Um guarda costas

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Dirijo até o restaurante japonês no centro da cidade. Estou alguns minutos atrasada para o almoço com Simon e Yonta. A acessora havia ligado mais cedo, apontando a necessidade de uma conversa sobre as medidas que seriam tomadas devido ao ataque sofrido por mim no dia anterior. Estaciono o carro e entro no estabelecimento pouquíssimo tempo depois. Cumprimento alguns funcionários da casa, que já conheço por vir com certa frequência ao lugar, e sigo para a mesa onde estão meu empresário e minha acessora.

- Olá! Tudo bem? - cumprimento os mesmos com um rápido abraço.

- Na medida do possível, querida. - Simon me olha aparentemente preocupado. - Como você está?

- Acho que bem. - me sento na cadeira. - Mas não dormi direito na noite passada, então estou com um pouco de dor de cabeça. - ajeito os óculos escuros que estou usando para esconder as olheiras e amenizar os efeitos da minha ressaca.

- Se está indisposta, por que não nos avisou? Podemos remarcar esse almoço sem nenhum problema. O seu bem estar é essencial, Any!

- Não se preocupe comigo, Yonta. É apenas uma dorzinha boba. Daqui a pouco passa. - digo tentando ser o mais sincera possível. - Podemos fazer nossos pedidos?

Os dois concordam e Simon faz um sinal para que o garçom venha até nossa mesa. O rapaz anota nossos pratos, deixando-nos a sós em seguida. Yonta me atualiza sobre o caso do tarado, que acabou sendo liberado da delegacia por ter sido diagnosticado com problemas mentais. O medo volta a me atingir, mas sou tranquilizada quando Simon afirma que está tomando as devidas providências para que o homem seja enviado a uma clínica, onde receberá o tratamento adequado. A acessora também me informa a respeito da repercussão que o ataque teve na mídia. O caso estava estampado em todas os jornais, revistas de fofoca e páginas da internet.

- Ellen entrou em contato comigo para que você vá ao programa dela falar sobre o assunto. - a mulher comenta enquanto come. - Fui contatada até por programas da TV brasileira, acredita? Todos querem saber como você está, como se sente. Os fãs também estão malucos por notícias. Pensei em publicar uma nota de esclarecimento, mas acho que seria mais adequado se você o fizesse.

- Ontem nós anunciamos o que provavelmente será o melhor álbum da minha carreira. Anunciamos três feat's incríveis! Por que ninguém está falando sobre isso? Por que essa história nojenta é mais importante? - digo irritada.

- As pessoas se preocupam com você, meu bem. - Simon me olha. - Querem saber como você está.

- Como se isso fosse mudar algo na vida de alguém! - reviro os meus olhos.

De repente, era como se minha vida pessoal fosse mais importante para o público do que minha música. Deus, por que as pessoas são tão fofoqueiras? É obvio que só estão interessadas em dar a notícia com detalhes antes dos outros, que estão loucas para me ver a beira de um surto apenas para sentirem o gostinho e comentarem a respeito sem a menor consideração pelos meus sentimentos. A verdade é que os únicos que realmente se importam se estou bem ou não são minha família, meus amigos e meus fãs. O restante não passa de um bando de abutres sedentos pela desgraça alheia.

- Sua mãe também ligou, Any. - Yonta volta a falar. - Eu disse que estava tudo sob controle, mas não foi suficiente. Ela quer que você ligue de volta mais tarde para conversarem sobre o ocorrido.

- Essa história chegou no hospital onde ela está internada?

- Bom, parece que sim. Alguns enfermeiros acabaram comentando as notícias perto dela e agora a Priscila está uma pilha de nervos.

- Eu vou processar esses irresponsáveis! Quem eles pensam que são? - aumento um pouco o tom de voz. - Estão se esquecendo que são pagos para evitar que minha mãe se estresse e tenha outro ataque do coração? Se acontecer alguma coisa com ela, Yonta, eu juro que vou fechar aquela joça!

- Any, se acalme, por favor. Sua mãe está bem. Ela só gostaria de falar diretamente com você. - Simon acaricia minhas costas. Isso sempre me relaxa e me leva a respirar fundo. Todos a minha volta sabem disso e usam a técnica quando estou a beira de um ataque de nervos.

- E por que ela não ligou para o meu celular?

- Ela não tem o seu numero. - Yonta fala baixo, quase como se estivesse com medo da minha reação.

-  Como não?

- Nos últimos seis meses seu numero pessoal vazou na internet quatro vezes, sendo a última há duas semanas, então achei melhor passar o novo contato apenas para as pessoas que trabalham conosco. Qualquer outra pessoa ligada a você de alguma forma tem o meu numero e entra em contato comigo para chegar a você. Foi apenas uma medida de segurança.

Respiro fundo outra vez. Preciso me controlar para não colocar Yonta no olho da rua. Como ela ousa tomar uma decisão desse tipo sem o meu consentimento? Sei que se começar a gritar feito louca dentro do restaurante serei notícia nos programas de fofoca outra vez. A fama é ótima, mas tem seu preço. Sempre que vou a algum lugar, inúmeras câmeras são apontadas a espera de que eu cometa o menor deslize.

- Minha mãe e minha irmã não são qualquer outra pessoa, Yonta. Você sabe muito bem disso. Não me importo em trocar o numero de telefone dez, vinte, trinta vezes... Minha família é muito mais importante. - digo entre os dentes, encarando a mulher ao meu lado. Ela se encolhe na cadeira. - Envie meu contato às duas agora mesmo ou pode começar a procurar outro emprego.

- Certo, eu farei isso. - ela diz, já com o celular em mãos. Yonta digita algumas coisas e em seguida, guarda o aparelho. - Pronto. Me desculpe por isso. Não voltará a se repetir.

- Ótimo. - afirmo sentindo-me um pouco mais calma. - Aproveite para enviar uma nota a imprensa. Diga que estou bem, que foi apenas um susto e que o assunto está encerrado. Só irei a programas ou darei entrevistas para falar a respeito de "Suffocation". - me viro para Simon em seguida. - Mais alguma coisa para conversarmos ou já posso ir embora?

- Falta uma coisa. - ele se inclina sobre a mesa, encara Yonta e depois a mim. - Tomei a decisão de reforçar a sua segurança. Você vive por aí sozinha, vulnerável. Você não é mais uma famosa qualquer, Any. Soubemos que deixou essa categoria a partir do momento em que passou semanas entre os 50 artistas mais ouvidos pelo mundo segundo o Spotify. Agora você é uma super estrela. Todos querem chegar perto, tirar uma foto, ganhar um autógrafo ou um like nas redes sociais.

- A situação é maravilhosa, mas também perigosa. Como Simon disse, você vive por aí dirigindo sozinha, entre outras coisas. Parece um prato cheio para outros malucos como aquele ou até mesmo sequestradores.

- Tudo bem, eu entendi. Vocês têm razão. Preciso me cuidar mais. - os encaro. - Então o que vamos fazer? Contratar uma pessoa para ficar de olho no meu apartamento ou algo assim?

- Não só no apartamento. Em você! - Simon sorri. - Tomei a liberdade de contratar um guarda costas.

Your Love Saved Me • BeauanyWhere stories live. Discover now