#38

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— sabe ela estava linda - o vejo sorrir. — acho que ela sabia disso por que estava tão feliz... Foi então que no sexto mês ela começou a se sentir mal, ficava estressada muito rápido, se sentia triste a maior parte do tempo. Eu achei que fosse algo relacionado a gravides - revira os olhos — fiz de tudo para ela se ver bonita novamente,acontece que eu estava errado. Ela não se sentia feia.  Ela não estava triste pela gravides. Ela.. - pego em uma de suas mãos, ele sorri fraco. — Ela estava sendo ameaçada. - Olho para ele completamente perplexa. — Henry a ameaçava, dizia que o bebê não podia interferir no futuro de seu único filho. Acontece que antes de Ana engravidar eu estava em meu último ano de faculdade.Sempre odiei contabilidade. Quando Ana disse que estava grávida eu não exitei duas vezes em sair da faculdade, arranjei um emprego e aluguei uma casa para nossa família.  Mas é claro que Henry não ficou nada contente com isto. Não sei o porque mas Henry me queria em casa, ainda quer... Dia a pós dia ele enchia a cabeça de Ana com suas asneiras. Dizia que ela estava prestes a estragar minha vida, que o bebê só traria desgraça... - Seus olhos enchem de lágrimas. Em um impulso eu o abraço. Ele me aperta contra seus braços. Sinto sua tristeza se apoderar de meu corpo. —..  Ela se cansou. Ela acreditou nele.

— eu sinto muito meu amor - susurro em seu pescoço. 

— Ela fez o que achou ser o certo.. - Sua voz estava trêmula. — Mas depois do que houve. Depois dela ter se jogado da escada. Ela só piorou. Emagreceu dez quilos. Chorava o tempo todo. Eu queria ajudar. Eu a amava, mas eu também estava em luto. Furioso. Passei meses rondando de bar em bar.. Deixei Ana sofrer sozinha.. Fui um imbecil! E então quando eu enfim tomei coragem para voltar pra casa eu a vi daquele jeito..  o sangue..  seu corpo no chão - me afasto de seu corpo.  Seus olhos parecem vagar em outro lugar. Talvez para o mundo das lembranças. Lembranças ruins e tristes. — Eu a abandonei.

— você estava sofrendo - coloco uma de minhas mãos sobre seu rosto. Ele passa a me olhar nos olhos. Sinto  o imenso desejo de beija-lo. E assim eu faço, grudo meus lábios aos dele, sua língua se apodera de minha boca. Suas mãos me puxam para mais perto. Com uma mistura de desespero e desejo. Sinto as lágrimas de seus olhos  em meu rosto.  Assim ficamos por alguns minutos. Apenas nos beijando. Seus soluços me faziam chorar também. Estávamos os dois chorando.  tínhamos a tristeza e o amor.  e os dois juntos para minha surpresa era bom. Era aceitável.  Assim que nos separamos ele enxugou os olhos e sorriu. Parecia aliviado. — quem mais sabe disso?

— apenas William  - ele fecha os olhos — não tive coragem de contar pra minha mãe..

— ela não sabe o que seu pai fez?

— não...

Como um pai pode fazer isso com o filho? Christopher estava certo. Henry é um monstro.

                           ....

- Tem alguém batendo na porta - afasto meu pescoço de seus lábios mas ele volta a beija-lo - vai abrir a porta! - Um riso me escapa.

- aposto que é William. - levanta frustrado. Escuto seus pessos indo em direção a porta, a porta se abre. E então o silêncio. O silêncio que pesa em toda casa. Um calafrio me passa por todo o corpo - o que faz aqui?

O silêncio vaga no ar, mas eu sinto alguém sorrir, não sei como mas eu sinto a presença de um sorriso. Um sorriso amargo e frio.

- Olá meu filho..

Fico imóvel. Não consigo ao menos piscar meus olhos.. É Henry! Henry está aqui.

- O que você faz aqui? - Christopher grita. Sua voz demonstra desprezo mas ainda sim eu sinto o medo que nela há.

- Soube que você entrou para uma banda. Virou um vagabundo. - Ele ri de escárnio e então completa ainda rindo.- Meu único filho é um vagabundo!

- eu não estou no clima Henry - silenciosamente ando em direção a porta do quarto de modo que Henry e Christopher fiquem no meu campo de visão. Estava quase que atrás da porta, acho que nenhum deles consegue me ver aqui. Christopher está de punhos fechado, seu olhar está trêmulo e seu maxilar contraído. - Saia da minha casa agora.

- Olha como fala comigo! - Vejo Henry avançar contra Christopher mas o mesmo não vacila. Seu sorriso só aumenta - pelo menos o vagabundo não é covarde.

- O que você quer Henry? - seu olhar se cruza ao meu. Ele faz um gesto para que eu me afaste, mas eu fico, algo dentro de mim diz para me manter por perto. Henry desconfia mas quando faz menção de virar o rosto em minha direção Christopher o atrai novamente - me responda!

- Quero que volte para casa!

- Isso nunca - sua voz se preenche de nojo - por que tanto insiste com esta merda?

- por que eu sou o seu pai! Olha só esse moquifo. E agora está em uma banda. Quanta desonra para um pai... Foi ana quem iniciou tudo isso!

- Cale a boca! - a cena seguinte foi tão rápida que quase não pude acompanhar, Christopher lhe socou a maçã do rosto deixando uma grande marca vermelha no local atingido,  após se recuperar Henry o jogou contra parede, começou a socar freneticamente a barriga de Christopher. Um grito mudo se instala em minha garganta. Eu tinha que fazer alguma coisa, tinha que ajudar Christopher mas como se meu corpo está petrificado? Christopher cai no chão, seus olhos parecem cansados como se a vitória não fosse importante. Ele me olha, olha no fundo dos meus olhos.. Henry segue seu olhar e antes que eu pudesse me esconder ele me vê.

.. Tenho que trancar a porta..

" se mexe Beatriz!"

- Beatriz não é? - Se aproxima. Sua voz, seu olhar, tudo nele me dá medo. Eu precisava fazer algo, precisava fugir dali mas não podia, seu olhar tinha o total domínio de minhas ações.

- Já chega, Henry! - Vejo dona Beth passar pela porta. Seus cabelos autos, olhos fundos. Nem parece a mesma mulher que eu vi a alguns meses. Seu olhar se direciona a Christopher, ela então me olha assustada, parece não acreditar no que vê - olha o que você fez com o nosso filho!

- Ele merece - se vira frustrado para Beth, por um momento eu pensei que ele fosse bater nela, mas a mesma não recua, é tão orgulhosa quanto o filho,  talvez até mais, seu orgulho parece causar algo na postura de Henry pois o mesmo se afasta. - Ele não teria nada se não fosse por mim.

- Eu teria meu filho! - Christopher se levanta com certa dificuldade, seu olhar carregado de ódio e mágoa - teria a minha família. Mas é claro que você tinha que tirar isso de mim também.

- Do que você está falando? - Beth o olha confusa.

- Se eu perdi o meu filho foi por culpa deste desgraçado. Ele tirou o meu filho de mim!

- Parece que estamos quites então! - A voz de Henry fica ainda mais enfurecida - Eu tirei de você a mesma coisa que você tirou de mim.

- Do que está falando? - Christopher fica confuso - O que eu tirei de você? O que eu fiz para ser tão odiado pelo meu próprio Pai?

- Minha filha - grita. Suas pernas se desequilibram, mas ele rapidamente se recompõe. Olha ao redor. Olha em meu olhos. - E se preciso, eu tiro tudo que você ama para te fazer sofrer como eu sofro!

Vejo o mesmo sair. Mas seu olhar continua presente. Não sei o que houve. Não sei como mas me sinto pesada. Aquele olhar foi como um tiro no peito. Um medo profundo se apossou de meu corpo, minha visão foi ficando cada vez mais turva e  o chão parecia não existir.. Foi quando tudo apagou.

O Garoto Do Sexto andar ( Em Reforma)Where stories live. Discover now