.•**•..•**•..•**•..•*KAYA*•..•**•..•**•..•**•.
Ele voltou. Não sei quanto tempo se passou mas sei que não consegui dormir. Não tinha fome ou sede. Só existi. Sangue e hematomas me cobriam inteira. Eu estava cansada e tinha perdido muito sangue.
Dois guardas o acompanhavam. Eles se posicionaram ao lado da porta, em pose solene.
—Acho que agora você pronta para falar.
A raiva despontou em meu peito quando pus meus olhos nele. Eu queria rasgá-lo ao meio, fazê-lo sofrer, usar todas as técnicas que ele usou comigo e muito mais. Mas, por enquanto, eu não poderia fazer nada.
O comandante pegou a primeira faca - pequena mas parecia bem eficiente - e aproximou-se de mim.
—E então? Onde está o rei?
—Se acham tão fodas e ainda não encontraram o rei? —Falei, com a voz rouca, falhando.
—Mesmo depois desses últimos dias, você continua debochada —Ele cerrou os dentes.
Passei um tempo longo prometendo a mim mesma que ficaria forte, porque eu precisava sair dali. Eu teria que matar aquele homem a todo custo. Vamos guardar a raiva para este momento.
—Você não pode arrancar nada de mim —Eu disse, entredentes.
—É o que veremos.
Ele, sem nenhuma cerimônia, enterrou a faca em meu ombro. Reprimi um grito. Dor. Dor. Dor. Meus pensamentos eram só isso. Queimava, pinicava, me possuía, turvava minha visão.
—Onde está o rei?
Permaneci em silêncio, gemendo de dor enquanto via aquela coisa ser arrancada do meu ombro, fazendo-o sangrar. Em seguida, ele socou meu rosto duas vezes. O mundo girou e a dor aprofundou. A palavra "dor" é o que mais vou repetir. Até porque foi tudo o que eu senti enquanto estava presa.
"Porra, porra, porra", pensei. Eu tinha que me manter bem apesar de estar fraca e com fome. Não sabia bem como poderia ficar... bem.
—Coloque-a na cadeira —Falou para os guardas. —Vamos ver por quanto tempo você vai resistir.
Eles me desamarraram da cadeira na qual eu estava e me arrastaram para outra sala. Tentei resistir. Eu queria estar naqueles livros onde o personagem reúne forças inexplicáveis e foge do cativeiro. Mas não me colocaram em uma sala menor, onde havia uma cadeira sinistra. Havia um lugar para colocar meus braços e dedos ali além de uma espécie de coroa. Comecei a tentar afastar aqueles braços dos meus mas os homens mal se mexeram. Me colocaram na minha mais nova cadeira e tiraram as correntes de meus braços ao mesmo tempo que um deles agarrava meus pulsos para evitar qualquer movimento meu. Este forçou-me a colocar os dedos naquela coisa e os prendeu, de modo em que eu mal conseguisse me mover. Um deles prendeu meus dois braços à cadeira e o outro ajustou a coroa de espinhos de metal. Depois, colocaram uma espécie de grampo com corda em minhas unhas, que estava ligado a uma roldana.
—Vamos, Kaya. O que você recebe por apoiar esse rei? —O comandante perguntou.
—Dignidade. Já ouviu falar?
Ele deu um sorriso sinistro mais uma vez. Aquele homem era a pessoa mais indigna, nojenta e desagradável do mundo.
—Você vai falar, querida. Sabe disso. Por que não adianta o processo?
—Vá se foder.
Ele assumiu o controle de uma espécie de alavanca, que estava ligada à roldana. Girou-a e minhas unhas começaram a ser puxadas pelos ganchos. Gritei ao senti-las sendo puxadas da minha carne, ao ver o sangue pingando no chão. Elas foram arrancadas, uma por uma, deixando aquela região em carne viva. Senti meus vasos latejarem, a cabeça repetindo a dor em meus dedos. Perdi cinco unhas de uma só vez, esfaqueada e não comi nada em dias. Vocês devem imaginar o que aconteceu em seguida.
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Os Dons de Lithia: Entre o Amor e a Guerra
RomanceDe quantos recomeços é feita a vida? O que é mais difícil: a guerra do coração ou da nação? Kaya Dagenhart é uma soldada do Exército de Lithia, um reino rico e cheio de histórias envolvendo anjos e nefilins. Sempre teve certezas sobre tudo na vida...