Capítulo 22 - Pelo reino

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.•**•..•**•..•**•..•*KAYA*•..•**•..•**•..•**•.

   Um cheiro horrível inundou meu sentido. Talvez foi por isso que eu acordei. Uma dor excruciante na minha cabeça fez minha visão entorpecer. Xinguei baixinho. As imagens começaram a tomar forma e meus sentidos se aguçaram. Manchas escuras me rodeavam, além de facas, martelos, tesouras, alicates e outros instrumentos de tortura. Notei que o cheiro insuportável vinha de um corpo jogado num canto da sala. Ele estava em processo de decomposição, vários cortes desenhando seu corpo. Meu estômago revirou.

   Eu mal sentia meus braços por conta da posição em que estava. Correntes pesadas me prendiam a uma cadeira. Ótimo. Me remexi, na esperança de me libertar das correntes. Óbvio que não funcionou.

   Acho que perdi muito sangue, já que me sentia fraca. Mas apenas duas coisas me preocupavam: Onde eu estou? O que aconteceu com os outros?

   A porta foi aberta. Lentamente, um homem esgueirou-se. De alguma forma, ele parecia assustado.

   —Ela acordou! —Gritou para o lado de fora.

   Ele entrou e posicionou-se a uns dez passos de mim. Usava um traje escuro e ostentava uma espada. Ótimo. Renithiano.

   Outro homem entrou. Este estava mais arrumado, com um traje mais claro e com algumas medalhas penduradas em seu peito. Sua espada era maior, seu ego também. Abriu um sorriso convencido.

   —Dormiu bem?

   Seus olhos eram extremamente frios. Cicatrizes tomavam seu rosto. Eu já queria matá-lo.

   —Vejo que sim —Suspirou e aproximou-se da mesa de ferramentas. —Precisamos conversar.

   Ele tirou a espada da bainha e a colocou em cima da mesa. Aproximou-se de mim.

   —Onde está o seu rei? —Passou a mão por meu cabelo.

   O nojo me fez dar uma cabeçada nele. O homem xingou baixinho e passou a mão pela região avermelhada em sua testa.

   —Não deveria cutucar a onça de tão perto —Falei.

   Ele deu um sorriso sinistro e cerrou os punhos. Achei que ele fosse me bater mas parecer se conter. Não entendi por que.

   —Você também não —E virou-se para o rapaz. —Deixe-a sem comer por três dias. Depois disso, podemos conversar.

.•**•..•**•..•**•NARRADORA*•..•**•..•**•.

    Pietro não dormiu nada nos últimos dias. O esconderijo nos limites da cidade o preocupava. Estava longe de tudo. Seu pai acelerou o treinamento da sua irmã para assumir o cargo e ela não parava o dia todo: lutava, aprendia palavras e ações novas. No fim do dia, Amaya caía na cama e hibernava, chegando a roncar alto. Bem, ela não podia ser perfeita, certo?

   Ele sempre admirou a irmã mais velha. O quão forte ela era, como aguentava tudo com um sorriso, como nunca se queixava. Ela nasceu para brilhar, para comandar. Pietro era grato por ela ser a herdeira, não ele.

   Seus irmãos mais novos não faziam ideia do quanto era perigoso estarem vivos. Luigi e Carter passavam o dia brincando, protegidos de toda a realidade, achando que estavam aproveitando as férias.

    Pietro deixou o quarto em silêncio. Andou com cuidado pelo corredor, com medo de reproduzir qualquer ruído. Não queria incomodar seu pai também, ele andava muito estressado. Os guardas acordaram mesmo com seus passos leves e puseram-se de pé.

Os Dons de Lithia: Entre o Amor e a Guerra Onde histórias criam vida. Descubra agora