Capítulo 44. FIM!

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POV Jullie

Observei a sua expressão a transformar-se rapidamente: primeiro choque, depois reconhecimento, raiva, alívio e por fim um laivo de medo que me agradou particularmente.

- Como é que… ele matou-te… - Balbuciou ela, confusa.

- Ao que parece não foi muito bem-sucedido, querida. - Respondi, ostentando um sorriso triunfante. Só eu sei o quanto esperei por este momento e não podia estar mais contente por tudo se ter alinhado a meu favor. Confesso que fiquei ligeiramente desiludida com ela… esperava alguém mais dramático, que me recebesse com lágrimas e gritos de revolta, pelo menos alguma resistência, não esta passividade conformada e uma dose controlada de medo.

- Porque não te sentas confortavelmente enquanto eu te conto uma história? - Propus ironicamente. - O Zayn não deve demorar muito a aparecer, embora desta vez eu não lhe tenha dito onde estou…para dar mais graça ao jogo, estás a ver? Acredito que ele irá chegar a essa conclusão sozinho e enquanto isso podemos ir conversando. Afinal de contas, temos tempo, não é?

- NÃO! NÃO TE ATREVAS A TRAZÊ-LO PARA AQUI. - Gritou ela desesperadamente, debatendo-se contra as cordas que a mantinham imóvel no chão. - Por favor, faz-me o que quiseres, mas deixa o Zayn em paz.

- Assim dá gosto, finalmente alguma animação! - Comentei, rindo e fazendo com que o grupo se risse também. Até agora tinha uma vaga ideia do quanto ela gostava do Zayn, mas ao ver a explosão de raiva que se seguiu não deixou qualquer dúvida de que a profundidade dos seus sentimentos é muito maior do que eu supus.

- Bom, podemos começar a história? - Perguntei, numa tentativa de acabar com a gritaria. Pelas informações que fui recolhendo ao longo dos últimos meses, parece-me que ela tem um ponto fraco, a curiosidade, e por isso irei socorrer-me dele. Ela debateu-se por uns momentos, mas como imaginei acabou por ficar em silêncio, aguardando que eu começasse a falar.

E eu comecei.

*

Nasci e cresci no meio rural de Londres, numa aldeia com casas tão pequenas que tinha de dividir o quarto com três dos meus primos. Os meus pais eram padeiros, assim como os meus avós, e os pais deles, e por aí adiante, desde uma geração qualquer que decidiu que fazer pão havia de ser a única alternativa para enfiar meia dúzia de migalhas pela garganta abaixo de uma prole de filhos que parecia não ter fim. Eu segui pelo mesmo caminho, começando a trabalhar aos 7 com as mesmas expetativas que a minha mãe, a minha avó, a mãe dela e por aí adiante: queria trabalhar para alimentar o meu futuro marido e filhos, para também eles poderem um dia fazer exatamente a mesma coisa que toda a sua família fizera… sobreviver. No entanto, aos 12 anos a minha vida mudou para sempre. Uma cliente habitual que há muito já mostrara agrado pela minha personalidade forte e desenrascada, pediu permissão aos meus pais para que pudesse viajar por uns dias com a sua filha, a fim de ajudá-la a tratar de duas crianças que tinha a seu cargo. Ela vivia no centro de Londres e era gestora de uma grande empresa de moda pelo que não tinha muito tempo para cuidar dos filhos, assim, eu tomaria conta deles.

- Foi a primeira vez que vi um carro. - Continuei, deixando-me envolver na história. - Consegues imaginar… em 12 anos eu nunca vira senão meia dúzia de casas pequenas, centenas de sacos farinha e vacas. E o carro foi apenas a primeira coisa de muitas que eu descobri… era como se a vida se me tivesse a abrir todas as portas naquele momento e eu não seria mais capaz de voltar à minha estúpida terra onde nunca ninguém iria fazer algo mais do que ficar ali, a tentar sobreviver à custa das ninharias que nós mesmos produzíamos. Aos 12 anos eu decidi que não iria ser como a minha mãe, a minha avó, a mãe dela e por aí adiante, eu queria mais, muito mais, e eu estava pronta para ter o mundo a meus pés. Por isso voltei a casa só para me despedir daquelas pessoas que nunca mais voltei a ver, pois iriam somente ser um obstáculo para as minhas ambições, e comecei a batalhar para chegar onde queria. Estudei durante anos, trabalhei ao mesmo tempo, e fui reunindo um conjunto de contactos que me poderiam ajudar de futuro. Rapidamente cheguei à conclusão que a senhora que me havia acolhido não me iria ajudar em nada… embora fosse influente, era demasiado correta e ponderada, e tentava, em vão, atenuar a minha busca desenfreada por fama e dinheiro.

Love WingsWhere stories live. Discover now