Capítulo 34

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Eu sentia todos os meus músculos tensionados embaixo do uniforme preto dos "Boinas Verdes". Minhas mãos estavam fechadas em punho e meu maxilar estava travado. Eu olhava fixamente para o nada.
O silêncio era mortal dentro do carro parado no acostamento da estrada. Só se ouvia os sons das respirações. Minha e de Maite.
As palavras da minha mãe não me saiam da cabeça. "Se cuide, meu filho e traga seu pai de volta para nossa família."
Eu havia prometido a ela. Eu havia prometido que traria meu pai de volta para ela. E eu traria...nem que fosse a última coisa que eu fizesse na vida.
Tudo bem? – Maite perguntou me tirando do meu devaneio.
Eu a olhei, sentada no banco do motorista, e fingi um sorriso.
Está tudo bem sim. – respondi e ela bufou sabendo que eu estava mentindo.
Vai dar tudo certo. – ela afirmou confiante.
Eu sei que vai. – eu falei mais para mim do que para ela.
Eu realmente precisava acreditar nisso.
Então tire essa cara de enterro. – ela mandou.
Eu respirei fundo tentando realmente me sentir melhor. Não era hora para ficar de veadagem.
O que foi? – Maite perguntou.
Eu só estou preocupado com meu pai. – confessei baixando a cabeça.
Eu odiava admitir fraqueza.
Nós vamos resgatá-lo William. Ele vai voltar para sua mãe e nós vamos cumprir sua promessa.
Eu sei. – respondi ainda incerto.
Você deveria ter ficado com sua mãe. – ela comentou ao perceber que suas palavras não estavam adiantando muito.
Não! – eu respondi um pouco ríspido e respirei fundo – Eu coloquei meus pais nessa situação e eu vou tirá-los. – continuei mais calmo.
Teimoso... – ela resmungou.
Eu a olhei atentamente. O uniforme das Forças Especiais só reforçava sua pose de "sou foda". Mas eu sabia que ela também estava tensa, apesar de tentar a todo custo disfarçar sua tensão.
Maite segurou a minha mão me encarando.
Vai dar tudo certo. – ela repetiu.
Eu estou com uma sensação estranha Maite... – eu confessei um tanto constrangido – Como se algo ruim estivesse prestes a acontecer.
Ela me encarou séria, mas logo deu um sorriso debochado.


Sensação, Levy? Está virando mulherzinha por acaso?
Eu a segurei pela nuca com força e a puxei para perto de mim.
Mulherzinha, é? – eu perguntei com os lábios quase nos dela.
Mulherzinha sim. – ela disse me provocando.
Quero ver se uma mulherzinha pode fazer isso. – eu retruquei.
Então eu a beijei e imediatamente as lembranças de tudo que aconteceu essa madrugada vieram à minha cabeça... Flashback On...
Depois que saí do quarto de Maite, deixando-a com Ivan, eu fui para o meu quarto, me joguei na minha cama e acabei dormindo.
Acordei com a porta sendo aberta. Vi Maite entrar no meu quarto. Eu me sentei e a fitei.
Podemos conversar? – ela perguntou.
Claro. – eu falei apertando o interruptor de luz que ficava perto da minha cama sem ter que me levantar.
Eu peguei minha camisa, que estava no chão ao lado da minha cama e a vesti, pois eu estava apenas de calça de moletom.
Com o quarto já claro, Maite entrou lentamente, como se ainda estivesse decidindo o que fazer.
Eu respirei fundo e a olhei. Eu sabia que tínhamos que conversar, mas eu tinha medo para onde esta conversa nos levaria.
Ela parou na minha frente e me fitou intensamente. Eu olhei seus olhos castanhos tentando decifrar o que ela estava sentindo... mas não consegui.
De repente, ela levou uma das mãos para as costas e tirou uma arma de lá. Eu a encarei surpreso e imediatamente parei de respirar.
Eu dizia que a amava e ela me dava um tiro... seria cômico se não fosse tão trágico.
Você esqueceu sua arma no porão. – ela disse me entregando a arma que ela mesma havia me dado anteriormente.
Eu realmente tinha esquecido a arma no porão quando eu e Maite discutimos por causa de Victoria. Eu peguei a arma e sorri um tanto aliviado por ela não querer me matar, devo admitir.
Obrigado. – agradeci sem saber o que mais dizer.
Ela assentiu e um silêncio se instaurou em meu quarto. Eu fiquei olhando para a arma por um tempo até que a coloquei em cima do criado mudo.
Eu passei a mão pelo meu cabelo e involuntariamente bocejei.


Eu sei que está tarde. Eu até pensei em conversar com você depois do resgate do seu pai, mas eu não consegui dormir pensando na gente – ela se justificou.
Você pensa na gente? – a pergunta saiu da minha boca antes que eu pudesse filtrá-la.
Você não? – ela devolveu a pergunta.
Eu dei um meio sorriso, mas não a respondi e nem precisava. Era claro que eu pensava em nós dois. Na verdade, ultimamente, eu não fazia outra coisa a não ser pensar em nós.
Nós ficamos em silêncio de novo. Um silêncio extremamente desconfortável. Maite estava visivelmente tensa na minha frente.
Eu me remexi algumas vezes na cama me sentindo completamente sem lugar.
Eu preferia a época em que o silêncio entre nós não me incomodava. – ela comentou se sentando ao meu lado na cama.
Eu também. – eu respondi me ajeitando para melhor olhar para ela.
Era tudo mais fácil. Mais simples. – ela disse divagando.
Eu assenti. E mais uma vez o silêncio desagradável tomou conta do ambiente. Ela olhava para suas mãos que estavam em seu colo e eu apenas a encarava sem saber o que dizer.
Bem que você disse. – ela falou perdida em pensamentos – Você me avisou para não confiar em você. O pior é que eu sempre soube que eu não devia confiar... que eu não devia me envolver com você. Mas eu não quis te escutar... Aliás, eu não escutei a mim mesma.
A culpa não é sua. – eu a interrompi colocando uma mão em seu ombro.
Não, não é. É sua. Você quem mentiu. Você quem enganou. – ela me acusou e eu imediatamente retirei minha mão do seu ombro.
Rapidamente o silêncio incômodo voltou. Ela respirou profundamente e afundou o rosto em suas mãos em uma tentativa de se controlar.
Nós temos muito para conversar, não é mesmo? – eu perguntei quebrando o silêncio. Ela assentiu ainda com a cabeça nas mãos, mas não disse nada.
Eu posso começar então? – perguntei.
Ela assentiu afirmativamente e me olhou, levantando a cabeça.
Quando você soube que eu era da Cosa Nostra? – eu indaguei.

Military SeductionWhere stories live. Discover now