Culpa

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Josh

Vejo Any deitada em meu peito ao acordar. Tento me ajeitar no colchão sem movimentos bruscos para não incomodá-la, mas é em vão. Ela desperta antes que eu consiga me sentar.

- Graças a Deus você acordou! - ela diz, com a voz levemente rouca e me abraça apertado. Sinto uma dor na costela, consequência da surra que levei, e acabo soltando um leve gemido. - Me desculpa... - ela se afasta um pouco, tocando meu rosto com delicadeza.

- Está tudo bem, não se preocupe. - seguro sua mão. - Dói um pouco, mas nada que eu não possa suportar. - ela assente e respira aliviada antes de encostar sua testa na minha.

- Tive medo que tivessem te machucado de verdade.

- Eles precisariam de bem mais que alguns socos. - sorrio de lado. Ela revira os olhos, rindo um pouco, mas deixa escapar uma lágrima.

- Não brinque com coisa séria, Josh. - diz. Passo a mão pelo seu rosto, secando o rastro de umidade. - Por que fizeram isso com você?

- Consegui me soltar das algemas. Eles só me tiraram o celular. Não perceberam que eu tinha um canivete suíço no bolso. Foi o que usei pra abrir a fechadura. O problema é que, acabei derrubando alguma coisa. Não sei o que era, mas fez barulho suficiente para que eles parassem o carro no meio da estrada. Quando um deles abriu a porta e viu que eu estava livre, veio com tudo pra me prender outra vez. Foi aí que saímos no soco. Acho que você ficaria orgulhosa de mim... se o outro cara não tivesse me apagado logo em seguida, claro. - dou de ombros.

- Está brincando comigo, né?

- Não, estou falando sério.

- Você saiu na briga com dois caras armados? - Any me olha incrédula. - Você tem merda na cabeça, Josh?

- Eu consegui desarmar o primeiro, relaxa. Não teria feito nada se não soubesse que conseguiria. Fui treinado pra situações como essa, esqueceu? - digo. Sua expressão se suaviza um pouco. - Só não pude fazer nada quando nos separaram antes por não ter a garantia de que você estaria livre de riscos. Me desculpe por isso, inclusive.

- Você não tem que se desculpar.

- É claro que eu tenho. Meu único dever era te proteger, Any! - encaro minhas próprias mãos. - E eu falhei.

Engulo em seco. É difícil lutar contra o peso da culpa e o nó que se forma em minha garganta. A mulher que eu amo está em perigo, tudo porque não fui capaz de cumprir corretamente com a minha única obrigação: mantê-la segura.

- Não diga isso. Não é verdade. - ela segura meu rosto, obrigando-me a encarar seus olhos castanhos. - Você não tinha como fazer nada. Eram três contra um.

- Não importa. Eu devia ter te protegido mesmo assim... - solto um suspiro. Em seguida, levo uma de suas mãos até minha boca e deposito um beijo. - Meu amor, eu sei que errei com você e peço que me perdoe.

- Não tenho nada que perdoar, Joshua, por favor...

Seus olhos voltam a ficar marejados. Tomado ainda mais pela culpa, puxo a morena para um abraço, a fim de confortá-la e começo a afagar seus cabelos enquanto ela se permite chorar.

Meu coração se aperta no peito e juro a mim mesmo que vou fazer os responsáveis por toda essa merda pagarem por cada lágrima que a Any derramar. Sim, eles vão pagar, nem que seja com as próprias vidas.

- Prometo que vamos sair daqui sãos e salvos, está bem? Eu te dou minha palavra. - digo quando ela volta a se afastar, secando o rosto. - Não vou deixar que nenhum desses caras encoste um dedo em você. Confia em mim?

- Confio. - ela me dá um sorriso triste.

- Ótimo. - faço o mesmo. - Agora me diga, você está bem? Eles te fizeram algo? Por quê se algum daqueles desgraçados ousou tocar em você, Any...

- Não se preocupe. Ninguém me fez nada. Muito pelo contrário! O cara que me trouxe foi até gentil. Disse que enquanto nos comportarmos, ficaremos bem.

- Ele foi gentil? - a encaro com o cenho franzido. Sinto que tem algo errado nessa história. Sequestradores não são assim. Eles buscam aterrorizar suas vítimas para que se sintam impotentes e coagidas a obedecer qualquer ordem.

- Bastante. Ele até disse que eu só preciso bater na porta quando quiser comer.

- E você acreditou na bondade dele, presumo.

- Bem, apesar de achar estranho, sim, acreditei. Ele me pareceu muito sincero. - ela dá de ombros. - Quem quer que esteja por trás desse sequestro parece não querer que eu me machuque, em circunstância alguma.

- O cara que te trouxe disse isso?

- Ele não, na verdade foi um dos caras que te trouxeram depois. Acertei uma joelhada nele, que ficou puto da vida, mas não fez nada. Disse que eu tinha sorte por eles não terem permissão pra tocar em mim.

- Interessante. Isso significa que, pelo menos até a segunda ordem, você está segura. Isso é bom. Fico mais tranquilo assim. Quer dizer que posso correr alguns riscos.

- Nem pense nisso. - Any me repreende. - Vamos fazer exatamente o que devemos. Ficar quietos e aguardar até sermos libertados. Tudo indica que apenas eu estou imune aqui. Eles não pensaram duas vezes antes de te darem uma surra, Josh. Não quero que voltem a te machucar.

- Ninguém vai me machucar, fique tranquila. Só preciso bolar um bom plano de fuga. Não podemos ficar aqui aguardando pacientemente até que nos deixem sair. Isso pode levar dias, semanas, meses.

- E se der tudo errado?

- Não vai. Eles não são tão espertos quanto aparentam. Vão vacilar a qualquer hora, Any. É quando vamos dar o fora daqui.

***

Olááá!!! Mais tarde eu volto... 😘

Your Love Saved Me • BeauanyWhere stories live. Discover now