Capítulo 47 - Encomenda

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.•**•..•**•..•**•..•*KAYA*•..•**•..•**•..•**•.

                     1 ANO DEPOIS

   Acho que todos aqueles ditados estavam certos: o tempo cura. Na verdade, o tempo traz consigo a cura. Você consegue se adaptar à situação, consegue pensar e enxergar as coisas com melhor clareza. Bem, pelo menos comigo foi assim.

   Um ano se passou e eu acompanhei o crescimento da minha filha: primeira refeição sozinha - uma sujeira só na cozinha -, primeira palavra - que foi "Mama", claro, e gerou muita confusão -, primeiros passos, primeira conversa - nós, pais, conseguimos entender o diálogo na língua dos bebês. Minha menina ficava cada dia mais linda. Parecia muito com Pietro e, ao mesmo tempo, comigo. Tinha os olhos dele e os cabelos iguais aos meus, era teimosa e corajosa. Mal andava e falava e eu já distinguia suas qualidades e defeitos.

   A cidade se reconstruiu. Demorou muito mas conseguiram. Rainara montou sua tenda, Ethan conseguiu a casa de volta, um pouco maior, além de um subsídio do reino pela ajuda na guerra. Pietro enviou toda ajuda necessária mas não pisou na nossa casa. Não veio uma vez sequer ver nossa filha. Parei de procurá-lo para enviar notícias, especialmente depois de sua coroação, que foi grandiosa. O povo tinha esperanças nele, talvez por conta da recuperação do reino e pelos novos acordos com Trenit e Renith. Carlos morreu cerca de dois meses depois, no auge da incapacidade. Não sabíamos sobre Amaya.

   Ethan conseguiu um emprego em uma loja de tecido. Descobriu que José morreu durante a guerra e ficou mal por um tempo. Nosso recomeço foi do pó e demorou para se concretizar. Eu ajudava Rainara, fazia doces e pães para colocar na tenda e cuidava de Dalila. Gastamos o subsídio pós-guerra quase imediatamente. Precisávamos de um berço novo, cortinas e lençóis, panelas e comida; tudo. O desespero nos tomou várias vezes e brigamos bastante nos primeiros meses. A guerra ainda nos afetava.

   —Bom dia —Disse ele ao passar por mim, pegando um pão na mesa. —Tô atrasado —Deu uma mordida no mesmo e pegou a camisa da cadeira.

   —Lembra de trazer mais trigo e açúcar. Tenho muitas encomendas, não vou sair hoje —Falei, enquanto misturava os ingredientes do pão.

   —Tudo bem —E aproximou-se de Dalila, que estava sentada no chão, brincando. —Um beijo? —Abaixou-se ao seu lado e virou a bochecha para ela. Dalila esticou-se e encostou os lábios no rosto do pai. Ele sorriu. —Não irrite sua mãe, ok?

   Dalila soltou um gritinho de alegria, exibindo quatro dentinhos. Sorri de canto.

   —Se cuidem —Disse e saiu.

   Preparei a massa, enrolei-a até ter o formato que queria e coloquei na forma. Tirei o caldeirão com água do fogo e testei a temperatura. Ideal para o banho.

   —Mama! —Chamava ela.

   Peguei o caldeirão e coloquei a água na sua pequena banheira. Peguei Dalila do chão.

   —Vamos tomar um banho?

   Fui até o banheiro, tirei sua roupa e coloquei-a na banheira. Ela sempre ficava empolgada, jogava água para todos os lados e ria de tudo. O melhor som do mundo era sua risada. Cutuquei sua barriga e ela sorriu, dando aqueles gritinhos. Esfreguei o sabão por seu corpo enquanto ela emitia sons desde sílabas repetidas até imitações de algo que eu disse. Conversamos sobre como ela tinha dormido e o que queria fazer no restante do dia. Eu levava Dalila comigo para a tenda quando ia, deixava agarrada a mim por um pano que amarrava em mim mesma. Ela não parava quieta então sempre tinha que variar na distração. Mas eu me virava. Não ia parar de trabalhar e não ia deixar minha filha com desconhecidos. Eu, Rainara e Ethan alternávamos no cuidado. Até agora, tudo estava bem.

Os Dons de Lithia: Entre o Amor e a Guerra Where stories live. Discover now