Colo

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O chuveiro é sempre um bom lugar para refletir sobre a vida e organizar os pensamentos. Por esse motivo sigo até ele assim que boto meus pés em casa. Antes disso, Josh pede que eu não me preocupe e que o deixe responsável pelo nosso almoço, sendo um fofo como sempre. Isso me faz considerar a possibilidade de lhe dar um aumento salárial. Ele havia deixado de ser um simples guarda costas há muito tempo, atuando agora praticamente como um faz tudo.

- Que cheiro bom! - comento ao entrar na cozinha. Paro ao lado do loiro, no fogão. - O que está cozinhando?

- Estou fritando os bifes e as batatas que encontrei na geladeira. Acabei de preparar uma salada e separar alguns pães que sobraram do café da manhã. Pensei em fazer sanduíches para nós.

- Gosto da ideia. Vou fazer um suco enquanto você termina. - me afasto, indo até a fruteira que fica em cima da mesa.

Separo algumas laranjas, o açúcar, uma garrafa d'água gelada e depois os utensílios necessários para preparar a bebida. Estou concentrada em minha função quando Josh, após desligar o fogo, começa a montar nossos sanduíches em pratos. Quando termina, coloca as batatas ao lado para acompanhar. Sirvo o suco para nós antes de puxar uma cadeira para me sentar perto dele.

- Obrigada por cozinhar. No estado em que estou, eu provavelmente me trancaria no quarto sem comer nada. - digo após experimentar o sanduíche.

- Não foi nada. - ele sorri de lado. - Quer falar sobre o que houve no carro agora há pouco?

- Não, eu não quero. - suspiro. - Mas acho que preciso, pra não surtar depois sozinha, sabe?

- Sei. Normalmente esse é o melhor caminho. Quando não externalizamos o que nos aflige, permitimos que isso nos sufoque. - me olha. - Então sinta-se a vontade para falar sobre o que quiser.

- Certo. - respiro fundo, criando coragem para lhe contar o que a Dra Fernanda me disse mais cedo. - Hoje a médica da minha mãe me disse que caso ela não consiga um coração novo, não viverá mais que quatro meses. - apoio a cabeça em meu braço, escorado na mesa, e encaro o loiro. - Quando ouvi aquilo, Josh, juro que senti algo se quebrar dentro de mim. Não posso acreditar que vou perdê-la em tão pouco tempo.

Josh não sabe o que dizer. Posso ver isso em seu olhar. Diante da incerteza, ele apenas deixa sua comida de lado e se inclina, me abraçando. O calor do seu corpo contra o meu transmite conforto, segurança. É como se eu estivesse sozinha, no meu quarto e finalmente pudesse colocar pra fora tudo o que sinto. Então deixo que o choro, até então entalado em minha garganta, se liberte.

Em meio aos meus soluços, Josh me puxa para o seu colo, onde me acomodo como se ainda fosse uma garotinha assustada. Uma de suas mãos afaga meus cabelos ao mesmo tempo em que a outra desliza preguiçosamente pelas minhas costas, provavelmente na tentativa de me acalmar. Depois de algum tempo, aos poucos, meu choro vai diminuindo. O loiro acomoda meu rosto em suas mãos, de forma gentil, e seca minhas lágrimas com os polegares.

- Eu sei que é difícil, Any, mas não fique assim. Ao invés de se lamentar, porque a Priscila só tem mais quatro meses, por que não ficar feliz por ter a chance de passar o tempo que ainda resta ao seu lado?

- Não vejo como posso ficar feliz com isso.

- É simples. Todos os dias, milhares de pessoas deixam suas famílias sem aviso prévio. - as esferas azuis me encaram. - Pense em como essas pessoas não ficariam gratas se pudessem passar mais quatro meses ao lado de quem amam.

Suas palavras me fazem refletir e fico impressionada com o tamanho da lição que acabo de receber. Josh tem razão. Pessoas se vão o tempo todo pelos mais diversos motivos. Perder minha mãe, com certeza será o maior sofrimento pelo qual passarei na vida, mas seria ainda pior se ela partisse de repente, sem que eu pudesse me despedir como deveria.

- Se sente melhor? - ele pergunta, diante do meu silêncio.

- Minha dor de cabeça aumentou, meus olhos devem estar super inchados e eu acabei de me abrir da forma mais íntima possível para você. - fungo, secando o nariz. - Apesar de tudo isso, a tensão que estava apertando o meu peito diminuiu, então sim, acho que eu me sinto melhor.

- Ótimo! - as mãos deslizam pelas minhas bochechas. - Viu? Desabafar é sempre uma boa saída, mesmo que não resolva de fato o problema.

- Tem razão. - o olho com dificuldade. Meus olhos pesam devido ao choro recente. - Obrigada, Josh. Você tem sido uma pessoa incrível pra mim.

- Você merece o meu melhor. - ao inclinar o pescoço, o loiro me surpreende com um selinho. - Que tal dormir um pouco? Precisamos descansar se vamos passar o dia todo amanhã ao lado da minha sogrinha, não acha?

- Sogrinha, é? - rio um pouco. Ele assente, mas não me iludo com suas palavras. Sei que Josh só está brincando na tentativa de me fazer sorrir. - Sim, tem razão. - saio do seu colo e fico de pé. - Vou me deitar.

- Se importa se eu for com você? - ele também fica de pé.

- Josh, a Belinha e a tia Laura...

- Prometo que não vou dormir. Pensei em te fazer companhia até que pegue no sono. Não quero te deixar sozinha nesse estado.

- Entendi. - digo, mesmo não sendo o que eu realmente gostaria de falar diante de uma atitude tão fofa. Abraço meu próprio corpo, enquanto o observo. - Tudo bem então. Você pode se deitar comigo.

Your Love Saved Me • BeauanyWhere stories live. Discover now