POV Rose.
- Então, não tem nada a dizer? - Perguntou o Mr. Grande-imbecil-maluco-jeitoso, olhando-me com aquele arzinho superior.
Ponderei as minhas possibilidades: primeiro, perdi o emprego, segundo… bem, não há segundo. Chamei imbecil ao patrão e roubei-lhe o café, o que nos leva de volta para o primeiro. Eu perdi o emprego mesmo antes da entrevista!
- Eu prezo muito o civismo. - Ataquei. Ao menos se já perdi o trabalho, vou sair daqui em grande estilo.
- E eu prezo muito um bom café. - Respondeu ele com um sorrisinho irónico. Que raiva.
- Podia prezá-lo cinco minutos depois. – Redargui secamente.
- Por que o faria, se as vantagens de ser patrão me permitem passar à frente?
Respirei fundo para me acalmar.
- Porque era o que alguém não imbecil faria!
Ele sorriu sarcasticamente e os seus olhos castanhos cor-de-avelã brilharam levemente. Eram realmente bonitos.
- Qual é a sua experiência na área, Miss Everdeen? - Perguntou ele.
Ah ainda vai haver entrevista?! Interessante. Ou não.
-Hmm a minha experiência... pois... é tão, mas tão ampla e diversificada que...
- Nuca trabalhou antes, pois não?
Raios.
- Não. - Confidenciei, corada.
- E porque acha que eu devia contratá-la? - Perguntou ele, sem desviar o olhar.
Esta pergunta deu-me vontade de rir.
- Mr…
- Malik. Zyan Malik.
Mr. Malik, de maluco, está claro.
- Mr. Malik, ambos sabemos que isso não vai acontecer. Eu chamei-lhe imbecil. Duas vezes.
- E isso faz de si uma má assistente? – Ele continuava a fixar-me, agora sem aquele sorrisinho irritante.
Gostei do ponto de vista.
- Não. - Respondi, sinceramente.
Ele rodou a cadeira, voltando-se de costas para mim. Apeteceu-me deitar-lhe a língua (queimada!) de fora, mas contive o meu impulso.
- Miss Everdeen, qual considera ser a sua maior qualidade?
Pensei durante alguns momentos. Seria expectável que eu dissesse qualquer coisa como a retidão, a organização ou o pragmatismo, certo? Pois bem, mas num daqueles bloqueios repentinos não me saiu nada semelhante.
- Eu sei desenhar pássaros melhor que ninguém.
Ele girou a cadeira rapidamente e arregalou os olhos, surpreso. Um conjunto rápido de reações passou pelo seu rosto: primeiro um leve olhar de tristeza, depois um breve sorriso saudoso, e por fim uma covinha divertida na face. No final, voltou á mesma expressão fechada e irónica com que se tinha apresentado a mim.
- E em que situação poderia fazer uso dessa extraordinária competência? - Perguntou ele, disfarçando a vontade que sentia de dar uma gargalhada. Eu bem vi que lhe apetecia rir, e não seria para menos! Porque raio me saiu aquilo?! De facto, orgulho-me de ser uma desenhadora de pássaros exemplar, mas isso não faz de mim a pessoa indicada para o cargo a que estou a concorrer.
- Caso algum dia precise de desenhar um pássaro com urgência, eu posso ajudar. - Meu Deus Rose, cala-te, estás a fazer figura de ursa.
- Levante-se, Miss Everdeen.
Olhei-o, confusa.
- Porquê?
Ele suspirou, aborrecido.
- Importa-se de fazer o que lhe peço?!
Oh diabo.
Levantei-me nervosamente, e fiquei à espera que ele dissesse algo.
- Vá até aquele quadro e diga-me o que vê nele. – Ordenou, calmamente.
Olhei na direcção a que ele se referira e vi uma tela branca com uma imagem de…não. Era uma tela branca. Sozinha. Só branca.
Ora muito bem, a resposta racional seria responder “Nada.”, mas eu sabia que não era isso que ele pretendia. Lembrei-me daquela velha piada da vaca que comeu a erva e foi embora, ou ainda daquela da avalanche de neve...mas achei isso demasiado cliché. Eu queria que ele soubesse que eu via mais do que isso.
- Mr. Malik?
- Diga.
- Eu não vejo nada.
Vi que ele ficou levemente desapontado, mas logo se recompôs.
- Ainda. – Acrescentei, fazendo-o arquear a sobrancelha.
Em segundos, tirei um lápis da pochete e pus-me de bicos de pés para chegar à tela, começando a rabiscar.
- MAS QUE RAIO…
Quando ele chegou junto a mim já eu tinha terminado os traços gerais.
- Agora vejo um pássaro, e você?
Ele ficou em silêncio, abismado. Apeteceu-me rir da sua figura, completamente desnorteada, mas achei que devia conter-me.
- Miss Everdeen, isso era uma obra consagrada de um famoso pintor parisiense. – Disse ele ao fim de uns longos segundos silenciosos.
Oh. Meu. Deus.
- Qual era o título? – Sussurrei, com a cabeça baixa.
- Branca de Neve.
- Oh. – Bolas. Bolas. Bolas. Eu não tenho dinheiro para pagar uma obra de arte! Se eu for ao supermercado, comprar uma tela branca e reproduzir a assinatura e…
- Miss Everdeen, a entrevista terminou. - Disse ele.
Raios.
- Obrigado, bom dia Mr. Malik. – Disse eu, num sussurro constrangido. - E desculpe pelo pássaro.
Tentei sair de forma graciosa e pouco barulhenta, mas os meus esforços saíram furados pois fui de encontro a uma estatueta horrorosa, fazendo-a abanar perigosamente. Por sorte não caiu e eu suspirei aliviada, ignorando o olhar do Sr. Imbecil.
- Miss Everdeen?
- Sim? - Perguntei, voltando-me de frente para ele e vi que me estendia a tela.
- Faça o favor de a terminar o mais rápido que puder, não gosto daquela parede vazia.
Os meus olhos arregalaram tanto que podiam bem ter saído das órbitas.
- Amanhã quero-a aqui às 8h. Arranje duas agendas. – Disse ele, voltando a sentar-se na cadeira e virando-se de costas para mim.
Oh meu deus. Oh meu deus. Oh meeeeeeeeeu deeeeeeeus.
- Obrigado, Mr. Malik! - Dei um pulo de alegria mas logo me recompus pois reparei que ele me podia ver do vidro. Aquilo era um sorriso?
Voltei-me para sair de novo, agora bem mais feliz.
- Miss Everdeen? – Ele deteve-me. Vai dizer-me que estava a brincar!
- Sim?
- Meta mel nessa língua.
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Love Wings
Romance"Diz-se que no amor, quando mais se dá, mais tem para se dar. Mas eu nunca tive nada para dar a ninguém. Às vezes eu chego mesmo a pensar que no lugar do coração, eu não tenho coisa nenhuma, ou talvez um pássaro. Porque é assim que eu me sinto por d...