capítulo 38

4.1K 312 10
                                    

Pov Louis

Sacudi o cabelo molhado ao entrar no ring e chamei-a baixinho.

- Tinna? Estás aí?

Eu nem queria acreditar quando recebi uma mensagem dela a dizer para vir ter aqui, e embora me sinta péssimo por estar a enganar a Tris, eu quero isto mais do que qualquer coisa. Estou apreensivo com a questão da história da Rose, mas ainda assim a minha curiosidade supera o medo de isso poder ser verdade.

- Louis? - A voz dela atraiu a minha atenção para as bancadas e caminhei até lá, encontrando-a deitada a olhar para o teto.

- Olá.

- Olá. - Respondo, instalando o silêncio.

As bancadas não são mais do que largas escadas de cimento, suficientemente grandes para que duas pessoas caibam deitadas no mesmo degrau, e por isso deitei-me ao lado dela, fixando o olhar nas luzes do recinto.

- Achas que sou uma pessoa má?

 Desvio o olhar para ela assim que pronuncia a pergunta, mas os seus olhos permanecem vagamente fixos no topo do pavilhão. Parece estar tudo em harmonia na sua expressão, desde os olhos grandes e despertos até à boca fina e curiosa, o tipo de expressão que nunca se imaginaria para alguém capaz de projetar as crueldades que a Rose contou.

- Por que razão perguntas isso?

- Louis, as perguntas exigem respostas, não novas perguntas. - Informa, sem sorrir. Gostava de saber o que lhe passa pela cabeça, gostava mesmo, mas para já contento-me com o facto de ela querer saber o que se passa minha.

- Não acredito em pessoas más, acredito em más circunstâncias. - Continuo, observando cada detalhe da sua expressão. A sua boca curva-se ligeiramente, mostrando um agrado subtil para com a minha resposta.

- E se eu fizesse algo verdadeiramente mau? - Pergunta, olhando-me nos olhos pela primeira vez desde que cheguei. Os nossos rostos estão quase colados e sinto a sua respiração bater contra os meus lábios. Um arrepio percorre o meu corpo e eu gostava de dizer que é efeito das suas palavras, mas estaria a mentir.

- A crueldade é uma reação à dor. - Os lábios dela entreabrem-se de surpresa perante a minha conclusão. - Uma reação errada e injustificável, mas ainda assim uma reação. Por isso não acho que sejas uma pessoa má, só uma pessoa boa com más reações a situações que eu imagino serem igualmente más.

Um brilho de emoção atravessa o olhar dela e antes que possa tentar interpreta-lo ela volta-se de novo para o teto do ring.

- Ok.

- Ok? Só isso?

- Que mania que as pessoas têm de subestimar essa palavra.

- “Ok” nem devia contar como uma palavra. - Respondo, fazendo-a sorrir. Acho que podia ser a tarefa de uma vida inteira…isto é, fazê-la sorrir. - Queres patinar?

O sorriso dela esmoreceu rapidamente e eu senti-me mal por isso.

- Disse algo de errado?

- Não…é só que…eu... eu não patino há muito tempo. Eu… bom, traz-me algumas memórias menos boas e…

- Conta-me. - As palavras saíram da minha boca antes que tivesse tempo de travá-las, mas não me arrependi. Eu quero saber tudo sobre ela, quero que ela me conte cada pormenor importante ou não da vida dela, e creio que seria capaz de passar dias a fio a ouvi-la falar sobre si mesma. Dizem que no amor se quer mais ações do que palavras, mas eu não concordo nem um pouco: o amor é isto, ouvi-la, a ela e às palavras dela, e guardá-las para  quando estiver demasiado silêncio dentro de mim. O amor é quando desejamos que alguém preencha os nossos silêncios.

Love WingsWhere stories live. Discover now