CAPÍTULO 19

3.2K 568 64
                                    


ALEXANDER


Ainda era cedo quando saí da casa do pai de Brianna e resolvi visitar o meu.

Em uma situação normal, teria esperado um pouco mais para ir à fazenda por pura covardia. Temia encontrar o sempre invencível Seu Chico em um estado diferente do normal e começar a conversa que já sabia que precisaríamos ter. Uma que – sim, eu também sabia – não seria nada fácil.

Mas talvez eu estivesse com vontade de me torturar depois da noite de merda que passei.

Cruzei os portões da fazenda e segui pela estradinha de barro. Era uma propriedade grande, o orgulho do meu pai. E por muito tempo foi o meu também. Jurei que viveria para sempre naquelas terras, que daria meu sangue por cada hectare, mas minha cabeça decidiu por um caminho diferente.

A faculdade muda a cabeça da gente, minha mãe sempre me falou, mas eu nunca acreditei. Só que ela estava certa.

Não fora apenas por causa da faculdade, é claro, mas a vida na cidade grande me mostrou muitas coisas, principalmente que o mundo era uma selva e que trabalhar por amor e por puro sustento era uma forma muito poética de ver a vida. Apenas isso.

O dinheiro não proporcionava felicidade, como meu pai sempre afirmou, mas eu gostava de tê-lo. Gostava do conforto que garantia. Saberia viver sem ele, mas preferia não ter que tentar.

Além do mais, naquele momento, o dinheiro proporcionava segurança. Se eu tivesse o bastante na época em que minha mãe morreu, ela poderia ter tido uma chance. Depender de saúde pública no país em que vivíamos era quase o mesmo que se entregar à morte.

Mas com Seu Chico as coisas seriam diferentes. Nem que eu tivesse que levá-lo para se tratar na marra.

Saltei do carro e cumprimentei rostos conhecidos, perguntando pelo meu pai. Fui informado de que estava consertando a cerca dos ovinos.

Claro que não estaria tomando um café na varanda, observando o céu ou qualquer coisa calma e pacífica.

Segui para lá e o vi, com dois pregos na boca, martelo na mão, a mesma calça jeans de sempre, a blusa surrada, o chapéu na cabeça para proteger do sol, embora o tempo estivesse completamente nublado, depois da garoa de mais cedo. O cachorro a cercá-lo como um guardião – Godofredo, um Border Collie misturado com vira-lata, com o qual lhe presenteei, há sete anos, alegando que lhe faria companhia. Meu pai resmungou como sempre, dizendo que preferia ficar sozinho, mas eu sabia que se apaixonara à primeira vista, principalmente quando eu lhe disse que uma fazenda que se prezasse precisava de um cão daquela raça.

Primeiro observei-o de longe, não permitindo que me visse. Isto me daria a chance de analisar coisas que não demonstraria se percebesse minha presença. Como o momento em que parou de martelar para respirar um pouco, evidenciando um cansaço que raramente deixava que o abatesse.

Foi quando me aproximei, então. Arranquei o martelo de sua mão, e ele tirou os pregos da boca imediatamente, pronto para resmungar, mas me viu e pareceu surpreso.

A emoção que vi em seus olhos não me passou despercebida, só que ele lutou muito para contê-la, o que provocou um sorriso no meu rosto e uma expressão de repreensão.

Aquele homem nunca iria mudar.

— Por que não avisou que vinha? — falou em um resmungo.

Questões do DestinoWhere stories live. Discover now