir se sentar, que eu levo a bandeja - ele sugeriu, e saí dali na mesma hora, antes que pudesse ouvir outro comentário daqueles.

Escolhi uma mesa ao lado de um espelho, e pude dar uma boa olhada no meu rosto. Estava com as bochechas muito rosadas e um olhar estranho, parecendo que estava com febre. O cabelo um pouco despenteado, mas ainda no lugar, os lábios completamente sem batom, e sorri comigo mesma ao lembrar o motivo. Acabei por dar uma risadinha, achando graça do meu reflexo.

- O que é tão engraçado? - perguntou Harry ao se aproximar, sentando-se à minha frente.

- A vida - respondi, alegre. - Oba! Estou faminta! - falei, avançando no sanduíche.

Enquanto comia, continuei me olhando no espelho, analisando meu rosto, minhas expressões, me observando analiticamente, até que ouvi uma risadinha.

- Você fica muito engraçada, bêbada - ele disse, rindo.

uncontrollably fond // hs Onde histórias criam vida. Descubra agora