Capítulo 41.

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POV Rose

Durante anos, eu não soube abraçar. 

Quando era miúda sempre que me abraçavam eu desatava a chorar e empurrava as pessoas para longe. Ao início todos achavam piada a esta minha falta de jeito para fazer algo que, à partida, qualquer ser humano está apto para fazer, mas há medida que os anos iam passando, cada vez mais confundiam com uma simples birra de criança mimada.

Certo dia a minha mãe resolveu perguntar-me por que razão eu não conseguia abraçar ninguém e eu confidenciei-lhe que tinha um medo do caraças de ficar colada à pessoa que me abraçava. 

Eu fui abraçada pelo meu pai poucas horas antes de ele me abandonar. Na verdade, foi o meu primeiro abraço de sempre; ele disse: “vou comprar tabaco”, abraçou-me e saiu. Só isto. Depois disso nunca mais voltou, e eu soube que o meu medo não era infundado porque quando me deixei colar naquele abraço mal poderia imaginar que quando descolasse, nunca mais voltaria a recuperar o pedaço de mim que ele levou agarrado.

Agora, alguns anos mais tarde, eu sinto-me a mesma miudinha assustada a quem roubaram uma metade durante um abraço, e eu não sei como recuperá-la.

- Diz-me o que eu preciso de ouvir.

 - Rose, eu... não posso.

Sinto os braços da Tris ao meu redor e só aí me apercebo do quão perto eu estive de me deixar cair ao chão, sem força para controlar o meu próprio equilíbrio.

- Vamos embora, amanhã vocês falam sobre isso. - Disse ela num sussurro, segurando-me firmemente. Um olhar rápido na sua direção foi o suficiente para me aperceber de algo que eu nunca vira expressado nela: medo. A Tris tem medo do Zayn, ou de quem quer que seja esta pessoa à minha frente que definitivamente não pode ser a mesma que eu conheci e por quem me apaixonei.

Abraçar é horrível. Abraçar é entrar pelo próprio pé numa gaiola… Abraçar é construir uma ponte e se há coisa que aprendi com o Zayn é que as pontes caem. Só não pensei que fizessem tantos estragos nas margens. 

- Rose por favor, ouve-me. – Implorou, levantando-se e aproximando-se de mim. Instintivamente recuei e uma expressão de choque atravessou o rosto dele. – Não. Oh meu deus, não, Rose, não tenhas medo de mim.

- Mentiste-me. - A minha voz saiu entrecortada e apercebi-me que as lágrimas escorriam livremente pelo meu rosto; uma raiva incontrolável percorreu o meu corpo e soltei-me violentamente dos braços da Tris, elevando a voz a níveis que eu nunca imaginaria ser capaz em público. - Fizeste-me acreditar na porra das pontes e dos fios, vieste com essas ideias parvas de que o amor é como nos livros, fizeste-me pensar que estava a conhecer-te por inteiro, quando te faltou referir um pequenino pormenor: tu és um assassino!

Ele matou alguém. Ele matou alguém. Ele matou alguém. Tenho de repetir esta frase uma e outra vez para tentar interiorizá-la bem no fundo do meu coração teimoso que se recusa a encarar as evidências.

Ele encolheu-se perante as minhas palavras e eu lutei contra a vontade de me desculpar. Nunca acreditei que alguém fosse capaz de desbravar o meu egoísmo a ponto de me fazer importar e agora aqui estou eu, a morder os lábios para me impedir de me desculpar por dizer verdades dolorosas em voz alta.

 - Por que razão não o entregaste? – Perguntei à Tinna, sem olhar na sua direção.

- Queria vingança. – Respondeu com sinceridade.

Não sou capaz de a julgar, às vezes o amor tapa os olhos à razão e as pessoas fazem coisas erradas pelos motivos certos. 

- Percebo.

Love WingsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora