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Depois dessa, só me restou sair dali e trocar de roupa. Frequentei os ensaios por uma semana, e acabei ajudando não somente ao Harry, como outros membros do elenco. Tirei fotos dançando com todos os atores principais, e quando levei as fotos para a escola todo mundo morreu de inveja. Chuck e Daniel ficavam se revezando para chamar minha atenção. E, se antes o problema era arrumar um pretendente, agora era decidir quem seria o escolhido.

- Ué, na dúvida fica com os dois - aconselhou-me Lexy, como se fosse à coisa mais natural do mundo.

Olhei para ela chocada com a sugestão. Durante essa semana, não deixei o Harry descansar, para garantir que ele realmente aprendesse corretamente. Quando chegávamos em casa, continuávamos ensaiando no meu quarto, enquanto ele reclamava muito, mas não me deixava comover com suas reclamações de cansaço ou desânimo, simplesmente o empurrava para a frente do espelho e o fazia dançar comigo até a exaustão. Por sempre ser tratada como sua irmã, tínhamos toda a intimidade e cumplicidade que envolvem uma relação fraterna, então era muito natural nos tocar, ter alguma proximidade física, pelo menos para mim os sentimentos e sensações que o toque dele despertava não tinham nada de fraterno, mesmo numa situação tão corriqueira.

Então, certa noite, ele me pediu para aproveitarmos o treino e ensaiarmos uma cena do filme enquanto dançávamos. A princípio não vi problema e aceitei, mas ao pegar o roteiro e ler do que se tratava, amaldiçoei a mim mesma por ter dito sim cedo demais. Era uma cena escandalosamente romântica, com diálogos cheios de duplos sentidos entre o seu personagem e o da garota que fazia sua parceira de dança. Li horrorizada, imaginando como conseguiria sobreviver àquilo. Apesar do pavor, procurei memorizar o texto o melhor que pude, então dessa vez, quando ele me segurou pela cintura, estava tão tensa que resolvi não olhar para seu rosto, fixando minha visão em seu peito; olhar seus olhos seria demais para mim nesse momento.

- Pronta? - perguntou, enquanto começávamos a nos mexer.

- Sim - respondi, nervosa. - Mas não se esqueça, não sou atriz, então não espere nenhum desempenho digno de Oscar aqui.

- OK, isso é só um ensaio - respondeu, rindo do meu nervosismo, o que me deixou irritada.

- Então vamos começar logo!

Depois que ouvi mais uma de suas risadinhas implicantes, ele ficou em silêncio por um instante e então começou a cena comigo. Fiquei impressionada como a postura e o tom de voz dele mudaram, incorporando o personagem. Mais uma vez, ficava evidente para mim como ele era talentoso. Procurei fazer minha parte o melhor que pude, enquanto nosso diálogo prosseguia.

- "Por que não aceita isso de uma vez? Por que continua fugindo de mim?" - ele dizia no texto.

- "Você não entende, jamais vai entender." - respondi.

- "Quando você vai entender que somos feitos um para o outro?" - ele continuou.

- "Você sabe que não podemos. Pode ser perigoso, muito perigoso."

- "Olha pra mim." - ele pediu.

Na verdade quem pedia era seu personagem, mas naquele momento eu não conseguia mais separar o real da ficção. Quando Harry, com delicadeza, segurou o meu queixo, fazendo-me erguer o rosto e finalmente encará-lo, quase desfaleci com as emoções que ele representava ali, num olhar apaixonado e desesperado.

- "O que você quer de mim?" - ele prosseguiu sussurrante, enquanto parava de dançar, e me segurou com firmeza pelos braços. - "O quão mais vou conseguir suportar essa tortura?"

- "Eu... você..." - gaguejei, buscando pelas palavras, mas elas me faltaram.

O texto acabava de ir para o espaço, e eu tinha perdido completamente o pouco de concentração que me restava. Minha mente entrou em colapso, meu corpo estava trêmulo, aquele texto, a interpretação intensa e vibrante dele, somada à nossa proximidade física, me desarmaram, senti minhas barreiras ruírem e lágrimas começaram a escorrer por minha face, num choro sufocado.

- Camila? - Voltou a falar no seu tom normal, enquanto franzia a testa. - O que houve? Por que está chorando?

Não consegui dizer nada, apenas continuei chorando, diante de seu olhar preocupado, e depois ele tocou meus cabelos.

- O que foi? Vamos, me diz - insistiu.

- Você... você interpreta tão bem, me emocionei - consegui responder, tentando dizer algo coerente.

Seu olhar se suavizou, desfazendo a expressão preocupada.

- Tão sensível o meu muffin de baunilha - disse, sorrindo; sua voz era uma carícia suave em meus ouvidos.

uncontrollably fond // hs Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang