O Limite

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       Depois de andar pelo trajeto à meia-luz de um poente de mel Vert chegou ao muro. Era o Muro Alto e se estendia léguas para ambos os lados. Ele estava cansado demais para percorrer as léguas e ver onde o muro acabava. Tingindo-se de musgos e laranja-violeta do sol cada vez mais declinante, ele olhava, próximo, rente, o muro. Pela longa caminhada seu tornozelo e seus artelhos doíam no sapato gasto, rasgado pelos lados, de sola quase a esgarçar-se e desnudar-lhe as plantas dos pés calosos, acostumados à quentura do deserto por onde vinha há tantos dias caminhando. Estava com muita sede; seu único abastecimento fora o de um pequeno açude que encontrara por sorte no caminho, cercado por uma vegetação agreste em meio a um relevo mais baixo, porém longe dali.

       Seus pés sangravam e magoavam e ele mirava, olhando para o alto, o imenso muro negro onde se podiam ver, pelo sol a pino, tingindo-o de alto a baixo, o roxo dos musgos e os riscos, as reentrâncias nas pedras onde não havia uma única larva ou aranha, e o qual, tantos caminhantes como ele, já haviam tocado com as mãos grossas, secas e gretadas de andarem com cajados toscos.

       Então ele olhou para o alto e não via de forma alguma onde o muro iria acabar... vertigem no sol, ele ainda mirou com o nariz quase colado, o muro, pela última vez, antes que quedasse desmaiado pela insolação, quedasse vencedor ao que se propusera.

       Mas não morrera. Exausto, ofegante, ensopado de suor e areia, apoiou-se uma vez mais nos braços e se recostou na muralha. Dali a pouco o sol faria alguma sombra sobre ele. Aquele era ainda o muro do fim dos seus dias, de sua jornada. Aquele havia sido o seu limite. Depois, retornar o mais pausado possível para não gastar energia, para o açude da sorte, a fim de comer uns capins espinhosos e juncos duros antes de regressar à cidade. Tinha fé de que iria viver, iria vencer o seu fim.

Entre Sombras e FrutosWhere stories live. Discover now