Capítulo 45 - Não era um sonho

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Não acredito, não é possível. Minha casa estava no chão. A casa na qual eu cresci, onde tinha lembranças com minha mãe e meu irmão, o único lugar que eu tinha para ficar. Enquanto ouvia os outros moradores reclamarem e protestarem com o soldado, como se adiantasse de algo, eu encarava os lençóis que estavam sob toda aquela poeira e aquelas pedras.

—Por que tudo está assim? Vocês nos disseram que tudo estava no lugar! —Uma mulher exclamava.

—O que aconteceu aqui?

—Onde vamos dormir?

—Por que nos tiraram de lá?

As perguntas surgiam, nenhuma resposta era dada e nada disso me ajudava a acalmar. Vi a mesa onde escrevi as cartas para minha mãe destruída. Vi o berço que me esforcei tanto para comprar para Dalila resumido a pedaços quebrados de madeira. Meu coração estava acelerado, dominado pela frustração e pela raiva. Aquilo estava muito errado. Eu lutei tanto por todos e recebia o que em troca? E por quê?

Senti tocarem minhas costas. Kaya pôs-se ao meu lado, também olhando para os escombros.

—Sinto muito —Falou em um tom tão baixo e com uma voz tão triste que só acreditei que era a sua porque vi seus lábios se mexerem.

Eu anuí e tentei impedir que ficasse triste, tentei falar: "Mas era só uma casa, vamos ficar bem. Vamos começar de novo". Mas não. Não consegui abrir a boca, minha voz simplesmente não saía.

O que iríamos fazer? Onde iríamos dormir? Dalila tinha apenas dois meses de vida, não poderíamos dormir na rua.

—Sua Alteza ofereceu tendas próximas ao rio para sua estadia enquanto reconstruem vossas casas. Ele oferece suas mais sinceras desculpas, pede vossa paciência. Tudo será resolvido —Ouvi o soldado explicar.

Tentei me distrair, tentar fazer a raiva sumir. Eu ia socar qualquer coisa, ia socar aquele soldado, ia no castelo esmurrar Pietro. O que aconteceu enquanto estávamos no acampamento?

Comecei a inspirar forte e fechei os olhos. Pude sentir o peso do olhar de Kaya sobre mim. Ela não me tocava mais. Meus punhos estavam cerrados, minhas unhas estavam enterradas em minha palma e a dor me fez acordar. Ok, podemos lidar com isso. Podemos fazer dar certo. Abri os olhos e vi que vários sincelos decoravam do chão à minha frente, afiados como espinhos. Olhei de lado e percebi que Kaya tinha saído de perto de mim. Será que eu a assustei?

Saí de perto dos escombros e voltei a ficar ao lado dela e de Rainara, que deixava as lágrimas escorrerem em silêncio.

—Quis te deixar um pouco sozinho —Justificou antes que eu perguntasse qualquer coisa.

Suspirei. Estendi os braços para acolher Rainara neles e ela afundou o rosto em meu peito. Todos sabíamos o quanto ela queria recomeçar. Todos os planos agora estavam destruídos, se tornaram escombros junto com as casas e lojas. A senhora doce e calma que nos ajudava sempre molhava minha camisa e soluçava baixinho. Kaya olhava para as casas triste, balançando Dalila. Tenho certeza que ela tentava mais acalmar a si mesma que à filha.

—Levarei todos até as tendas —O soldado continuou. —Nós montaremos guarda para garantia da segurança de todos vocês.

—O que pode nos ameaçar? —Kaya perguntou, com a voz firme.

O soldado pigarreou.

—É apenas... uma... ham... uma maneira de evitar a ação de saqueadores.

Os Dons de Lithia: Entre o Amor e a Guerra Onde histórias criam vida. Descubra agora