Prepare o passaporte

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Mesmo morrendo de sono, acordo cedo no dia posterior ao da festa. Eu havia marcado uma reunião com o Simon para lhe comunicar que iria voltar ao Brasil em uma semana e não podia me atrasar. Durante o percurso até a XIX, enquanto Josh dirige de forma tranquila, repasso mentalmente o que vou dizer e torço para que meu empresário não tenha um ataque. Quando entramos na sala de reuniões, me coloco de frente para o Simon. Josh se senta em uma poltrona, perto da porta.

- Gostaria de um café antes de iniciarmos nossa conversa, querida?

- Não, obrigada. Estou bem assim.

- Tudo bem. - ele entrelaça os próprios dedos. - Então vamos lá, me conte o motivo de ter solicitado uma reunião tão cedo.

- Certo. Serei breve. - me ajeito na cadeira. - Minha mãe está muito doente, Simon. Ela tem um problema grave no coração e parece que nos últimos dias, seu quadro tem piorado bastante. Não posso sair em turnê com ela nesse estado. Eu nunca me perdoaria se a perdesse enquanto me dedico exclusivamente ao trabalho. Solicitei essa reunião apenas para lhe comunicar que eu vou voltar ao Brasil para ficar com a minha família.

- Uau! Any Gabrielly, você me pegou de surpresa. - Simon me encara, visivelmente abalado. - Então você pretende simplesmente cancelar a turnê? Mesmo depois de tanta divulgação e trabalho duro?

Ele tenta manter a calma, mas seu tom de voz demonstra justamente o contrário, o que me faz temer que ele esteja a beira de um ataque de nervos. No mesmo instante me arrependo da brilhante ideia de comunicar minha decisão pessoalmente. Teria sido muito mais simples enviar um e-mail.

- Cancelar é uma palavra muito forte. Eu só quero adiar por tempo indeterminado. - me inclino sobre a mesa, o encarando de volta.

- Desculpe, mas nós não podemos fazer isso. Os shows estão marcados há meses, os ingressos dos 15 primeiros estão esgotados.

- A solução desse problema é bem simples. Basta devolver o dinheiro das pessoas. Caso não aceitem, podemos enviar... Sei lá, fotos autografadas por mim com um pedido de desculpas. Qualquer coisa! - solto um suspiro. - Eu não tenho condições psicológicas para iniciar uma turnê agora, Simon! Minha família precisa de mim. Não vou conseguir me dedicar de corpo e alma aos palcos enquanto minha mãe está presa numa cama, podendo morrer a qualquer momento. - respiro fundo na tentativa de manter a calma.

- Querida, eu entendo a sua situação. Você está passando por um momento difícil. O problema é que o adiamento dessa tour vai nos causar um prejuízo enorme! Não estamos falando de milhares de dólares. Estamos falando de milhões!

- De quanto, exatamente? - pergunto apenas por curiosidade. Ele não me diz em palavras. Ao invés disso, escreve o valor num pedaço de papel e me entrega. - Puta merda! 45 milhões? - meus olhos se arregalam em espanto e ouço Josh se engasgar no fundo da sala.

- Isso só nos 6 primeiros meses. Entende agora porque um adiamento seria loucura? Ao final de um ano você estaria entre as cantoras mais bem pagas do mundo.

As palavras de Simon seriam tentadoras aos ouvidos de qualquer pessoa, mas não aos meus. Nenhum dinheiro no mundo faria com que eu mudasse minha decisão. Minha mãe sempre seria muito mais importante.

- Mesmo assim irei manter minha decisão. A turnê será adiada.

- Mas Any...

- Eu não estou pedindo permissão, Simon. - pego minha bolsa e me coloco de pé. - Conversaremos sobre as novas datas quando eu estiver de volta, sim? Até mais! - caminho até a porta da sala de reuniões e depois lhe mando um beijo sobre os ombros.

Cruzo a porta no minuto seguinte, com Josh ao meu lado. Caminho a passos rápidos, pois meu desejo é sair da XIX o mais rápido possível. Quando chegamos ao estacionamento, me sento no banco do passageiro, sentindo que finalmente posso respirar aliviada. Estou prestes a ir para casa... para a minha verdadeira casa.

- Eu não sabia sobre a sua mãe. Sinto muito. - Josh diz ao se sentar ao meu lado no banco do motorista.

- Você não tinha como saber. Costumo guardar meus problemas pessoais apenas para mim, então... - dou de ombros. - Mas obrigada pela consideração. Significa muito.

- Está feliz? Agora você finalmente vai poder vê-la.

- Muito! Não vejo a hora de encontrar não só minha mãe, mas também minha irmã, minha tia. Estou cheia de saudade!

- Há quanto tempo vocês não se encontram?

- Cerca de 8 meses. Me mudei pra cá bem no início do ano, para começar a trabalhar no último álbum, e desde então não voltei ao meu país.

- Isso explica o tamanho da falta que você sente. - ele diz antes de dar a partida. - Quanto tempo pretende ficar com a sua família?

- O tempo que precisarem de mim. Pode ser que leve semanas ou meses... - dou de ombros. - Quem sabe?!

- Vou sentir sua falta. - Josh solta de repente, como se estivesse dizendo "Bom dia!" e sinto meu coração disparar. É a primeira vez que ouço algo assim sair de sua boca.

- Também vou sentir falta da sua rabugisse, Beauchamp. - digo com um sorriso sincero. Logo tenho uma excelente ideia. - A menos que você concorde em vir comigo!

- Ir com você? Para o Brasil? - ele me olha como se eu tivesse acabado de dizer um grande absurdo.

- É... Vou precisar de um guarda costas por lá, então por que não levar o meu? Se você quiser, é claro. Sei que também precisa cuidar da sua vida pessoal e vou entender se você preferir ficar. Não vou te pressionar, nem ameaçar te demitir, ou qualquer coisa do tipo.

- Tudo bem. Eu vou.

- Que pena! Você iria adorar. - solto um suspiro. - Meu país é tão lindo!

- Eu sei, por isso acabei de dizer que vou com você. - Josh me olhou rapidamente antes de voltar sua atenção à estrada.

- Espera, você disse que vai? Simples assim? Você apenas vai?

- É, eu acho que sim. - ele sorri abertamente.

- Ah, eu não acredito! - bato palmas, animada. Se eu não estivesse presa pelo cinto de segurança, provavelmente teria pulado do banco e o abraçado, ignorando todas as regras convencionais. - Então prepare o seu passaporte, Josh. Partiremos em uma semana!

Your Love Saved Me • BeauanyHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin