Capítulo 19 - Coisas inevitáveis

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   —Acho que deveríamos falar com o meu pai. Falar pra ele sobre nós... e depois poderíamos noivar —Pietro sorria.

   Senti uma pontada no coração. Desviei o olhar no mesmo instante. Não consegui retribuir o sorriso. Estávamos em seu quarto, em mais um encontro matinal. Não consegui nem beijá-lo desde que pisei ali. Sentei ao seu lado.

   —Pietro... queria te falar uma coisa.

   —Você...

   —Por favor, me deixe falar —Pedi, sem conseguir manter o olhar sobre o dele.

   Sua expressão tornou-se séria e ele pôs a mão sobre a minha, como se me encorajasse. Respirei fundo e comecei:

   —Eu pensei que não sabia o que era amor mas, na verdade, você me ensinou isso há muito tempo, desde quando nos conhecemos.

   Ele sorriu e isso cortou meu coração já que eu sabia que ele não duraria muito.

   — A diferença é que... eu nunca parei para pensar no que sentia e muito menos falava sobre isso. E eu amo você. Muito. Sei que é recíproco.

   O sorriso dele aumentou e eu forcei um também. Doía saber que aquilo poderia machucá-lo.

   —Mas... eu percebi que todo esse amor que você sente por mim é... diferente do amor que eu sinto por você. Você quer que eu me case com você, seja sua rainha, viva uma vida maravilhosa com você e eu acho isso tudo lindo. Principalmente o fato de você querer que eu esteja ao seu lado. Mas eu não te amo assim.

   Pietro era ótimo em esconder emoções ruins mas vi a decepção começar a transparecer. Um nó se formou em minha garganta e senti minha voz falhar. Ele abriu a boca mas apertei sua mão, tentando sinalizar para ele esperar que eu terminasse.

   —Eu te quero ao meu lado mas não como meu marido. E isso me dói muito porque sinto que tomei todo o seu tempo para dar nisso: você quer se casar comigo e eu quero que você seja meu melhor amigo.

   Pude ver seus olhos se encherem de lágrimas. Ele ficou de pé e uma dor tomou meu peito de uma forma tão grande e repentina que lágrimas escorreram por meus olhos sem que eu percebesse. Foi como se, naquele momento, nossa conexão tão forte e construída aos poucos durante anos tivesse sido quebrada ou, com sorte, sido apenas rachada. E doeu. Muito.

   —Pietro? —Chamei.

   Mas ele não olhou para mim. Pela primeira vez em anos, vi sua bela postura se desfazer. Suas costas definidas não pareciam mais tão imponentes.

    —Eu sabia —Ele murmurou. —Eu sabia mas não quis admitir.

    Mais lágrimas começaram a escorrer por minha bochecha. Eu não queria o magoar. Eu não queria ver Pietro daquele jeito.

    —Desculpa —Pedi, com a voz trêmula. —Por favor, me desculpe.

   —Não é sua culpa não me amar.

   Sua voz estava baixa, melancólica e amargurada. Eu queria abraçá-lo, dizer que está tudo bem mas sabia que ele precisava de um espaço. Ele virou-se para mim e exibiu seu rosto molhado e os olhos já vermelhos.

   —Mas é estranho, sabe? Passei tantos anos tentando te fazer me amar...

   Eu tentei reprimir um soluço mas não consegui.

   —Pietro, por favor... —Fiquei de pé e me aproximei dele.

    —Só quero... ficar sozinho.

Os Dons de Lithia: Entre o Amor e a Guerra Onde histórias criam vida. Descubra agora