Capítulo 1.

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POV Rose

É desta! Eu tenho um pressentimento que é desta. Também se não for, eu definitivamente não sei o que vou fazer da minha vida.

Eu preciso urgentemente de um trabalho. Vai fazer três meses desde que terminei o curso de design, e embora tenha ido a entrevistas quase todos dias, ainda não consegui nada. Eu preciso de provar aos meus pais que sou capaz de ser bem-sucedida, mesmo não tendo seguido o caminho que eles traçaram para mim. Eu preciso de pagar a renda ao Louis; estou a viver com ele há meses e já perdi a conta ás vezes que ele me salvou de viver na rua.

É claro que não vou pedinchar por dinheiro aos meus pais... eu tenho o meu orgulho e isso seria admitir perante eles que talvez se tivesse seguido Economia, como eles queriam, estaria agora á frente de uma multinacional qualquer, gerida pelo meu pai, um dos empresários mais conceituados em Londres.

Mas eu quero fazer as coisas à minha maneira, como sempre.  É desta... tem de ser desta.

Entrei no edifício vidrado e chique, ajeitando alguns cabelos fora do sítio, e puxando a saia para baixo. Assim que garanti que estava apresentável, dirigi-me à recepção:

- Bom dia, em que posso ser útil? - Perguntou uma senhora magrinha e pouco afável, que mais parecia ter engolido um CD, reproduzindo-o sempre que alguém se aproximava. 

- Bom dia. - Cumprimentei. - O meu nome é Rose Everdeen e estou aqui para a entrevista de emprego.

- Tenha a gentileza de aguardar um pouco. - Falou a Miss Robot, sem se dar ao trabalho de desviar o olhar do computador. - Se quiser pode tomar um café no nosso bar, sempre em frente terceira entrada á esquerda, obrigado.

- Obrigado. - Balbuciei, dirigindo-me para os bancos confortáveis da zona de espera, onde como eu, muitas outras miúdas tentavam a sua sorte. É certo que o lugar disponível não tinha muito a ver com a minha área… era para assistente de um engravatadinho qualquer que, à semelhança dos meus pais, é demasiado ocupado para gerir a própria vida, precisando de alguém que o faça por ele. Digamos que ser assistente do dono de uma empresa de design não é o meu emprego de sonho, mas talvez se conseguir o cargo agora, mais tarde possa vir a ser reconhecida na empresa.

Contemplei as minhas adversárias e logo o entusiasmo dessa manhã deu lugar ao receio: pareciam todas muito mais velhas, muito mais lindas, muito mais sérias e experientes. Eu, com os meus 23 anos e a minha altura ridícula, quase parecia filha de algumas das que ali estavam.

Nervosa, decidi seguir o conselho da outra e beber um café antes de entrar, mas assim que me levantei deixei cair a pasta que levava comigo, espalhando as folhas no chão. Bonito. Agora estava tudo a olhar para mim.

Apanhei rapidamente tudo o que havia escapado da minha pasta, e quando terminei tinha estragado o meu penteado cuidadosamente elaborado, que escorregava agora para o lado esquerdo. Perfeito, Rose, perfeito.

Ignorei os olhares que me mandavam e dirigi-me ao tal bar, esperando pela minha vez. Ali era tudo muito chique: tudo em tons de branco e preto, imensas zonas vidradas, e peças tão elegantes e caras que deviam chegar para pagar a renda ao Louis.

Finalmente chegara a minha vez, e quando ia a fazer o pedido um marmanjo qualquer meteu-se á minha frente! Estava de fato e era tão alto que me ocultava por completo.

- Desculpe, creio que estou à sua frente. - Disse eu, esticando-me para lhe tocar no ombro e chamar a sua atenção.

Ele voltou-se e olhou na minha direção, fazendo-me corar levemente. Caramba, que a criatura era linda de morrer!

- Disse alguma coisa? - Perguntou ele, com um ar de superioridade.

Anda Deus a perder tempo a fazer carinhas larocas para depois esta gente estragar tudo com o mau feitio! Vi como a menina que estava atrás do balcão olhava para mim, horrorizada. Provavelmente teria alguma paixão reprimida pelo Sr. Jeitoso e deixava-o passar sempre á frente na fila do bar... mas ai de mim se ia deixá-lo passar!

- Sim, disse que estou à sua frente, por isso agradecia que passasse para o final da fila. - Disse eu, esticando-me subtilmente para parecer maior e ameaçadora, sem sucesso.

Um sorriso sarcástico desenhou-se no seu rosto e tive de me concentrar para ficar enervada, porque a beleza dele era tão desconcertante quanto a sua falta de educação!

- Creio que não sabe com quem está a falar... - Disse ele, pegando no café que devia ser meu.

- Creio que sei. - Respondi, retirando-lhe o café da mão e levando-o aos lábios, bebendo-o de uma só vez. Queimou-me a língua, mas não podia deixar escapar a classe do gesto e por isso engoli o palavrão que me teria saído numa situação semelhante. - Creio que seja com um grande imbecil.

A jovem do balcão arfou, abismada, e levou as mãos á boca.

- Tenha um bom dia! - E dito isto devolvi-lhe o copo vazio, virando costas e deixando-o embasbacado a olhar para mim.

*

- Miss Rose Everdeen.

Ouvi chamarem o meu nome e levantei-me rapidamente, tendo o cuidado de segurar bem a capa contra os braços. Ao passar pelo corredor vi como o meu cabelo estava terrorífico e soltei-o rapidamente, penteando-o com a mão livre. Bati à porta e não obtive resposta. Bati de novo e mais uma vez, silêncio. Pensei uns segundos e abri a porta, metendo somente a cabeça dentro da sala.

- Posso? - Perguntei, nervosamente.

- Feche a porta, Miss Everdeen, e volte a bater. - Ordenou uma voz que não consegui identificar de onde vinha.

Oh meu deus do céu, vou concorrer para assistente pessoal de um maluco. Ainda vou a tempo de voltar para trás... Mas a ideia de chegar a casa sem sequer ter tentado demoveu essa possibilidade. Voltei a bater e o maluco ordenou-me que entrasse.

O gabinete dele era moderno e gigante como o resto do edifício. Tinha uma secretária comprida onde apenas estava pousado um Mac. Havia uma prateleira de livros mas nenhum pareceu interessar-me. Havia duas cadeiras brancas junto á secretária e eu tomei lugar numa delas, em silêncio. Um vidro gigantesco dava uma visão privilegiada para a cidade de Londres. Não conseguia ver o maluco mas soube que estava sentado na cadeira atrás da secretária, de costas para mim.

- E essa língua?

Como?!

- Desculpe?! - Balbuciei, confusa.

- Miss Everdeen, ninguém que bebe um café de penalti fica com a língua em bom estado. - A cadeira virou-se lentamente. - Muito prazer, o meu nome é Mr. Grande Imbecil.

Oh shit. 

Love WingsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora