Capítulo 42.

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POV Zayn

- Flash back on -

- Jullie.

- Hm. - Respondeu vagamente, sem desviar o olhar do notebook.

- Podíamos ir jantar a qualquer lado… - Sugeri, balançando discretamente a chave no bolso das calças. As suas sobrancelhas uniram-se numa expressão de concentração, dedicando toda a sua atenção ao pequeno ecrã, e só passados alguns segundos é que respondeu:

- Jantar? Não podes pedir à empregada que prepare algo?

- Dona Leila. - Corrigi pela milésima vez. - Eu só tinha pensado…é um dia especial.

Ela olhou para mim pela primeira vez nessa tarde e eu exibi o meu melhor sorriso.

- Especial?

Não consegui evitar expressar um certo desapontamento, mas rapidamente me forcei a controlá-lo. Afinal de contas, ela não tem culpa… tem trabalhado tanto e está tão exausta que é natural que não consiga memorizar tudo.

- Bom, hoje é dia dos namorados e eu pensei que…

- Oh, pois. Deixa lá, vamos outro dia, tenho de trabalhar. - Respondeu secamente, voltando-se de novo para o visor.

- Mas e se…

- Zayn, por favor, já não somos adolescentes, não tens de te esforçar tanto.

Uma das regras implícitas a que me fui acostumando ao longo do tempo é que Jullie não gosta de ser contrariada e eu, por minha vez, não gosto de contrariá-la com receio da reação que isso poderá despertar. Talvez seja um pouco doentia esta dependência que sinto perante ela, mas é um preço relativamente baixo a pagar por toda a felicidade que ela me traz: é como se me sentisse permanentemente em dívida para com ela, e dar-lhe razão nas pequenas batalhas do dia-a-dia é uma forma de retribuir. No entanto, por alguma razão, hoje sinto-me incapaz de deixar passar.

- Eu gosto de me esforçar. - Falei, colocando a mão na tampa do notebook, fechando-o. - Eu gosto de me esforçar por quem acho que vale o esforço, há algo de errado nisso?!

Ela olhou-me com uma expressão chocada e logo os seus lábios traçaram uma linha fininha que estou habituado a reconhecer de toda a vez que fica aborrecida com alguma coisa. Raios, devia ter estado calado.

- Credo, Zayn, deixa-te disso. E não, não há nada de errado com isso, mas até o esforço deve ser razoável, sabes bem que não gosto quando te esforças de mais.

Uma sensação de sufoco preencheu-me por completo e lutei contra a vontade de me desculpar: detesto discutir com ela, tenho um medo terrível que ela saia porta fora e não volte mais. Isso poderia acontecer a qualquer momento e eu sei que a culpa seria minha: eu esforço-me de mais, sempre.

- Lamento, não sei gostar a metade. - Sussurrei, mais para mim do que para ela.

- O que disseste?!

- Disse que não sei gostar a metade, porra! - O que estou a fazer, meu deus?! Porque estou a gritar com ela?! - Eu amo-te, Jullie, eu amo-te tanto e não sei amar-te menos que isto, desculpa, mas eu só sei amar-te com tudo o que tenho. 

Ela arregalou os olhos e eu virei costas, não sem antes deixar uma pequena caixa em cima da mesa. Escutei os seus movimentos enquanto abria o presente e o leve prender de respiração assim que viu do que se tratava.

- Oh meu deus, Zayn.

Travei o passo à saída do escritório e senti os seus braços em torno da minha cintura, desligando automaticamente toda a raiva que eu sentira momentos antes.

Love WingsWhere stories live. Discover now