#48

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(Christopher..)

O que há de diferente em uma árvore?  são apenas galhos e folhas, algumas são repletas de  cores mas ainda sim são somente árvores, não?

Porém tudo muda quando um pássaro deseja morar nessa árvore, ele constrói o seu lar, ele muda aquela simples árvore, ele a deixa mais viva, mais bonita, aquele pássaro mesmo bagunçando tudo de um jeito peculiar parece coloca tudo em seu devido lugar.

Eu sou a árvore. Eu sou um cara comum, sem graça,  sem muitas histórias felizes para contar, sou quem perdeu a esposa e um filho que nem chegará a nascer, sou aquele que vaga solitário, que sorri não sorrindo, bom, meu nome é Christopher, e eu era realmente invisível, não tinha luz nem esperança, cheguei a passar dois intermináveis anos acreditando que tudo tinha acabado, que fui predestinado a sofrer pelo resto da minha vida, mas isso mudou, um sorriso mudou, um olhar surgiu... Foi quando Beatriz chegou. E tudo que eu acreditava fazer parte de mim foi embora, ela me fez um outro homem, alguém que eu gosto e alguém que ela ama.

Beatriz é a única que quero agora e a única que um dia posso querer. Eu a desejo todos os dias. E não seria mentira se eu dissesse que me apaixonei ainda mais por ela hoje cedo. Pois é isso que sinto, a cada dia estou mais e mais apaixonado por aquela que me inspira a sorrir, a me manter vivo, Bea se tornou meu lar, meu refúgio, é nela que me escondo quando tenho medo, é dela que bebo quando tenho sede, ela é tudo que sempre quis e muito mais que mereço. Mesmo assim, algo dentro de mim me diz que isso está errado. Que estou deixando de fazer algo que a possa fazer feliz. Mas o que seria? 

- No que está pensando?

Abro os olhos com dificuldade por conta do sol forte batendo em meu rosto. Beatriz e eu decidimos vir ao parque hoje mais cedo, deitar na grama, comer alguns sanduíches –claro que eu quem tive de fazer já que Beatriz é um desastre na cozinha– E quem sabe assim ela possa relaxar, sair um pouco da monotonia em que ela mesma se enfiou, Bea anda estranha desde o ocorrido no hospital, eu a vejo mas sei que ela não está aqui, há duas semanas que eu só tenho uma casca oca ao qual denonino Beatriz,parece sempre estar preocupada e em estado de alerta, mesmo ela não falando sei que quando um bebê passa na sua frente ela olha com esperanças de ser aquela garota e quem sabe assim um alívio possa ser preenchido dentro dela por aquela garota finalmente ter alguém para ama-lá.

- você está linda, sabia? - Viro-me de lado ficando de frente a ela, nunca gostei de deitar na grama, pinica e sem falar na quantidade de insetos que eu encontro pelo meu corpo depois, mas agora estando de frente a esse par de olhos castanhos, esse sorriso largo e cativante, não a mais nenhum lugar em que eu queira estar.

- por que ainda faz isso? - ela ri. 

- Faço o que?

- Por que insiste em flertar comigo?  nós já estamos juntos não estamos?

Penso em suas palavras por um instante e então respondo olhando em seus olhos:

- Você não é alguém que se pode ter, Beatriz. Você não é constante, você muda a cada momento, você me muda a cada momento. E em dois segundos somos pessoas novas, então eu não posso parar de flertar com você, porque eu nunca vou te ter, é você quem me tem. Eu só me esforço para não te perder.

Um sorriso gigante aparece em meu rosto assim que vejo a bochecha de Beatriz corar, ela me olha por um instante e então desvia o olhar constrangida. Não entendi o motivo para ela se sentir assim tão envergonhada mas vê-lá assim é maravilhoso.

- tira esse sorriso idiota do rosto, seu babaca. - me empurra, ou melhor, ela tenta me empurrar mas meu corpo não se move um centímetro sequer do lugar, acabo não contendo o riso e quando acho que ela vai se irritar a mesma simplesmente começa ri. Ela ri cada vez mais auto, e por um instante me preocupo com ela, eu conheço aquele riso, conheço o que está preste a acontecer, conheço pois já passei pelo que ela está passando. Quando não temos controle sobre nossas emoções, quando sentimos tudo ao mesmo tempo e um sentimento esmaga o outro, mas o final é sempre o mesmo, e temo por isso. Temo pois não a posso ver nesse estado, não a posso ver sofrer sem que eu não sofra junto. - O que estamos fazendo afinal?

Me sento e apoio minhas mãos sobre minhas pernas, tentando controlar meu desejo de beija-la, de toca-la, de fazê-lá sentir que tudo vai acabar bem.

- Do que está falando?

- porque estamos fazendo isso?  - ela se senta ao meu lado, suas mãos brincam com a grama enquanto seus olhos se fixam no casal a nossa frente. A garota de cabelos loiros ri de algo que o garoto disse anteriormente, os dois parecem completos e felizes, para eles não parece faltar nada, tudo que eles precisam está naquele riso. O que falta entre mim e Beatriz? - Estou na sua casa a duas semanas, lá eu almoço, tomo banho, janto, trabalho.. Mas eu não me vejo ali. Eu não faço parte do seu apartamento.

- Você quer voltar pro seu apartamento então? - minha voz sai embargada de sentimentos estranhos, medo.. Tristeza.. Certamente não quero vê-lá sair do meu apartamento, me acostumei com seu cheiro fundido em meu travesseiro, suas maquiagens espalhadas pelo balcão do banheiro, a televisão sempre ligada nos canais de desenho e claro a melhor parte, dormir ao lado de quem amo e saber que ela vai estar no mesmo lugar quando eu acordar, com os olhos semi abertos, analisando meu rosto, como se necessitasse decorar cada detalhe.. Não posso perder isso.

- Não. Você entendeu errado. - suspira.- Chris, eu não me sinto em um lar, eu me sinto entre quatro paredes comuns, nada ali representa quem sou ou quem somos. Eu só me sinto bem quando você está comigo, é quando tudo ali ganha vida, mas quando não está, quando tem que fazer algum show de madrugada ou sai com seus amigos é como se tudo perdesse a vida novamente, e então eu só estou entre quatro paredes pois nada ali sou eu e você, são só paredes. Objetos sem personalidade. Eles não matam a falta que você me faz quando sai pela porta. Eu só.. Esquece.

Nós permanecemos em silêncio por mais alguns minutos, Beatriz acaba de me dizer que não se sente bem em minha casa e de fato nem mesmo eu me sentiria, minha avó quem mobiliou aquele apartamento, eu nunca o decorei, nem mesmo coloquei pôsteres nas paredes, ele é realmente sem graça, quatro paredes sem vidas..

- que tal se eu colar um pôster de unicórnios?  - olho para ela divertido.

- que tal eu colar essa sua cara de palhaço?  - Seu riso parece penetrar em mim, ele me preenche, como eu queria poder eterniza-lo - que foi?

- Nada. - sorri.

" eu não posso perder isso.."
......

- Você só pode estar brincando!  - Jeff se endireita no sofá, parecendo refletir sobre o que acabei de falar. - isso é loucura, Chris.

- Você faz ideia do quanto sua vida vai mudar com essa escolha?  - pergunta Raymond ainda mais sério que o normal.

- Mas ele a ama, não ama? - William pergunta e quando faço menção de falar ele continua:- está óbvio que ele a ama. Por que não deixa o cara realizar essa loucura?

- Mas ainda sim não vai ser nada fácil. - Jeff retruca.

- tudo vai mudar cara, você mais que ninguém sabe disso. - Raymond diz me olhando fixamente nos olhos, incrédulo, mas no fundo vejo também um resquício de admiração, como se só agora ele pudesse ver algo dentro de mim, algo que antes ele não sabia que existia.

- Gente eu sei que não vai ser fácil nem mesmo quero que seja. E eu entendo que estejam preocupados, mas não é algo que eu possa escolher, eu tenho que fazer isso, porque eu a amo, e ela me ama. Talvez isso seja o maior erro da minha vida, mas também pode ser minha única chance de ser realmente feliz. De ser completo pela primeira vez. Já vi pessoas demais sairem da minha vida, mas não suportaria perder Bea também.

- e o que pretende fazer? - William pergunta.

- Não sei..

O Garoto Do Sexto andar ( Em Reforma)Where stories live. Discover now