Capítulo 41 - Cásper

20 5 0
                                    

Meus olhos percorrem aquele grande prédio, o mesmo prédio onde nasce uma vida, é o mesmo que mata várias. O hospital... é a onde estou neste momento. E não sei se quero entrar, mas como estou entorpecido, meu corpo me leva até a recepção.

- Olá boa noite, gostaria de visitar o senhor Scoot - digo a recepcionista.

- O que o senhor é dele? – pergunta a mesma olhando fixamente para a tela em sua frente.

- Filho... – a mesma termina de preencher os dados, e logo me entrega a etiqueta de visitante.

Ao chegar à sala onde se encontrava meu pai, eu respiro, penso, entro. Quando olho aquele cara que deveria ser meu pai, entubado, e quase morto, sinto uma vontade imensa de falar tudo que está aqui... Dentro de mim. Ando até a poltrona que fica de frente para sua cama, me sento nela, e começo a pensar...

- Agora é minha vez de falar... minha vez de deixar você na merda, Igual fez comigo - passo minhas mãos por minhas têmporas e logo em seguida atrás da nuca - Lembra quando a mamãe comprou pizza pela primeira vez? Óbvio que não, você estava bêbado. Ela queria que eu experimentasse... mas você chegou em casa bêbado e jogou a pizza no lixo... Ela foi tentar conversar com você, e der repente eu só ouvia gritos de socorro, e pedindo para você parar - meu peito doía e a raiva era expansiva, e qualquer sentira ela de longe - No outro dia ela não saiu do quarto, e você também não... vocês me deixaram com fome naquele dia. Se não fosse a mãe do Liam, eu teria passado fome, ou até roubado alguma coisa. Não que eu não tenha feito isso, mas naquela hora eu faria. Verônica... a única mulher que me amou desde que soube minha vinda. Minha mãe... minha única mãe. Eu nunca dei trabalho quando criança para você... E eu nunca te pedi nada... Na verdade, tirando o dia dos pais que você disse que ia, mas esqueci que naquele dia você estava sóbrio. Você tirou tudo que eu tinha, minha esperança, meus sonhos, e me fez desacreditar o que era amar. Disse que ninguém iria me amar, e que nem mesmo minha mãe me amava. Mas você estava errado - minhas lágrimas começavam a cair descontroladamente. E meu peito subia e descia constantemente. Estava até com medo dele sair por minha boca.

- Você estava errado sobre tudo, tudo que falava para mim era uma mentira. Eu achei ela... Achei minha Verônica... ela me ama pai... Ela me ama como minha mãe amava o senhor, mas ela foi inteligente o suficiente para ir embora antes que eu me tornasse você. Porque no final de tudo... eu sou igual a você. Eu só nunca bati em mulher nenhuma... Mas o medo que tenho de machuca-la é tão grande... que eu desejaria morrer. Mas ela é tudo para mim, tudo o que eu tinha, e tudo que não tenho mais. Dela só me restaram... lembranças e momentos, que por incrível que pareça, são poucas, mas também as mais felizes da minha vida. Eu não sei se um dia amarei outra pessoa como ela... Você pode ter perdido a sua Verônica... Mas eu não perderei a minha. Ela sempre estará viva dentro de mim... Eu fiz meu melhor amigo, dizer a garota que eu amo para ficar longe de mim, tudo isso por medo. E não sei como falar a ela tudo isso que estou sentindo, não agora, porque ela desistiu de mim... Ela fez o que minha mãe não fez... - respiro um pouco, e continuo falando...

- Você... você estuprou uma garota, você abusou dela e depois colocou a culpa em mim... Eu só, tinha quinze anos... eu só tinha quinze fodidos anos. E VOCÊ ME FEZ ACREDITAR QUE A CULPA TINHA SIDO MINHA - levantei da poltrona com os olhos cheios d'água. Fui até a sua cama e cheguei perto dele - Você merece morrer... merece o pior que o inferno pode te dar... Eu, te odeio, te odeio muito... - pego minhas mãos e levo-as direto ao aparelho de oxigênio que faz o mesmo continuar respirando - Você merece morrer, morrer sem ninguém... sem nada, igual ela morreu... ela morreu sem ninguém... e você simplesmente se livrou dela como se fosse um pedaço de merda. E ninguém lembrou dela... eu assaltei, roubei, só para poder comer enquanto você enchia a cara na porcaria do bar... VOCÊ MATOU ELE NA MINHA FRENTE!! VOCÊ ME MATOU POR DENTRO, E ME TRANSFORMOU NUM MONSTRO - na mesma hora em que eu iria tirar a tomada, a porta se abre... E eu me afasto rapidamente...

- Ahhhh!!! - começo a gritar e gritar, para ver se dor que eu estava sentindo passaria... Mas não, ela continuou ali. Eu não sentia meu corpo, e nada funcionava... E não entendia porque ninguém vinha me tirar daquela sala. E como não ouviam meus gritos... Mas, der repente ouço uma voz...

- Cásper... - olho ao meu redor, mas não vejo nada. Mas sinto algo em minha frente, e quando levanto meus olhos para ver quem é...

- Mãe!! - corro até ela e a abraço com força - Mãe!!! - o choro de alivio era algo muito bom, como se fosse disso que eu precisasse. Minha mãe, ela está comigo agora... e nada mais importa.

- Cásper querido, porque estava prestes a matar seu pai? - ela pega em meu rosto, e olha eu meus olhos... O mesmo olhar tranquilo, e inocente de Alasca.

- Ele merecia mãe... ele merece isso e muito mais, ele fez coisas horríveis com a gente, e com várias outras pessoas. Ele matou você mamãe... ele tirou você de mim... - eu a abraçava fortemente com medo dela ir embora novamente. Ela é tudo que eu tenho agora, e é tudo que eu precisava para ser feliz junto com Alasca.

- Não filho, ele não merecia isso, ninguém merece... Ele pode ter sido e feito coisas horríveis, mas você... - ela pega em meu rosto, retirando as lágrimas e os cabelos suados da testa - Você não é ele meu Cásper, você é muito mais, você é muito inteligente, amoroso, e um cara que Alasca ama com todas as forças - espera, como ela sabe dela? - Sim, eu sei dela meu querido. E sei coisas que vocês nem imaginam. E sei que ela te ama...

- Ela está com um cara chamado Benjamin... Ela disse que eu havia à machucado, e que eu não merecia o amor dela...

- Ela sabe a decisão que tomou filho, e ela não estava errada... Ela sabe que fez a escolha errada, mas pensou nela primeiro.

- Eu a amo tanto mamãe... ela tem seus olhos, seu sorriso, seu jeito de ser. Eu achei minha Verônica mãe... Mas a perdi para sempre... E nem pude contar tudo isso, e agora não sei se vou...

- Não perdeu não querido Cásper... Ela está viva em você, assim como você está nela. Só não souberam lidar com isso de uma maneira madura... E sinto muito por isso...

- Eu a amo tanto...

- Ela sabe disso, pode não parecer, mas ela ama.

- Como vou conseguir o perdão dela? Como vou conseguir viver com ela, e mostrar a mesma que eu sou melhor que isso.

- Vá... antes que a porta de seu coração se feche... se permita sentir... Adeus meu eterno filho...

- Que? Não! Não! Não!... 

Be Free - seja o que você nunca foiTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang