.•**•..•**•..•**•..•*ETHAN*•..•**•..•**•..•*
ALGUMAS HORAS ANTES
O segundo dia na cela começou e eu ainda sentia muita dor. Não sabia que horas eram quando acordei. Notei que um prato e um copo haviam sido deixados ali. Tinha um pouco de carne e arroz e água. Esforcei-me para ficar sentado, apesar das dores nas costas e nas costelas. Wendel já tinha comido.
—Quer ajuda? —Perguntou, sem olhar para mim, no entretanto.
—Eu me viro.
Encostei-me na parede, peguei o prato e comecei a colocar a comida na boca. Até mastigar doía. Engolir doía. Fechei os olhos e me concentrei no sabor péssimo daquela comida. Era melhor que sentir dor e fome.
Tentei, enquanto ainda mastigava, dar uma olhada nas outras celas, através das grades. Os outros prisioneiros estavam em situações semelhantes a minha e a de Wendel: ou estavam machucados, ou estavam totalmente acorrentados. Eles não emitiam som algum, o que era estranho. Os guardas circulavam preguiçosamente pelos corredores.
—E você? —Perguntei, chamando a atenção de Wendel. —Por que está aqui?
Ele passou um bom tempo em silêncio, provavelmente considerando se me contava ou não.
—Matei um guarda.
—Você é renithiano?
—Não —Respondeu, sem explicar mais nada.
Passei um bom tempo na mesma posição depois que terminei de comer. A dor tinha passado e eu não queria mover um músculo porque poderia perder todo o progresso feito. Minha bunda já estava dormente e eu precisava urinar, no entanto. Xinguei baixinho e me apoiei nas grades para ficar de pé. Minhas costas queimaram e senti uma pontada nas costelas.
—Cacete!
Assim que usei o balde, voltei a sentar e tentei encontrar uma posição confortável, tarefa extremamente difícil naquela cela. Era pequena demais, com duas malditas camas de cimento e buracos na parece; além de Wendel, claro. Foi um dia longo, assim como o anterior. Eu não tinha o que fazer e sentia dor o tempo inteiro, sem pausa. E preferia não pensar tanto, o que era praticamente impossível. Wendel dormia a maior parte do tempo e se recusava a falar sobre qualquer assunto, era direto em suas respostas.
Se eu pensasse em Kaya e em Dalila, a dor seria, com certeza, maior. Eu queria tanto ter notícias... sabia que ela provavelmente não poderia aparecer o tempo todo mas eu estava rezando para que ela aparecesse o mais rápido possível.
Ao invés disso, quem apareceu foi Pietro. Ótimo. Observei-o entrar e nos trancar ali dentro. Entregou a chave ao guarda que entrou com ele. Wendel acordou assustado. Outro guarda entrou para acorrentá-lo à parede.
—Aproveitando a estadia? —Pietro encostou-se na grade, me observando com o queixo erguido.
Não respondi, apenas fiquei encarando-o.
—Deve estar se perguntando se sua amada está bem —Começou a andar pela cela, de um lado para o outro. —Está melhor que nunca.
Me segurei para não revirar os olhos. Sorte dele que eu mal conseguia me mexer.
—Acha que estou mentindo? —Sorriu, sínico. —Ela encontrou o lugar dela me apoiando.
—Você nem sabe mentir, Pietro —Eu ri. Vi seu rosto escurecer. —Kaya nunca aceitaria ficar nos bastidores da vida de ninguém.
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Os Dons de Lithia: Entre o Amor e a Guerra
RomanceDe quantos recomeços é feita a vida? O que é mais difícil: a guerra do coração ou da nação? Kaya Dagenhart é uma soldada do Exército de Lithia, um reino rico e cheio de histórias envolvendo anjos e nefilins. Sempre teve certezas sobre tudo na vida...