Os Sexos

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       Ele-ela não sabia se era homem ou mulher. Porém, ao chegar aos trinta e poucos anos --- a idade da razão --- sentia a falta de um toque masculino, de um afago. Pois não havia dúvida de que era um homem.

       Ou poderia ser mulher, os dois sexos nele-nela se confundindo tanto que jamais saberia dizer onde começava um e terminava outro. Alguns gestos diretos, resolutos, eram os de um homem maduro. Outras vaguezas, escorreitas dúvidas, passividades, delicadezas, de uma mulher.

       Mas não se lamentava, ou, antes, não agredia. Não se revoltava, não temia. Aos trinta e poucos --- pois o tempo como um relógio enorme de repente batia sobre sua cabeça sobressaltando-o, pondo-lhe os nervos numa prostração, como um pássaro a quem tivessem colado as asas --- não saberia jamais apontar as alternadas fases, diante de quem estivesse, ora ativo, ora de sinuosos gestos.

       De modo que para seus dois sexos, ele-ela não teria a certeza de qual dos dois seria desperto, tirado da caixa de seus pertences, por coisa externa que a ela-ele excitasse, ele-ela dependendo sempre dos acontecimentos de fora para ser uma das marionetes que quisesse comandar.

       Por mais entre um e outro títere manejado houvesse tantas gradações de cores, de Gênero... Mas isto seria matéria para uma outra história.

Entre Sombras e FrutosWhere stories live. Discover now