Para ele, Kendall Cannes era a própria reencarnação do diabo. Suas íris esverdeadas arrancavam sua lucidez e o atraíam para o obscuro. Mas com um sorriso angelical ela camuflava a maldade e a perversidade em seus lábios.
Kendall Cannes era quente c...
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Até os dezesseis, uma das minhas datas preferidas de todos os anos era o meu aniversário. Aos dezessete, eu estava no velório de Ryan D.Kresth. E aos dezoito, eu me encontrava na Saint Thomás Church, mais uma vez, relembrando o dia de seu falecimento e o de meu nascimento, com os penetrantes olhos castanhos de Nolan fixados nos meus.
— Eu sinto muito — eu disse, quebrando o silêncio entre nós.
Eu vislumbrei uma pequena auréola resplandecente tomando forma em sua cabeça, como a dos anjos que ele observava segundos antes de encarar-me, queimando minhas orbes de um jeito fascinante e quase... cruel.
— Eu também, Kendall — ele respondeu, como se estivesse cometendo um pecado ao ter o meu nome saindo de seus lábios.
Como se esse fosse o oitavo pecado capital.
E pior de todos.
— E porquê você sente muito, Nolan? — questionei, pronunciando o seu nome lentamente.
Que sejamos pecadores juntos, então.
Seus olhos caem em meus lábios e eu deslizo a ponta de minha língua pela superfície inferior, provocando-o intencionalmente.
Eu o sinto engolir em seco.
— Por você não estar comprando vestidos exuberantes e invejáveis ou estar planejando a festa dos seus tão esperados dezoito anos como uma garota normal.
Um sorriso audacioso cresce em meus lábios.
— Um, você já deveria saber que eu não uso vestidos justamente por odiar tanto tecido em meu corpo. Dois, eu não suporto planejamentos e não me importo com festas celebrativas e, três, eu não sou uma garota normal.
Nolan me ignora e ergue o seu olhar, mantendo sua atenção no caracol que transmite as luzes solares para o interior da igreja.
Eu espero por sua resposta durante alguns segundos que mais parecem séculos.
Então seus lábios erguem-se sutilmente.
E o anjo caí.
— Nós não somos normais.
O ar torna-se intenso entre nós. Quase sufocante. Procuro por oxigênio e encontro seus olhos; esqueço do ar em meus pulmões.
— Esse é o nosso destino, certo? — a minha pergunta soa mais como uma declaração.
Seu rosto torna-se inexpressivo mais uma vez, e eu me esforço para desvenda-ló.
— Destino? — ele indaga. — Quando foi que você começou a acreditar nisso? Está lendo horóscopos diários também?
Nolan cede aos desejos de seus pés que imploram para que ele se aproxime e eu sinto o seu calor em meu corpo.
Minhas pernas, por outro lado, congelam.
Pondero se devo implorar por Deus ou correr diretamente para o inferno.
— Eu entrei por esse caminho quando fui a uma livraria e comprei um livro.
Há um rastro de ironia em sua voz quando ele diz: — Agora eu posso morrer sabendo que já ouvi de tudo.
— Subestimou-me tanto assim? — Eu finjo frustração e levo minha mão direita ao peito.
Nolan arqueia uma das sobrancelhas.
— Depois disso? Definitivamente não mais.
Eu encaro-o com o olhar sagaz, exalando o ar de confiança de sempre, que costumara intimidar muitas pessoas, menos ele.
Então eu entro em nossa sádica zona de guerra.
Aleluia.
Oudevodizer "amém"?
— Eu já fiz a minha confissão — com o tom de voz ainda mais baixo, eu o convido para acompanhar-me. — Agora, é a sua vez.
Há um longo silêncio até que ele da o único passo à frente necessário para que somente meros centímetros nos mantenham afastados.
— Você sabe quais são todas as minhas confissões e conhece cada um de meus pecados — ele declara, impassível. — Não faça disso um mistério, Cannes.
Uma sensação angustiante e ardilosa apossou-se de meu estômago quando o meu sobrenome saiu de seus lábios como uma penitência.
E a minha pena de morte.
Eu retribui o seu olhar intenso e deixei a ele milhares de interpretações como resposta quando afastei-me em silêncio, encarando-o uma última vez antes de dar-lhe as costas.
— Minhas singelas felicitações a você, Kendall — Nolan diz, sua voz soando como melodias angelicais em meus ouvidos.
Toquei-me a testa com a ponta dos dedos médio e indicador da mão direita, depois o coração, os ombros e, em seguida, levei-os até os lábios, antes de sorrir diabolicamente para o céu acinzentado de Nova York.
Então eu banhei-me com água benta quando disse, por cima do ombro:
— Meus pêsames a você, Nolan.
(...)
— Eu gostaria de fazer dois brindes para tornar esse dia ainda mais especial — Megan discursa, depois de todos terem exclamado em uníssono a palavra 'surpresa' quando eu adentrei a casa de meus pais, antes de tocar a taça em sua mão com uma pequena adaga afiada que fizera o tilintar ecoar pelos ouvidos, atraindo os olhares para si ao erguer o cristal em minha direção. Seus olhos azuis tornaram-se escuros ao fixarem-se nos meus. — O primeiro, a Kendall Cannes, uma garota promíscua, sem escrúpulos e insignificante que completara mais um ano de vida. — Ela então direciona a taça para Nolan, e eu sinto o seu olhar intensificar-se sobre ele. — E o segundo, a Nolan D.Kresth, meu amado infiel. Não há nada mais puro do que belo pecado de vocês.
Seu tom de voz é tão cortante quanto as reações pasmas e os olhares espantosos de todos que logo encaram-me com desgosto diante de suas palavras. Mas permaneço inexpressiva, com a cabeça erguida e o semblante fechado enquanto observo Megan aproximar-se de Nolan com pequenos passos.
— Você é incurável, Nolan. Impetuoso. Quebrado. Lancinante. Sem uma esperança vital e com um poder quase mortal de incendiar tudo e a todos que estiverem ao seu alcance. É vazio e incapaz de se importar com o estrago ou com a dor que causara. Você é terrível. Cruel. Mas apenas finge ser inabalável, porque esse é o seu jeito de fugir dos demônios quando você tem medo de enfrentá-los. E a verdade é que, no fundo, você é simplesmente um covarde. — Ela reage, sem demonstrar fraqueza. — E eu não serei mais um reflexo patético do que me tornei por você.