Capítulo 10

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Mas aquela troca de olhares foi o suficiente para nós dois nos entendermos. Tanto eu quanto ela sabíamos que jamais falaríamos sobre o que havia acabado de acontecer.
Jamais. Afinal, tem merda que deve ser esquecida. E às vezes, é para o seu próprio bem.
Como castigo por não termos defendido com sucesso as bandeiras, nós tivemos que fazer uma caminhada de quatro horas em um lamaçal. Na verdade, era uma espécie de lago raso, mas com lama... muita lama.
A Perroni tinha colocado um relógio dependurado em uma árvore para sabermos quanto tempo faltava. O que era uma tortura, porque toda hora eu olhava para a droga do relógio e o tempo parecia não passar.
O cheiro do lamaçal era insuportável, tanto que chegava a embrulhar o estômago. A lama atrapalhava a nossa caminhada, praticamente prendendo nossos pés ao chão. Nós tínhamos que fazer o dobro de força para caminhar.
E para piorar a situação, no meio do lamaçal, tinham raízes de árvores que formavam obstáculos, o que apenas dificultavam ainda mais a caminhada.
Mas essa não era a pior parte. O pior era ter que cantar a maldita música durante todo o percurso: "Eu sou incompetente.
Eu sou um idiota.
Perdi pr'um 'boina verde'
E agora eu sou chacota".
Enquanto caminhávamos no lamaçal, a General Perroni ficava nos vigiando da margem. Ela estava parada, com a coluna reta. Os braços cruzados sobre o peito. Seu olhar era predatório e analisava tudo e a todos. Ela não permitia que ninguém parasse de cantar ou sequer diminuísse a velocidade da caminhada.
Enquanto caminhávamos, o sol se pôs e o campo todo escureceu. As luzes do campo acenderam e o Coronel Sanchez e a Major Contreras ligaram uma lanterna enorme para iluminar melhor o lamaçal.
Uma determinada hora, o Coronel Sanchez falou alguma coisa ao ouvido da General Perroni e ela assentiu. Logo depois, a Perroni saiu com ele e deixou a Major Contreras no comando.

A Major Contreras então ordenou que nós aumentássemos o ritmo da nossa caminhada, porque segundo ela estávamos "lentos igual a uma tartaruga". Ela também decidiu mudar a merda da musiquinha que cantávamos. Agora, a música era assim:
"Eu sou um novato.
Um novato eu sou.
Se eu não desistir,
Pro inferno agora eu vou".
Depois de passada as malditas quatro horas, saímos do lamaçal. Mas antes que pudéssemos fazer qualquer coisa, a voz da Perroni invadiu o campo, como um trovão:
Em posição, novatos.
Nós entramos em posição devagar demais. Ela bufou, contrariada com nossa lentidão, mas qual é??? Estávamos todos cansados, com fome, com dor, suados e sujos de lama.
Ela se aproximou de nós. Então, eu percebi que a maldita estava de banho tomado. Do jeito que ela era, capaz de ter sido de propósito. O Coronel Sanchez também se aproximou e parecia que ele também havia tomado banho.
Descansar. – ela ordenou e nós a obedecemos.
A cada dia que passa, eu me pergunto o que os senhores acham que estão fazendo aqui? – ela perguntou – Por acaso, os senhores estão pensando que estão um acampamento de férias?
Ah! Fala sério! Nós não estávamos em um acampamento de férias. Claro que não, até porque eu podia garantir que estávamos era no inferno mesmo. E mais. Que o diabo era uma mulher baixinha de olhos e cabelos castanhos.
Não senhora. – nós respondemos.
Eu também respondi "não senhora", mas a minha vontade era mandá-la para a puta que lhe pariu. Isso sim.
Pois cada dia que passa, eu tenho cada vez mais certeza que os senhores são uns incompetentes. – ela falou.
Sim senhora. – nós respondemos.
Eles concordam com você, General. – o Coronel Sanchez falou com desdém – Eles mesmos sabem que são incompetentes.
A Major Contreras e a Major Savinon riram debochadas.
Tomem um banho rápido e depois, os senhores estão liberados para jantar. – ela falou e se virou, indo embora junto com os outros 'boinas verdes'.

Eu e os outros novatos fomos para as nossas cabanas. Eu fiquei um pouco para trás, porque não estava com saco para escutar a conversa deles. Ora, eu já tinha coisa demais na minha cabeça.
Eu estava andando distraído quando senti uma mão segurar o meu braço com força. Eu tomei um susto, porque realmente não esperava por isso. Eu parei de andar e olhei quem era.
Algum problema, Coronel? – eu perguntei ao Coronel Sanchez, que me encarava.
Não, novato. Nenhum problema. – ele me disse sério – Na verdade, só um aviso. Fique longe da General Perroni. Para o seu próprio bem.
Eu não sei do que o senhor está falando. – eu falei, me fazendo de desentendido.
O cara parecia ter alguma com a Perroni... desde Fort Hamilton, eu desconfiava disso. Eles viviam juntos e com conversinhas ao pé do ouvido. Por certo eram íntimos. E cada vez, eu tinha mais certeza. Então, eu nunca ia admitir nada sobre o que aconteceu com a Perroni, especialmente para ele.
Além do mais, o que eu podia falar? "Sabe Coronel... durante a briga, eu rocei na sua mulher e foi uma delícia?" Nunca! Eu era errado, não tinha moral ou caráter, mas não era idiota.
Eu não te conheço, novato, mas eu a conheço muito bem. Como a palma da minha mão. – ele disse – Então, siga meu conselho e fique longe dela. Vai ser melhor para você.
Ele se virou e saiu. Eu fiquei olhando ele se afastar e passei a mão nervosamente pelo meu cabelo. Merda! Se não bastasse o idiota do Arenas, agora eu estava na lista negra do Coronel Sanchez. Era só o que me faltava.
...
Eu e os outros novatos já tínhamos tomado banho e jantado, ou melhor, engolido a comida. E agora, nós estávamos na porta da nossa cabana, que era iluminada pela luz de um poste improvisado.
Enquanto eles estavam de pé em frente à cabana, falando de mulher, eu estava sentado no chão, encostado em uma árvore do lado da cabana, apenas fumando meu cigarro, quieto no meu canto

Military SeductionWhere stories live. Discover now