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Ele me olhava com tanta veneração que fiquei comovida. Aproximou devagar a sua mão e tocou a borda do sutiã delicadamente com a ponta de seus dedos, quase com reverência. Mas, antes que continuasse a baixar meu vestido e acabasse por revelar o restante, fomos interrompidos.

- Harry, é você? - Ouvimos uma voz ainda distante, e nos olhamos, apavorados.

- É o papai! - falei, pulando imediatamente.

- Caramba! - ele disse, me soltando.

- O que vamos fazer? - perguntei, assustada.

Estávamos num estado difícil de disfarçar, completamente despenteados, Harry com a camisa desabotoada, eu com o vestido aberto, aparecendo parte do sutiã. Harry deu um puxão no meu vestido, tentando colocá-lo no lugar, mas ouvimos os passos se aproximando.

- Se abaixa e fica completamente imóvel - ordenou, saindo do carro, passando as mãos no cabelo e abotoando rápido alguns botões. Vi que ele fechou os olhos, se concentrando, e quando os abriu sua feição estava completamente relaxada e casual. Nossa, realmente, ele era um ótimo ator!

- Sou eu, papai! -Harry disse se afastando, e ouvi uma porta se abrir.

- Ouvi o barulho do carro entrando na garagem e vim ver se está tudo bem - ouvi papai dizer.

- Está tudo perfeitamente bem.

- Onde está sua irmã? - Fiz uma careta ao ouvir aquilo.

- Já foi se deitar - mentiu Harry, com a maior cara de pau.

- E o que você ainda faz aqui?

- Vim procurar meu celular, acho que deixei no carro.

- Ah, então está bem. Vou voltar para a cama. Daqui a pouco você viaja, não é mesmo?

- Sim, em poucas horas - confirmou.

- Certo, se não voltar a vê-lo pela manhã, boa viagem, filho!

- Obrigado!

Ouvi os passos do papai se afastando e continuei sem me mexer, até o Harry se aproximar me fazendo um sinal para que saísse do carro. Fiquei de pé ao seu lado, colocando o vestido no lugar e fechando o zíper.

- Essa foi por muito pouco! - falei bem baixinho, ainda nervosa.

- Nem me fale, ainda estou em choque! - falou, no mesmo tom.

- Você merecia um Oscar por sua atuação, não deu para perceber nada!

- Deixa os elogios para depois, agora vamos subir antes que mais alguém apareça!

Tiramos os sapatos, saímos da garagem e subimos na ponta dos pés.

- Vá para seu quarto, vou tomar um banho e terminar de arrumar minhas coisas, passo lá antes de sair - sussurrou.

- Tá bom - murmurei em resposta, ficando na ponta dos pés para conseguir beijar seu queixo.

- Tentação! - ele disse, se aproximando.

- Vai, vai logo! - falei, rindo e empurrando-o para a porta do quarto dele.

- A aula foi suspensa, mas ainda não terminou! - sussurrou para mim, dando aquele sorriso que eu amava, antes de fechar a porta do seu quarto.

Acordei devagar, de um sono muito profundo, e me mexi pensando que horas seriam. Sentia a cabeça um pouco pesada e a língua seca; realmente tinha exagerado na noite passada, não estava acostumada a beber, e tinha entornado muito champanhe, pelo que me lembrava. Apesar do desconforto físico, me sentia leve, satisfeita, e tentei organizar meus pensamentos, procurando o motivo de estar me sentindo tão bem. Imagens sucessivas começaram a inundar minha mente, e quando as últimas lembranças da madrugada me atingiram abri os olhos e sentei na cama quase ao mesmo tempo.

- Oh... - senti minha cabeça rodar por causa do movimento brusco que fizera.

Olhei para a janela e, pela claridade que entrava no quarto, já devia ser bem tarde. Olhei para o relógio ao meu lado e confirmei minhas suspeitas: passava das três horas da tarde.

- Droga! - falei baixinho.

Tinha caído no sono esperando pelo Harry, e não havia conseguido me despedir dele. Voltei a deitar frustrada, pois teria adorado dar-lhe um beijo de despedida. Ainda não estava muito certa de que tudo aquilo tinha acontecido, a noite passada parecia um sonho fantástico, ainda assim passei os dedos nos lábios, lembrando os beijos que trocamos, as carícias, o seu toque aveludado, o jeito carinhoso e meio desesperado com que ele me olhou, as suas palavras gentis e ao mesmo tempo cheias de más intenções. Só de pensar em tudo aquilo, sentia meu corpo vibrar e ansiar por ele. Meu coração cantava em meu peito uma música alegre, me sentia tão ridiculamente feliz!

Espreguicei-me com um sorriso nos lábios, levantei e fui dançando até o banheiro. Despi-me sem pressa, liguei a água quente e entrei de cabeça. Ao ensaboar meu corpo, lembrei-me do Harry, do jeito intenso como ele me fitou o tempo todo, e ri embaraçada, ao pensar na sua reação.

uncontrollably fond // hs Where stories live. Discover now