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Suspirei, desistindo de contradizê-la, naquele assunto Lexy era absolutamente irredutível. Depois que o garçom anotou nossos pedidos, ela virou-se para mim com atenção, pousando suas mãos cruzadas em cima da mesa.

- OK, Camila - disse, com um meio sorriso. - Esperei que você me contasse por iniciativa própria, mas parece que vou ter que arrancar a informação de você. Desembucha! Como foi seu encontro com o Matt ontem à noite?

Mordi os lábios, nervosa, realmente havia evitado aquele assunto a manhã toda, porque eu sabia exatamente qual seria a reação dela quando contasse.

- Foi assim tão ruim? - perguntou, fazendo uma careta.

- Na verdade não, o filme foi bom, ele é legal, comprou pipoca e refrigerante, mas... - não consegui continuar.

- Mas?... - disse, me encorajando.

- Ele tem uma risada bem estranha - falei, olhando para baixo, esperando os gritos da minha amiga, mas como ela permaneceu em silêncio arrisquei dar uma espiada, e ela estava de olhos fechados, respirando fundo.

- Camila - disse devagar, e agora me fuzilando com o olhar. - Não me diga que você saiu desse encontro sem beijar o cara! Ele é uma gracinha!

- Não dava, Lexy! Ele fazia umas piadinhas estranhas e depois dava uma risada esquisita, não teve clima! - disse, tentando me justificar.

- Camila, você tem 16 anos e ainda é BV!

- Eu sei bem disso, não precisa me lembrar - falei, me sentindo péssima.

- Puxa, sabe com quantos caras você saiu esse ano e nada ainda aconteceu? Um montão! - disse, enérgica. - Um tem mau hálito, o outro pés tortos, outro se veste mal, outro tem nariz engraçado... Camila, o que você está procurando?

Continuei em silêncio, olhando para baixo, sem coragem de responder.

- Nenhum deles vai ser o Harry, querida. - Fechei os olhos quando ela disse isso.

Lexy havia suspeitado do meu segredo logo no primeiro ano de escola. Apesar de ser muito discreta quanto à verdadeira natureza de meus sentimentos por meu irmão, Lexy era uma pessoa dotada de uma sensibilidade incomum, que quase beirava o sexto sentido. Bastou me observar assistindo ao Harry praticar esportes na escola, olhando-o completamente arrebatada, para que ficasse desconfiada, o que foi finalmente confirmado devido à minha distração ao deixar um determinado poema perto demais de sua curiosidade. Então, a partir do momento em que consegui abrir meu coração para Lexy, ela tornou-se minha confidente para todos os assuntos que me afligiam e, para minha sorte, sendo sempre muito leal, nunca contando nada a ninguém.

- Eu sei, eu sei - respondi, triste.

- Até parece maldição! Você tem que se livrar dessa assombração chamada Harry Styles! - disse, impaciente. - Honestamente, não sei o que você vê nesse cara, desengonçado, se veste mal e faz cada piadinha sem graça! - Não tive como não rir de ver como a Lexy enxergava o Harry.

- Como explicar por que uns gostam de morango e outros não? Simplesmente olhei pra ele e gamei na hora, simples assim.

- Mas esse sentimento não está te fazendo bem, Camila! Você disfarça bem, é verdade, mas posso imaginar o que deve ser ficar naquela casa, vendo o cara dos seus sonhos todo dia passar por você e nada acontecer. Por que você não tenta esquecê-lo?

- Olha. Eu estou tentando...

- Não, você não está! - me interrompeu, falando com firmeza. - Ouça, Camila, me desculpa, sou sua melhor amiga e tenho que ser sincera. Você não pode continuar vivendo assim, sempre esperando, sempre suspirando pelos cantos, sempre fantasiando com ele. Se você quer tanto esse cara, por que não parte para o ataque?

- Não é assim tão simples - respondi, mexendo as mãos nervosamente sobre a mesa.

- Então me explica, porque não sei mais o que pensar. - Ela cruzou os braços.

- Veja bem - fiz uma pausa, tentando organizar meus pensamentos. - Eu e Harry somos criados como irmãos de verdade, o tempo todo nossos pais falam "seu irmão isso" ou "sua irmã aquilo", fica impossível esquecer o nosso papel lá em casa. Na cabeça dos nossos pais, não existe qualquer possibilidade romântica entre nós dois, então já imaginou o choque que seria? E se rolasse alguma coisa, o que eu duvido que possa acontecer, talvez eles nunca aceitassem.

Ficamos um momento em silêncio.

uncontrollably fond // hs Onde histórias criam vida. Descubra agora