Capítulo 2 .

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POV Rose.

- Então, não tem nada a dizer? - Perguntou o Mr. Grande-imbecil-maluco-jeitoso, olhando-me com aquele arzinho superior.

Ponderei as minhas possibilidades: primeiro, perdi o emprego, segundo… bem, não há segundo. Chamei imbecil ao patrão e roubei-lhe o café, o que nos leva de volta para o primeiro. Eu perdi o emprego mesmo antes da entrevista!

- Eu prezo muito o civismo. - Ataquei. Ao menos se já perdi o trabalho, vou sair daqui em grande estilo.

- E eu prezo muito um bom café. - Respondeu ele com um sorrisinho irónico. Que raiva.

- Podia prezá-lo cinco minutos depois. – Redargui secamente.

- Por que o faria, se as vantagens de ser patrão me permitem passar à frente?

Respirei fundo para me acalmar.

- Porque era o que alguém não imbecil faria!

Ele sorriu sarcasticamente e os seus olhos castanhos cor-de-avelã brilharam levemente. Eram realmente bonitos.

- Qual é a sua experiência na área, Miss Everdeen? - Perguntou ele.

Ah ainda vai haver entrevista?! Interessante. Ou não.

-Hmm a minha experiência... pois... é tão, mas tão ampla e diversificada que...

- Nuca trabalhou antes, pois não?

Raios.

- Não. - Confidenciei, corada.

- E porque acha que eu devia contratá-la? - Perguntou ele, sem desviar o olhar.

Esta pergunta deu-me vontade de rir.

- Mr…

- Malik. Zyan Malik.

Mr. Malik, de maluco, está claro.

- Mr. Malik, ambos sabemos que isso não vai acontecer. Eu chamei-lhe imbecil. Duas vezes.

- E isso faz de si uma má assistente? – Ele continuava a fixar-me, agora sem aquele sorrisinho irritante.

Gostei do ponto de vista.

- Não. - Respondi, sinceramente.

Ele rodou a cadeira, voltando-se de costas para mim. Apeteceu-me deitar-lhe a língua (queimada!) de fora, mas contive o meu impulso.

- Miss Everdeen, qual considera ser a sua maior qualidade?

Pensei durante alguns momentos. Seria expectável que eu dissesse qualquer coisa como a retidão, a organização ou o pragmatismo, certo? Pois bem, mas num daqueles bloqueios repentinos não me saiu nada semelhante.

- Eu sei desenhar pássaros melhor que ninguém.

Ele girou a cadeira rapidamente e arregalou os olhos, surpreso. Um conjunto rápido de reações passou pelo seu rosto: primeiro um leve olhar de tristeza, depois um breve sorriso saudoso, e por fim uma covinha divertida na face. No final, voltou á mesma expressão fechada e irónica com que se tinha apresentado a mim.

- E em que situação poderia fazer uso dessa extraordinária competência? - Perguntou ele, disfarçando a vontade que sentia de dar uma gargalhada. Eu bem vi que lhe apetecia rir, e não seria para menos! Porque raio me saiu aquilo?! De facto, orgulho-me de ser uma desenhadora de pássaros exemplar, mas isso não faz de mim a pessoa indicada para o cargo a que estou a concorrer.

- Caso algum dia precise de desenhar um pássaro com urgência, eu posso ajudar. - Meu Deus Rose, cala-te, estás a fazer figura de ursa.

- Levante-se, Miss Everdeen.

Olhei-o, confusa.

- Porquê?

Ele suspirou, aborrecido.

- Importa-se de fazer o que lhe peço?!

Oh diabo.

Levantei-me nervosamente, e fiquei à espera que ele dissesse algo.

- Vá até aquele quadro e diga-me o que vê nele. – Ordenou, calmamente.

Olhei na direcção a que ele se referira e vi uma tela branca com uma imagem de…não. Era uma tela branca. Sozinha. Só branca.

Ora muito bem, a resposta racional seria responder “Nada.”, mas eu sabia que não era isso que ele pretendia. Lembrei-me daquela velha piada da vaca que comeu a erva e foi embora, ou ainda daquela da avalanche de neve...mas achei isso demasiado cliché. Eu queria que ele soubesse que eu via mais do que isso.

- Mr. Malik?

- Diga.

- Eu não vejo nada.

Vi que ele ficou levemente desapontado, mas logo se recompôs.

- Ainda. – Acrescentei, fazendo-o arquear a sobrancelha.

Em segundos, tirei um lápis da pochete e pus-me de bicos de pés para chegar à tela, começando a rabiscar.

- MAS QUE RAIO…

Quando ele chegou junto a mim já eu tinha terminado os traços gerais.

- Agora vejo um pássaro, e você?

Ele ficou em silêncio, abismado. Apeteceu-me rir da sua figura, completamente desnorteada, mas achei que devia conter-me.

- Miss Everdeen, isso era uma obra consagrada de um famoso pintor parisiense. – Disse ele ao fim de uns longos segundos silenciosos.

Oh. Meu. Deus.

- Qual era o título? – Sussurrei, com a cabeça baixa.

- Branca de Neve.

- Oh. – Bolas. Bolas. Bolas. Eu não tenho dinheiro para pagar uma obra de arte! Se eu for ao supermercado, comprar uma tela branca e reproduzir a assinatura e…

- Miss Everdeen, a entrevista terminou. - Disse ele.

Raios.

- Obrigado, bom dia Mr. Malik. – Disse eu, num sussurro constrangido. - E desculpe pelo pássaro.

Tentei sair de forma graciosa e pouco barulhenta, mas os meus esforços saíram furados pois fui de encontro a uma estatueta horrorosa, fazendo-a abanar perigosamente. Por sorte não caiu e eu suspirei aliviada, ignorando o olhar do Sr. Imbecil.

- Miss Everdeen?

- Sim? - Perguntei, voltando-me de frente para ele e vi que me estendia a tela.

- Faça o favor de a terminar o mais rápido que puder, não gosto daquela parede vazia.

Os meus olhos arregalaram tanto que podiam bem ter saído das órbitas.

- Amanhã quero-a aqui às 8h. Arranje duas agendas. – Disse ele, voltando a sentar-se na cadeira e virando-se de costas para mim.

Oh meu deus. Oh meu deus. Oh meeeeeeeeeu deeeeeeeus.

- Obrigado, Mr. Malik! - Dei um pulo de alegria mas logo me recompus pois reparei que ele me podia ver do vidro. Aquilo era um sorriso?

Voltei-me para sair de novo, agora bem mais feliz.

- Miss Everdeen? – Ele deteve-me. Vai dizer-me que estava a brincar!

- Sim?

- Meta mel nessa língua.

Love WingsWhere stories live. Discover now